Paixão por carros elétricos

A Tarde

 

A sustentabilidade sempre esteve presente na vida e na carreira da arquiteta e urbanista Milene Kalid, mas desde o final do ano passado ela passou a fazer algo mais que criar projetos arquitetônicos sustentáveis. Realizou o sonho de comprar um carro 100% elétrico e acelerou ainda mais, tornando-se empreendedora da área automotiva.

 

Milene e a filha, a oceanógrafa Júlia Kalid, criaram a EcoKar e assumiram o papel de representantes da empresa curitibana Hitech Eletric na Bahia, uma startup especializada em soluções sustentáveis de mobilidade urbana. Desde novembro, as duas estão imersas em um universo de inovações disruptivas e no mundo automotivo.

 

Às vésperas do Carnaval, elas não estavam apenas se preparando para o reinado de Momo, mas a rotina envolvia a prospecção no estado do primeiro veículo autônomo desenvolvido no Brasil, o e.coTech4 Autônomo, que foi lançado em janeiro em Curitiba.

 

Apaixonada pela nova atividade e pelos modelos da Hitech Eletric, Milene destaca os diferenciais do carro, com entusiasmo. Elétrico, o e.coTech4 Autônomo tem capacidade para dois passageiros e alcança velocidade de até 50 km/h, com autonomia de 100 km. O carro pode ser controlado de forma remota por meio de aplicativo de celular. Possui nível de automação 4 e detecta obstáculos numa distância máxima de 50 metros.

 

“Meu público-alvo para esse carro 100% elétrico e autônomo são grandes condomínios, aeroportos, empresas com grandes áreas externas etc. Locais onde haja regulamentação para o tráfego desse tipo de veículo”, ressalta Milene.

 

Para desenvolver o “e.coTech4 Autônomo”, a Hitech Electric teve a parceria da Lume Robotics, empresa especializada em robótica autônoma e inteligência artificial. A empresa tem o apoio da Essex Desenvolvimentos. Além disso, a Positivo Tecnologia também participou do projeto, como parceira tecnológica, para adaptar o veículo autônomo ao cenário e mercado brasileiros.

 

Inicialmente, o veículo está disponível apenas para o segmento corporativo e pode ser alugado por empresas e utilizado para transporte de passageiros ou cargas em ambientes internos, como pátios fabris, campi universitários, resorts ou clubes. Os contratos de locação são de 24 ou 36 meses.

 

e.coTech2

 

Milene Kalid tornou-se empreendedora da área automotiva por acaso. Ela decidiu comprar um carro compacto, 100% elétrico e se encantou pelo e.coTech2. “Foi paixão à primeira vista, comprei o carro no cartão de crédito e de imediato decidi me tornar representante na Bahia”, conta. “É um modelo de dois lugares: econômico, automático, ágil e fácil de estacionar. Para uso urbano e me atende muito bem na rotina do dia a dia. Me sinto dirigindo uma Ferrari”, brinca a empresária.

 

Ao contrário dos veículos-padrão, o e.coTech2 não tem motor movido a combustão. A bateria é recarregável em tomadas convencionais de três pinos de 110 ou 220 V, o que dispensa postos de reabastecimento. Os Itens de série são airbag, alarme, travas elétricas e rodas de liga-leve. Tem dimensões de 1,62 m de altura, 1,38 m de largura e 2,05 m de comprimento.

 

Custo-benefício

 

O modelo tem velocidade máxima de 68 km/h e autonomia de 100 a 150 km. O tempo de recarga em tomada comum é de 4/5 horas e o custo médio de recarga é de R$ 5. “Eu investi R$ 500 na instalação elétrica da minha garagem para adaptar às necessidades de recarga do carro”, explica Milene. “O custo da gasolina é 10 vezes maior, e a manutenção é muito mais barata. Esse modelo tem apenas seis peças e toda a mecânica é descomplicada”. Ela gastou R$ 255 em cada uma das revisões programadas de 10 mil, 20 mil e 30 mil quilômetros.

 

Não bastassem os benefícios ambientais, como a não emissão de gases poluentes, o e.coTech2 é mais atrativo financeiramente do que os carros convencionais. Estima-se que, em um ano, o motorista tenha uma economia de R$ 10 mil, entre combustível e manutenção.

 

A recarga representa um custo adicional de apenas R$ 75 na conta mensal de energia elétrica, equivalentes a 60 km/dia. A bateria de lítio tem uma duração média de 10 anos – sete a mais do que as baterias tradicionais de chumbo ácido, comercializadas no mercado.

 

e.coTech4

 

A Hitech Electric tem quatro modelos homologados pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), para emplacamento e permissão para trafegar exclusivamente em vias urbanas. O e.coTech4 é um modelo 100% elétrico de quatro lugares, recarregável em qualquer tomada 110-220 V, com as mesmas características técnicas do e.coTech2. Na área corporativa, pode ser utilizado como veículo para equipes, entregas ou mesmo para plataformas de compartilhamento e aplicativos de mobilidade.

 

Adequado para transporte pessoal ou da família em centros urbanos. Mas esse é um mercado de nicho. “Meu público-alvo são pessoas sensíveis às questões de sustentabilidade, que abrem mão de algumas coisas para ganhar outras. Eu, por exemplo, sou minimalista, e não tem luxo que me deixe mais feliz que a sensação de utilizar e comercializar veículos 100% elétricos”, afirma Milene.

 

e.coTruck

 

A empresária conta que em breve chegará ao mercado o e.coTech4 com placa fotovoltaica, que deve aumentar em 20% a autonomia do veículo. O e.coTruck, um off-road elétrico com tração nas quatro rodas, faz parte do portfólio da startup paranaense. Tem capacidade para transportar até 800 kg em sua caçamba, adequado para entregas urbanas.

 

Off-road

 

Há ainda o UTV – Utility Task Vehicle, um off-road elétrico com tração nas quatro rodas e autonomia de 80 km. O motor de 27 hp permite que o veículo seja utilizado nas mais variadas tarefas da vida no campo. O UTV aguenta até 220 kg na caçamba e pode rebocar até 680. A bateria de 48 V permite que o UTV seja carregado em qualquer tomada, como os outros veículos da Hitech Electric.

 

Quanto custa

 

O e.coTech2 custa a partir de R$ 69.280. “Mesmo os utilitários, que têm capacidade para transportar até 800 kg, são vendidos com valores abaixo dos R$ 100 mil. Essa é uma vantagem competitiva importante”, reforça Milene Kalid. O prazo de entrega é de até 120 dias.

 

“Ao atuar nesse segmento, ela acredita estar cumprindo um propósito de vida. “Sempre fui daquelas que catam lixo nas praias. E cada vez mais acredito que podemos contribuir para a preservação do planeta, mudando hábitos de consumo”, finaliza. (A Tarde/Núbia Cristina)