O Estado de S. Paulo
Em meio ao caos que se espalha por quase todo o mundo em razão do surto de coronavírus e da guerra do petróleo, a Iochpe-Maxion, líder na produção global de rodas automotivas de aço e de alumínio e um dos principais produtores de componentes estruturais (como longarinas e chassis) nas Américas, é uma das poucas do ramo que, por enquanto, não está assustada.
Fundada no Rio Grande do Sul pela família Iochpe há 102 anos, a empresa tem atualmente 32 fábricas em 14 países, algumas delas adquiridas e outras construídas a partir do ano 2000, como as novas filiais da Índia, inaugurada no último trimestre de 2019, e da China, que iniciará operações no próximo ano. Ambas têm capacidade para produzir 2 milhões de rodas ao ano.
No ano passado o grupo registrou o maior faturamento de sua história, de R$ 10 bilhões, sendo que 80% vieram das operações internacionais. Até 2011, essa participação vinha dos negócios brasileiros. “A desvalorização do real para nós é positiva pois a conversão das receitas do exterior em moedas como euro e dólar nos ajuda nos resultados”, diz Marcos de Oliveira, presidente da Iochpe-Maxion.
Ele afirma também que a empresa praticamente compra a matéria-prima usada na produção nas próprias regiões onde produz, por isso tem “head cambial natural”. Até agora, o único estrago provocado pelo coronavírus foi o cancelamento da viagem que Oliveira faria à República Checa neste mês para um encontro de lideranças dos países onde o grupo atua.
Preocupação com a demanda
“Apesar da baixa exposição, temos preocupação com o impacto que o coronavírus pode ter na economia mundial e, obviamente, na demanda”, diz o executivo. Na semana passada, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, afirmou que a paralisação de fábricas de componentes na China poderá deixar empresas brasileiras desabastecidas e a produção de carros corre o risco de ser interrompida já ao final deste mês ou em abril.
Oliveira acredita, contudo, que se ocorrer um recuo abrupto no mercado, mas a demanda continuar latente, o que deixar de ser produzido no momento poderá ser recuperado depois. A empresa já trabalhava com uma desaceleração de 2,2% na produção global de veículos neste ano, depois de uma queda de 6% em 2019, para 89 milhões de veículos.
No Brasil, a Iochpe-Maxion tem quatro fábricas e emprega 7 mil pessoas (de um total de 16 mil no mundo todo). A capacidade produtiva local é de cerca de 12 milhões de rodas, o equivalente a 20% da capacidade produtiva global. A unidade de Limeira (SP) terá a capacidade ampliada de 800 mil para 1 milhão de rodas ao ano nos próximos 18 meses.
Para Oliveira, a projeção de crescimento de 7,3% na produção de veículos neste ano, feita pela Anfavea, pode ser um pouco menor, mas ele espera que as reformas prometidas pelo governo, como administrativa e tributária, ainda vão ocorrer, mesmo que com atraso. “Tenho esperança que aconteça, embora não há certeza sobre isso, mas existe a possibilidade”.
Novas tecnologias
O grupo trabalha no desenvolvimento de várias tecnologias, como a roda inteligente, que capta informações de pressão, ângulo de calibragem, rotação e tipo de terreno em que o veículo está rodando e, com isso, pode, por exemplo, reduzir o período para manutenção. Esse projeto é feito em parceria com filiais da Europa.
Também há o desenvolvimento totalmente local de uso de novos materiais para reduzir o peso das rodas de caminhões. Há cerca de oito anos elas pesavam 43 quilos e hoje pesam 34 quilos. “Queremos baixar para 30 quilos em até dois anos”, informa Oliveira. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)