Ônibus tem atraído mais passageiros que metrô em Nova Iorque e é visto como solução na retomada em meio à pandemia

Diário do Transporte

 

De acordo com levantamento do The New York Times, pela primeira vez em mais de 50 anos, mais pessoas estão preferindo os ônibus e a demanda já ultrapassou a do metrô. Novas faixas e preferência em semáforos ajudam a explicar

 

“Simples faixas de ônibus” foram suficientes para deixar sistemas mais atraentes

 

O ônibus tem sido o meio de transporte coletivo preferido dos nova-iorquinos na retomada das atividades econômicas em meio à pandemia da Covid-19 e a demanda de passageiros ultrapassou a do Metrô.

 

De acordo com uma extensa reportagem sobre o assunto trazida pela edição de 06 de julho de 2020, pelo The New York Times, um dos jornais de maior influência e circulação no mundo, no auge da pandemia do novo coronavírus o número médio diário de passageiros em abril e maio foi de 444.000 no metrô e 505.000 nos ônibus. E a tendência tem se confirmado.

 

É a primeira vez que isso acontece desde que as autoridades de transporte começaram a manter esses registros há mais de meio século.

 

Se no Brasil, na pandemia, o ônibus é visto como vilão, em Nova Iorque, tem sido encarado como solução.

 

A matéria tem o título, com tradução livre, “Por que os ônibus de Nova York estão em ascensão em uma cidade do metrô”.

 

Segundo a reportagem assinada por Christina Goldbaum e Winnie Hu, com colaboração de Nate Schweber, os ônibus mantiveram a liderança mesmo quando a cidade de Nova Iorque começou a reabrir após um período de paralisação de três meses e mais passageiros voltaram ao trabalho. A contagem média diária em junho foi de 752.000 passageiros no metrô – e 830.000 passageiros no ônibus.

 

A malha de ônibus de Nova Iorque é uma das mais completas do mundo, mesmo que ofuscada na mídia pelo metrô.

 

De acordo com as entrevistas feitas com passageiros e especialistas, são várias razões pelo fato de mais pessoas estarem preferindo o ônibus.

 

Uma delas é logicamente sanitária. Os ônibus são menos lotados que o Metrô e os passageiros podem aguardar o transporte em ambiente aberto.

 

Outra razão é que os ônibus chegam a locais que não são atendidos pelo Metrô. Sim, o badalado Metrô de Nova Iorque não é onipresente como muitos acreditam.

 

Mas um dos principais fatores é que mesmo com toda a malha de Metrô, a prefeitura de Nova Iorque decidiu investir em faixas e corredores de ônibus, os tornando mais atrativos e rápidos.

 

“O prefeito estava sob crescente pressão de defensores e motoristas de ônibus para criar mais vias antes da pandemia, e o surto intensificou o foco em como o melhor transporte público pode reduzir o tráfego de carros, à medida que a cidade retoma lentamente a vida normal e mais pessoas voltam ao trabalho.

 

A cidade abriu uma passagem de ônibus no outono passado na 14th Street, em Lower Manhattan, que aumentou significativamente a velocidade e o número de passageiros de ônibus. Antes da pandemia, o tempo médio necessário para concluir uma viagem havia caído 36%. O número de passageiros durante a semana aumentou 19% e até 25% na hora do rush da manhã.” – diz trecho da matéria.

 

Mas, como acontece no Brasil, por exemplo, os espaços para ônibus provocaram uma choradeira de comerciantes e empresários locais, que defendem os carros e o metrô que passa sob seus estabelecimentos, sem os “atrapalhar”.

 

Ao longo de décadas, os ônibus foram colocados de lado nos investimentos em mobilidade, tendo como o grande receptor de recursos, o Metrô. A qualidade foi piorando e os passageiros sumindo.

 

Mas ao receber investimentos, mesmo que modestos, e num momento de emergência, o sistema de ônibus respondeu bem.

 

De acordo com um dos especialistas entrevistados, a versatilidade dos ônibus pode explicar a reação positiva.

 

“Este pode ser o começo de um retorno para os ônibus”, disse Joseph P. Schwieterman, professor de serviço público da Universidade DePaul. “Os ônibus são versáteis em tempos de crise. Eles servem uma gama maior de passageiros do que trens. Enquanto as agências de transporte compram moedas de um centavo para parar o fluxo de tinta vermelha, o ônibus pode ocupar o centro do palco”.

 

Em Seatle e Los Angeles, os ônibus também ganharam importância na pandemia e, de acordo com a vice-presidente sênior da Regional Plan Association, Kate Slevin, investimentos que deixem a velocidade dos ônibus maior são uma questão de saúde pública.

 

Além de mais faixas para ônibus, Nova Iorque investiu em um programa que prioriza os coletivos nos semáforos em 1.025 cruzamentos, ou 13% de todos os existentes nos itinerários. (Diário do Transporte/Adamo Bazani)