Setor de máquinas agrícolas ignora crise

Diário da Região

 

Com os resultados positivos da safra recorde de grãos, como a da soja, e as exportações que continuam mesmo em meio à pandemia, o agronegócio brasileiro contabiliza investimentos. O setor de máquinas e equipamentos agrícolas, por exemplo, segue aquecido em vendas e negócios de serviços, segundo os revendedores.

 

Apesar da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) indicar uma queda de 10% nas vendas dos produtos no período de março a julho – quando se implantaram as normas de quarentena no país -, em Rio Preto as empresas armam que o mercado tem apresentado até a falta de máquinas, como tratores, para entregar ao produtor. “O mercado está aquecido e, dependendo do produto, nós teremos disponibilidade para entregar ao cliente só no mês de outubro”, disse Osmair Guareschi, proprietário do Mercadão dos Tratores.

 

Guareschi explica que muitos fabricantes de máquinas agrícolas, com a pandemia, diminuíram o ritmo de trabalho, mas o ritmo aos poucos foi retomado. “Nos meses de março e abril nós sentimos que as vendas estavam mais paradas, mas a partir de junho, com as colheitas de várias culturas em expansão, o mercado do setor reagiu bem”, pontua.

 

Na análise de Guareschi, que também é produtor rural e possui plantações de soja, cana-de-açúcar e algodão, as exportações brasileiras cresceram muito tendo em vista que em países como China, Estados Unidos, Japão e Rússia, a paralisação do setor agrícola foi maior com a crise sanitária da Covid-19. Ele lembra que é impossível ao produtor ficar sem máquina agrícola para atender toda a demanda dessa produção. “Nós até ficamos surpresos com o nosso faturamento, que se manteve estável. Aqui na loja só esperamos que as indústrias possam retomar as atividades, e assim atenderemos com maior rapidez os produtores”, arma Guareschi.

 

O gerente da Cooperativa de Produtores Rurais (Coopercitrus), de Rio Preto, André Volfe, avalia que o mercado de máquinas agrícolas, nos últimos dois anos, sofreu com as instabilidades econômica e política no Brasil, razão pela qual havia uma expectativa positiva para este ano, até antes da pandemia. “Se esperava muito de um ano de faturamento alto em 2020, mas com a pandemia, a preocupação foi maior”, comenta André.

 

Mas, segundo o gerente, na região de Rio Preto e dos municípios do Noroeste Paulista, os agricultores mantiveram a não só a procura pelas máquinas e equipamentos agrícolas, como também dos serviços, das vendas de peças e de insumos comercializados pela Coopercitrus. “Com muitas plantações de cana-de-açúcar na região e com a mudança do Plano Safra, que proporciona financiamento para o produtor rural, as vendas nestes meses de pandemia foram mantidas.”

 

André destaca ainda que a Coopercitrus – uma empresa de Bebedouro com 63 lojas nos estados de São Paulo, Goiás e Minas Gerais – a realização, no mês passado, da feira de agronegócio “Coopercitrus Expô Digital”, que superou a expectativa de vendas de máquinas e atingiu a marca de R$ 1,3 bilhões em negócios fechados. “Foi a primeira feira virtual do mundo. Da sua casa e de modo virtual, o participante pode ‘caminhar’ pelos estandes, realizando negócios”, conta.

 

Na Itaeté Máquinas de Rio Preto, o diretor Mauro De Stefani, diz que o setor sucroenergético gerou maior apreensão em razão dos impactos iniciais da crise gerada pela pandemia. “A preocupação maior ocorreu no início da pandemia, principalmente devido à queda no consumo de combustíveis”, explica. Porém, Mauro diz que agora o cenário já é de normalidade, inclusive para o setor canavieiro, o que também resulta na estabilidade das vendas de máquinas.

 

Demanda impulsiona

 

Para o consultor do Sebrae de Rio Preto Guilherme Nunes Tresso, embora o movimento no comércio tenha sido muito afetado com o isolamento social, a necessidade de atender às demandas dos agricultores deve impedir uma redução drástica de vendas do setor de máquinas agrícolas no país, no decorrer do ano.

 

Guilherme explica que existe a expectativa de uma redução no volume de vendas, de acordo com entidades do setor, entre 5% e 10% com relação ao ano anterior, “porém essa baixa redução se deve ao fato de que o setor apresentou um bom início de ano, superando as projeções de vendas, em especial até meados de maio”.

 

Esse resultado decorreu do funcionamento normal das fábricas até o mês de abril, o que garantiu o fornecimento ao produtor, de acordo com o consultor do Sebrae. “Soma-se a isso o fato de as vendas estarem aquecidas por conta do período de colheita, alavancadas pela safra recorde da soja e os bons preços previstos para o milho”, diz Guilherme, ao analisar ainda que embora o início do ano tenha sido positivo, os dados devem ser avaliados com cautela.

 

Compra exige investimento e planejamento

 

Os investimentos em máquinas e equipamentos são estratégicos para o produtor e envolvem altos custos. Há equipamentos que podem ultrapassar os R$ 2 milhões. O agricultor Marcelo João Arruda diz que não foi a pandemia, durante a safra deste ano, que o impediu de investir em maquinário, mas o fato de não conseguir expandir a área plantada de soja.

 

Em Santa Adélia, Marcelo plantou 200 hectares de soja e 200 hectares de amendoim. “Para investir em máquinas, preciso de maior área para plantar os produtos, o que não foi possível ainda.”

 

O ano agrícola para Marcelo foi muito bom, com as exportações da soja e a alta do dólar. Ele diz que a rentabilidade para o produtor, em 2020, superou todas as expectativas. “Deu tudo muito certo, o clima ajudou com as chuvas na hora que precisávamos e os preços da soja também foram melhores que os das safras passadas.”

 

O desafio para Marcelo e os produtores de uma forma geral é o custo dos equipamentos. Uma das alternativas é alocação de maquinários. Para o produtor André Luis Seixas, uma boa saída para se gastar menos e otimizar custos. “Uma vez por ano, num período de apenas um mês, utilizo máquinas alugadas para fazer a colheita de soja”, arma.

 

O custo do aluguel com a máquina agrícola, segundo André, chega a ser menor do que a parcela de um pagamento para a compra do equipamento novo. “É preciso ponderar, pois alguns equipamentos precisamos adquirir, não tem como depender de terceiros”, diz André.

 

Impacto

 

Conforme o diretor da Usina Vale, de Onda Verde, Paulo Ricardo Gomes Júnior, o impacto econômico da pandemia influenciou nas decisões de novos investimentos. A compra de máquinas foi deixada de lado inicialmente, mas nos últimos dois meses, com a safra da cana-de-açúcar ainda em produção alimentada pela demanda de mercado por açúcar, a usina voltou a investir em equipamentos. “Creio que o mercado de máquinas está aquecido para quem está mais estruturado.”

 

Segundo Paulo, a Usina Vale recorre à terceirização, seja de máquinas ou de funcionários, apenas em casos pontuais e sazonais. Em geral, a aquisição estratégica de maquinário novo é o mais usual. Ele considera que a safra de cana, que deve terminar no nal do mês de novembro, deve ser 3% maior que a safra anterior. “Mesmo com a falta de chuvas, enfrentando uma seca severa, e por conta da pandemia que diminuiu preços do etanol, ainda podemos considerar este ano satisfatório”, conclui Paulo. (Diário da Região/Cristina Cais)