O Estado de S. Paulo
A tensão voltou a dominar o mercado financeiro ontem, após a OMS declarar pandemia do coronavírus. A Bolsa brasileira chegou a despencar 12%, mas terminou o dia com desvalorização de 7,64%. O dólar subiu 1,62%, cotado a R$ 4,72. As Bolsas de Nova York também fecharam em forte queda. O índice Dow Jones caiu 5,86%. Para enfrentar a crise, os bancos públicos – Caixa, Banco do Brasil e BNDES – terão R$ 207,8 bilhões de recursos para emprestar a empresas e pessoas físicas.
O pânico voltou a dominar o mercado financeiro ontem, depois que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu o coronavírus como uma pandemia. A declaração, embora aguardada, levou a B3 a interromper suas operações pela segunda vez em três dias.
Depois do anúncio, a Bolsa brasileira chegou a cair 12%, mas no fim do dia conseguiu reduzir as perdas e terminou com desvalorização de 7,64%, em 85.171 pontos. No ano, a B3 acumula perdas de 26,35%, o que significa R$ 1,03 trilhão, segundo a Economática. Só a Petrobrás perdeu quase R$ 200 bilhões. No mercado de câmbio, o dólar subiu 1,62% e terminou o dia cotado a R$ 4,72. A valorização da moeda americana ante o real em 2020 está em 17,72%.
As Bolsas de Nova York também intensificaram as perdas na tarde de ontem e o Dow Jones entrou no chamado bear market (mercado de urso), quando os índices caem mais de 20% da máxima histórica, explicou o estrategista-chefe da Davos Financial Partnership, Mauro Morelli. O Dow Jones caiu 5,86%; o Standard & Poor’s 500, 4,89%; e o Nasdaq, 4,70%. “Esse limite indica que os investidores terão de adaptar seu portfólio”, explica Morelli.
Em meio ao clima de estresse, as taxas do Credit Default Swap (CDS) de cinco anos do Brasil, um termômetro do risco país, disparou 40 pontos hoje, batendo em 221 pontos, voltando aos níveis mais altos desde novembro de 2018.
Nem mesmo o anúncio do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de que elevará os limites para as operações de recompra, com objetivo de aumentar a liquidez do sistema financeiro, foi capaz de acalmar os mercados. O índice de volatilidade VIX, considerado um “medidor do medo” em Wall Street, saltou quase 14% e voltou a ultrapassar os 50 pontos.
Segundo economistas, os investidores sentem falta de um anúncio de medidas concretas para reduzir os efeitos do coronavírus na economia mundial. Nos Estados Unidos, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, prometeu um pacote de ajuda, mas não disse quando nem como será feito.
Impacto
Para o banco holandês ING, os Estados Unidos, assim como outros países, sentirão o impacto da demanda global mais fraca, cadeias de suprimentos interrompidas e cautela nos negócios. “Também há o impacto da queda da confiança no mercado acionário, o que pode se traduzir em fraqueza mais ampla nos gastos”, disse a instituição.
Por aqui, a falta de uma ação coordenada entre Executivo e Legislativo também tem ajudado para derrubar o ânimo dos investidores. “Mas essa é uma crise importada e vamos ser afetados pelas notícias que vêm de fora”, afirma Morelli. Segundo ele, o mercado aguarda a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem, para uma nova queda da taxa Selic, hoje em 4,25% ao ano. As apostas do mercado vão de corte de 0,25 ponto porcentual a 0,5 ponto.
Petróleo
Somado a esse ambiente de incerteza, o petróleo registrou novas quedas ontem, após a estatal petrolífera Saudi Aramco informar que recebeu ordem para elevar a capacidade de produção de 12 milhões para 13 milhões de barris por dia. Na New York Mercantile Exchange, o petróleo WTI para abril fechou em queda de 4,02%, a US$ 32,98 o barril. (O Estado de S. Paulo/Renée Pereira, Iander Porcella e Luís Eduardo Leal)