Montadoras da região paralisam e especialistas enxergam crise

Diário do Grande ABC

 

Com o avanço dos casos confirmados de Covid-19 em todo o País, as cinco montadoras com fábricas no Grande ABC anunciaram oficialmente a paralisação da produção. Após sofrer consequências por causa da crise econômica dos últimos anos, especialistas projetam que o setor deve passar por um período difícil, com retração na produção e nas vendas. As fábricas empregam aproximadamente 28 mil trabalhadores na região.

 

Ontem, a Toyota e a Scania, as únicas fabricantes que ainda não tinham optado pela parada, divulgaram oficialmente a adoção de férias coletivas. De acordo com informações da Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores), na noite de ontem, 35 das 65 fábricas das associadas anunciaram a paralisação em todo o Brasil.

 

“Passamos a semana falando com as empresas e os sindicatos patronais, pressionando pela paralisação das atividades nas fábricas. Neste momento, o que estão em jogo é a saúde e a segurança do trabalhador. Não é possível pensarmos só na recuperação do setor industrial e na economia do País. É preciso resguardar a população, os trabalhadores. Mais à frente são eles que vão garantir a retomada, quando superarmos essa crise”, afirmou o presidente do SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), Wagner Santana, o Wagnão.

 

A GM (General Motors), que já tinha anunciado férias coletivas para o fim deste mês, antecipou a paralisação para a próxima semana. “Com a rápida evolução da pandemia de Covid-19, novas ações vêm sendo tomadas diariamente pelas autoridades em todo o País. Alinhada com a gravidade da situação, a empresa segue tomando decisões em tempo real para proteger ao máximo seus empregados, clientes, fornecedores, concessionários, familiares e comunidades”, informou, em nota,

 

O Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano avisou da mudança na porta da fábrica na tarde de ontem. Mesmo utilizando carro de som, a orientação do presidente da entidade, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, era que os trabalhadores não parassem para evitar aglomerações. “As áreas essenciais vão vir trabalhar e alguns setores farão escalas. Mas, acredito que em torno de 6.000 devem ficar em casa.”

 

Para o coordenador de MBA em gestão estratégica de empresas da cadeia automotiva da FGV, Antonio Jorge Martins, a redução na produção já observada nos primeiros meses deste ano – queda de 20,8% nas fábricas de todo o País, segundo a Anfavea – vai se agravar. “Agora com certeza teremos crise. O público se afastou das ruas. É difícil a venda via internet, principalmente de carros com preços mais elevados”, opinou.

 

O coordenador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Jefferson José da Conceição, afirmou que a saída da situação depende de ajuda do governo. “Esperamos o fim da crise entre maio e junho. A partir daí, seria importante uma política industrial que incentive a produção e o consumo. Para isso é necessário um forte apoio do governo para ações como financiamento a juros baratos, e incentivo à renovação da frota, por exemplo.”

 

Se essa aproximação não acontecer, ele alertou que a atual situação pode se complicar, já que o poder de compra pode diminuir e as empresas não terão faturamento.

 

No País, 35 fabricantes adotam coletivas

 

Mais da metade das fabricantes de todo o País anunciou paralisação da produção de veículos, de acordo com a Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores). Das 65 unidades das empresas associadas, 35 devem parar. Na região, a Scania e a Toyota eram as únicas que não tinham anunciado oficialmente a medida.

 

A montadora japonesa, que possui unidade de produção de peças e reposição de motores em São Bernardo, afirmou que tomou a decisão com base na segurança dos funcionários, além de seguir as diretrizes das autoridades locais. “Nesse sentido, a Toyota do Brasil informa que suspenderá a produção de suas quatro plantas industriais no País a partir do dia 24 de março, com retorno previsto para 6 de abril”, disse, em nota.

 

A Scania informou que vai fazer uma parada de produção e conceder férias coletivas, no período de 30 de março a 13 de abril, para os colaboradores na fábrica de São Bernardo. “Estamos vivendo uma situação excepcional, sem precedentes, e nos últimos dias medidas de contenção da disseminação da Covid-19 impactaram parte da cadeia de fornecimento, o que nos leva a interromper a produção temporariamente”, disse o presidente e CEO da Scania Latin America, Christopher Podgorski.

 

A Mercedes-Benz, a GM (General Motors) e a Volkswagen, também localizadas na região, já haviam informado a medida anteriormente.

 

No país

 

A Fiat Chrysler anunciou que vai reduzir gradualmente a produção das fábricas que tem no Brasil a partir de terça-feira, com interrupção total das operações do dia 30 em diante. As atividades serão retomadas, a princípio, no dia 21 de abril. O grupo produz carros das marcas Fiat e Jeep, com fábricas em Betim, Minas Gerais, e Goiana, Pernambuco, além de motores, em Campo Largo, Paraná.

 

A Renault, que possui unidade produtiva em São José dos Pinhais, também anunciou férias coletivas a partir de 1º de abril, pelo período de pelo menos dez dias. (Diário do Grande ABC/Yara Ferraz)