O Estado de S. Paulo/Jornal do Carro
Fãs de automóveis clássicos certamente vão ter opiniões divididas diante dessa notícia. A empresa alemã eClassics faz restauração completa de modelos antigos da Volkswagen, com componentes originais. Até aqui, tudo bem – várias oficinas no Brasil também. Mas é a partir deste ponto que a polêmica pode se instaurar. O “e” minúsculo antes do “Classics” significa que a parte mecânica original foi substituída por um sistema elétrico, inclusive o motor.
É isso que a eClassics fez com a reluzente Kombi de 1966 produzida na Alemanha que ilustra essa página. O exemplar das fotos curtiu a vida nas praias na Califórnia, nos Estados Unidos. Mas as viagens com surfistas e pranchas pela costa oeste norte-americana ficaram para trás.
A van voltou à sua terra natal, onde o motor boxer refrigerado a ar e movido a gasolina também virou coisa do passado. Para alguns, trata-se de heresia. Para outros, do casamento perfeito entre tradição e tecnologia.
Essa Kombi é o trabalho mais recente da eClassics, que, além de fazer o serviço completo, vende kits elétricos ou os instalação nos carros de clientes. A unidade utilizada na Kombi é conhecida como T1 Samba. T1 refere-se à primeira geração da van na Alemanha. Samba era o nome da versão de topo.
Entre os destaques havia oito pequenas janelas no teto (quatro de cada lado) e teto solar de lona, além de pintura em duas cores (tipo de acabamento conhecido como “saia e blusa”). Apesar do nome sugestivo, esse modelo não chegou a ser produzido no Brasil. Trata-se de um puro samba alemão.
Na Alemanha, aliás, o modelo ganhou o apelido de Bulli, e sua versão elétrica, eBulli. Enquanto isso, no Brasil a van adotou a simplificação do nome original, K om bina tionsfahrzeug( veículo deus o combinado, multiuso) evirou apenas K ombi.
O exemplar único da eClassics seria apresentado na feira Techno Classica 2020, na Alemanha. O evento estava marcado para ocorrer na semana passada, mas foi cancelado por causa da pandemia da covid-19.
Apesar do visual setentão (a Kombi foi lançada na Alemanha em 1950), quando o motorista pisa no acelerador a van pula de milênio. O motor elétrico gera o equivalente a 83 cv, quase o dobro dos 44 cv originais.
Se a potência não chega a dobrar em relação à do quatro cilindros a gasolina, o torque sobra. São 21,6 mkgf entregues instantaneamente (uma das características dos carros elétricos), ante 10,4 mkgf do boxer. Isso se traduz em agilidade nas arrancadas e retomadas de velocidade.
A eBulli vai a 130 km/h (a van original não passa de 105 km/h. E poderia superar essa marca, mas a máxima foi limitada eletronicamente, para preservar a energia da bateria. As informações são da eClassics.
O câmbio tem apenas uma marcha. Na cabine, a propósito, a alavanca de transmissão é um dos poucos sinais de modernidade desta Kombi. Em vez da longa haste fixada no assoalho, o modelo elétrico tem uma alavanca idêntica à dos carros modernos da Volkswagen.
Assim como na Kombi “normal”, o motor elétrico e a transmissão estão na traseira da van (a tração também é no eixo de trás). De acordo com dados da empresa de transformação, a bateria de íons de lítio de 45 kWh no centro do assoalho oferece autonomia superior a 200 km. E 80% da recarga pode sr feita em 40 minutos em um carregador rápido de 50 kW.
As alterações feias na eBulli não se resumem ao sistema de propulsão. A atualização inclui suspensão, direção e freios. Para resultar em uma experiência de condução contemporânea (e adequada à maior potência do motor), a suspensão é independente nas quatro rodas. E os amortecedores são ajustáveis. Com isso, a estabilidade melhorou bastante.
A direção, com pinhão e cremalheira, é muito mais precisa que o arcaico sistema de rosca sem fim do modelo original. Quem já dirigiu uma Kombi sabe bem o que é isso. Aliás, tem quase a mesma idade do carro a piada sobre “a direção da Kombi não ter folga, mas férias”. Os freios, por sua vez, evoluíram para o Século 21 com a adoção de discos ventilados em todas as quatro rodas.
No visual a eBulli também ganhou algumas atualizações. Os faróis são de LEDs e há luzes de uso diurno. O assoalho de madeira lembra o piso de barcos. Há botão de partida e o velocímetro analógico recebeu visor digital. O aparelho de som preservou o estilo retrô (como todo o carro), mas recebeu tecnologia moderna. No teto há uma tela digital, que pode exibir até imagens do navegador GPS.
Na Alemanha, uma Kombi como essa custa ¤ 64.900 (cerca de R$ 370 mil, na conversão direta). Para comparação, o elétrico Modelo 3 (carro mais barato da norte-americana Tesla) sai pelo equivalente a R$ 250 mil na Alemanha. Mas nem de longe tem o mesmo charme. (O Estado de S. Paulo/Jornal do Carro/Hairton Ponciano)