Estado de Minas/Vrum
Conter a disseminação da doença e adequar o estoque ao novo cenário leva montadoras a adotar regime de férias coletivas. Até a terceira semana de março, setor registrou aumento de 9% na produção
A pandemia do coronavírus começou a afetar de forma mais enfática o parque industrial automotivo brasileiro a partir desta semana. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes e Veículos Automotores (Anfavea), todos os fabricantes de automóveis já interromperam ou estão prestes a paralisar temporiamente a produção.
A Anfavea ainda não tem parâmetros para medir o impacto que o coronavírus vai impor ao mercado automotivo, que até a terceira semana de março registrou um aumento de 9% na produção em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com a associação, além da necessidade de proteger seus funcionários e conter a disseminação da doença, também não há necessidade de aumentar os estoques. Com as concessionárias fechadas, a média de carros em estoque entre a fábricas e as revendas é o bastante para abastecer o mercado por 40 dias.
A Chevrolet foi a primeira a interromper a produção em uma de suas fábricas no Brasil, na última sexta-feira (20), a unidade de Gravataí (RS), de onde “saem” nada menos que os dois modelos mais vendidos do mercado nacional, o hatch Onix e o sedã Onix Plus. Na segunda-feira (21), outras quatro plantas industriais da marca tiveram as operações paralisadas: São Caetano do Sul, Indaiatuba, Mogi das Cruzes (todas em SP) e Joinville (SC). Ontem, a Chevrolet, que detém 20% da produção nacional de automóveis, paralisou a fábrica de São José dos Campos (SP).
A Volkswagen suspendeu a produção de veículos em todas as fábricas do país no início da semana. A princípio, a medida é válida por três semanas. De acordo com o fabricante, até 30 de março, os empregados da área administrativa continuam em trabalho remoto e os empregados da linha de produção em banco de horas. A partir de 31 de março, os empregados estarão em férias coletivas por duas semanas.
A Ford também começou a suspensão temporária da produção nas fábricas do Brasil – Camaçari (BA), Taubaté (SP) e na unidade da Troller em Horizonte (CE) – na segunda-feira (23). A retomada das atividades está programada para 13 de abril. “A medida tem como objetivo principal manter os funcionários em segurança e ajudar a limitar a propagação do vírus, além de ajustar os volumes de produção à redução na demanda dos consumidores gerada por essa situação sem precedentes”, explica o fabricante.
A Fiat Chrysler Automóveis (FCA) iniciou a diminuição gradual da produção em suas fábricas no Brasil –Betim (MG), Goiana (PE) e Campo Largo (PR) – na última sexta-feira (20), e a paralisação total de todas essas unidades começou na segunda-feira (23). As atividades serão retomadas em 21 de abril.
Prevista para hoje, a Renault do Brasil antecipou para segunda-feira (23) a suspensão na produção em São José dos Pinhais (PR). A decisão vai até 14 de abril. O Grupo PSA, que no Brasil responde pelas marcas francesas Peugeot e Citroën, também interrompeu a produção em sua fábrica de Porto Real (RJ) no início da semana. A produção será reiniciada em 21 de abril, mas depende da situação da doença no país.
Já a Toyota suspendeu a produção nas quatro plantas industriais do país – São Bernardo do Campo, Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz (todas no estado de São Paulo) – a partir de ontem, com retorno previsto para 6 de abril. “A paralisação se deve no sentido de atenuar os riscos à saúde de nossos colaboradores e de seus familiares, associada ao quadro de incerteza do mercado brasileiro no curto prazo, além das dificuldades na cadeia logística e de suprimentos, que devem se agravar nas próximas semanas”, avaliou o fabricante, que também colocou em trabalho remoto o máximo de colaboradores das áreas administrativas possível, cuidado obrigatório para pessoas de grupos de risco.
A Nissan suspendeu temporariamente a produção em sua fábrica de Resende (RJ) a partir de hoje. “Esta medida se soma ao esforço de todos para conter a proliferação da pandemia da COVID-19, além de, também, ajustar os estoques a nova realidade de demanda local”, informou o fabricante, que tem previsão de retorno no dia 22 de abril. A Jaguar Land Rover também suspendeu temporariamente a produção na fábrica de Itatiaia (RJ) a partir hoje, com retorno programado para 27 de abril.
A Honda Automóveis comunicou que vai interromper as atividades produtivas em Sumaré e Itirapina (SP) de hoje até 14 de abril para “ajustes devido ao impacto da pandemia da COVID-19”. Os colaboradores envolvidos diretamente no processo produtivo entrarão em férias coletivas, enquanto os que desempenham atividades administrativas vêm adotando o regime de home office. Para funções em que não é possível o trabalho remoto, está sendo praticado o escalonamento da equipe.
A Hyundai Motor Brasil está fechada desde o início da semana, mas, a partir de amanhã, tanto a fábrica em Piracicaba como os escritórios em São Paulo (SP) entrarão em férias coletivas até 9 de abril. Apenas atividades essenciais serão mantidas, e a prorrogação das medidas serão avaliadas conforme o desenvolvimento da pandemia.
A BMW anuncia a suspensão temporária da planta de Araquari (SC) a partir da próxima segunda-feira (30), com retorno previsto para 22 de abril. De acordo com a marca alemã, até lá, a fábrica segue operando com todas as práticas de saúde e segurança, dentre elas o aumento da higienização dos ônibus de transporte de colaboradores, que são de uso exclusivo da empresa, recomendação de espaçamento de um metro e meio entre as pessoas, além do fechamento da lanchonete e outras áreas para evitar aglomeração.
Cadeia produtiva
Fornecedores, como a Pirelli, também “entraram na dança”. O fabricante de pneus interrompeu temporariamente a produção nas três unidades produtivas do Brasil já no início da semana. Além da emergência relativa à COVID-19, a Pirelli optou pelas férias coletivas devido a uma significativa queda da demanda do setor automotivo. A empresa garante que o fornecimento aos clientes continuará com a utilização do estoque disponível.
Garantia
Sem concessionárias, sem manutenção do veículo. Como respeitar as revisões é uma condição indispensável para que o fabricante honre a garantia de fábrica, alguns já se prontificaram a flexibilizar essa política. A Kia Motors do Brasil ampliou as tolerâncias de excesso de quilometragem e de tempo para todo o plano de revisões periódicas pelos próximos três meses. A BMW também estendeu o prazo de garantia e manutenção dos veículos por até 30 dias para os modelos cuja garantia contratual vence entre 23 de março e 24 de abril. Avisos de manutenção com limite para realização no período citado também terão tolerância ampliada.
Mas nem todas as concessionárias podem parar. É o caso das que prestam serviço para frotistas e caminhoneiros. A Volkswagen Caminhões e Ônibus anunciou que sua rede de concessionários autorizados está em permanente plantão com o objetivo de contribuir para a normalidade do transporte de passageiros e o abastecimento em todos os segmentos da economia.
“Cada empresa deve fazer a sua parte. Começamos por proteger nossos colaboradores, reduzindo nossos times a serviços emergenciais e plantões. Agora a prioridade é garantir que medicamentos e mercadorias continuem a chegar a farmácias, hospitais, supermercados e outros pontos comerciais, que continuarão funcionando nesse período de crise, além da manutenção no transporte de passageiros, muito deles que estão na linha de frente em serviços essenciais, como os profissionais da saúde”, disse Roberto Cortes, presidente e CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus. (Estado de Minas/Vrum/Pedro Cerqueira)