Com pandemia, importação cai 10,5% até julho

O Estado de S. Paulo

 

Auxiliares do presidente Jair Bolsonaro na área de comércio exterior assumiram os cargos no início do ano passado repetindo o bordão: “importar é o que exporta”. A frase era uma inversão do título de um programa da ditadura militar – “Exportar é o que importa” – que, a partir de 1967, incluiu o financiamento de exportações e devolução de impostos sobre as vendas ao exterior.

 

Com o objetivo declarado de abrir a economia brasileira e reduzir tarifas de importação, a ideia do atual governo é que a compra de insumos e máquinas do exterior aumentaria a produção brasileira e, por consequência, as exportações.

 

A pandemia do coronavírus, porém, derrubou um dos pilares do mantra. Se as vendas brasileiras conseguiram recuar menos de janeiro a julho (6,4%), sustentadas pelo agronegócio, as importações chegaram a encolher 35,5% no mês de julho, acumulando uma queda de 10,5% nos sete primeiros meses do ano.

 

Depois de um primeiro trimestre atipicamente forte, as compras do exterior começaram a registrar quedas acima de dois dígitos a partir de abril. Considerado o período entre abril e julho, o total apresenta queda de 21% na comparação com o ano anterior. As importações chegaram a US$ 46 bilhões, nível que, nos últimos dez anos, só foi alcançado em 2016.

 

Espelho

 

“A importação é quase um espelho da produção interna e da atividade. Se tem queda na atividade, tem queda na importação”, explica o gerente de Negociações Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Fabrizio Panzini. “Em abril, caiu 99% a produção, teve uma queda de demanda imensa e você não pode continuar produzindo se a perspectiva não é boa.”

 

Entre o produtos mais atingidos estão petróleo e derivados, peças e partes de veículos e máquinas e equipamentos. No caso do petróleo, além da demanda interna ter diminuído, o preço no mercado internacional também caiu, contribuindo para a redução de 58,9% na importação do produto bruto em julho e 71% em derivados manufaturados.

 

“Os primeiros meses da pandemia foram horríveis. A indústria automobilística, que é muito forte no Brasil, ficou 70 dias com a atividade parada. Houve também redução na linha branca. Isso prejudicou muito”, diz o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos (Abimei), Paulo Castelo Branco.

 

Ele afirma que a pandemia fez os importadores segurarem encomendas e acumularem estoques, que só não foram maiores porque, entre janeiro e abril, a China estava com a produção parada e os brasileiros enfrentaram dificuldades em trazer maquinários e outros produtos.

 

Foi o que aconteceu com o empresário Reinaldo Bonilha, diretor executivo do PR2 Group, que representa uma indústria chinesa de máquinas de corte de metal.

 

“No fim de janeiro já tivemos um pré-impacto do exterior, com a paralisação da China. Em março, quando eles voltaram, o Brasil parou. Todo mundo colocou o pé no freio e a queda nas vendas foi praticamente de 95%, ainda mais com o dólar em alta”, conta.

 

Bonilha lembra que os primeiros meses haviam sido ‘atipicamente fortes’, mas que, ainda assim, sua empresa teve queda de 40% no faturamento no primeiro semestre. (O Estado de S. Paulo/Lorenna Rodrigues)