PIB cai 1,5% no 1º trimestre e indica maior retração da história

O Estado de S. Paulo 

 

Mesmo com reflexo apenas na segunda quinzena de março, a crise provocada pelo novo coronavírus teve forte influência na economia brasileira no primeiro trimestre e fez o PIB brasileiro encolher 1,5% no período, ante o quarto trimestre de 2019. Analistas preveem um tombo de 12% de abril a junho e uma queda de 6,5% no fechamento de 2020, a maior retração da história. A crise é inédita porque derruba, ao mesmo tempo, oferta de trabalho, produção e consumo. O setor de serviços, que responde por 74% da economia, caiu 1,6% no trimestre. A indústria recuou 1,4%. A alta de 0,6% na agropecuária, que pesa 5% na economia do País, foi insuficiente para fazer a atividade como um todo avançar. No lado da demanda, o consumo das famílias, componente de maior peso no PIB, encolheu 2,0%, maior queda desde o terceiro trimestre de 2001, quando o governo teve de impor racionamento da energia elétrica. Ao avaliar o resultado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu uma trégua e disse que é “cretino atacar o governo” neste momento, sob pena de “o barco naufragar”.

 

A pandemia de covid-19 atingiu em cheio a economia brasileira apenas nos últimos 15 dias do primeiro trimestre, mas foi o suficiente para o Produto Interno Bruto (PIB, valor total de tudo o que é produzido no País em determinado período) encolher 1,5% ante o quarto trimestre de 2019, informou ontem o IBGE.

 

Foi a maior queda desde a recessão de 2014 a 2016, seguida de uma lenta recuperação, ao ritmo de crescimento médio perto de 1,0% ao ano. E o pior ainda está por vir – analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, após a divulgação dos dados de ontem, estimam que o PIB deste segundo trimestre caia 12,15% em relação ao primeiro, levando a um tombo da economia de 6,5% em 2020, maior retração anual da história.

 

Com a adoção das primeiras medidas de isolamento social a partir do dia 16 de março, um cenário de shopping centers e restaurantes fechados, aeroportos vazios, grandes cidades sem engarrafamentos e cinemas às moscas apontava para uma economia parada. Desde então, economistas vêm explicando que a crise é inédita porque derruba, ao mesmo tempo, e com efeitos em cadeia, tanto a oferta de trabalho, afetando a produção, quanto a demanda, ou seja, o consumo.

 

A derrubada simultânea já foi vista no primeiro trimestre. Pela ótica da oferta, o setor de serviços, que responde por 74% da economia, caiu 1,6% em relação ao quarto trimestre de 2019, enquanto o PIB da indústria recuou 1,4%. A alta de 0,6% na agropecuária, que pesa 5% na economia, foi insuficiente para fazer a atividade como um todo avançar. No lado da demanda, o consumo das famílias, componente de maior peso no PIB, encolheu 2,0% em relação ao quarto trimestre de 2019, maior queda nessa base de comparação desde o terceiro trimestre de 2001, quando houve o racionamento da energia elétrica.

 

O isolamento social impediu as pessoas de saírem para consumir, e o movimento tende a perdurar, à medida que empresas que viram seu faturamento despencar demitam mais e mais. Apenas no acumulado de março e abril, foram fechadas 1,1 milhão de empregos formais. Quando se considera também o trabalho informal, 5 milhões já ficaram sem trabalho até abril.

 

Para Bráulio Borges, economista da LCA Consultores, a entrada do País em uma nova recessão preocupa mais pelo lado da redução do potencial de crescimento – ou seja, o ritmo no qual uma economia consegue crescer sem gerar desequilíbrios, como inflação: “Pessoas já desempregadas há muito tempo podem ficar desempregadas por ainda mais tempo, levando a economia a perder capital humano. Se as políticas de apoio não forem bem desenhadas, poderá haver destruição de capital.” (O Estado de S. Paulo/Vinicius Neder, Daniela Amorim, Mariana Durão, Cícero Cotrim e Thaís Barcellos)