Bolsa cai 7% após chegada do coronavírus ao Brasil

O Estado de S. Paulo 

 

Com a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil – um empresário de 61 anos de São Paulo – subiu o alerta quanto ao risco de uma epidemia no País e governos estaduais começaram a colocar em prática os planos de vigilância e controle. Autoridades de saúde e especialistas acreditam que, mesmo que não haja epidemia, o medo da população pode sobrecarregar a estrutura sanitária. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, cobrou que a OMS declare pandemia, ou seja, admita que o vírus infecta pessoas em várias regiões. É a primeira vez que o vírus é identificado na América Latina. A taxa de mortalidade do vírus, em média, é de 2% a 3% e as vítimas são principalmente idosos. Especialistas acreditam que a transmissão do vírus será mais difícil pelo fato de ser verão no Brasil. Prevendo impacto negativo na economia, o mercado reagiu mal. O Ibovespa, principal indicador da Bolsa, teve ontem recuo de 7% – a maior queda desde maio de 2017, quando gravação do empresário Joesley Batista em conversa com o ex-presidente Michel Temer fez o índice cair 8,8%. No câmbio, a atuação do Banco Central ajudou a segurar o dólar, mas não impediu a renovação de recorde nominal de fechamento – a R$ 4,4413, alta de 1,11%. Entre as empresas, o mergulho maior foi das companhias aéreas Gol (-14,31%) e Azul (-13,30%), pela perspectiva de redução de viagens.

 

A confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil provocou pânico no mercado na Quarta-feira de Cinzas. O Ibovespa, principal indicador da Bolsa despencou. O recuo foi de 7%, para 105.718,29 pontos. No câmbio, a atuação do Banco Central ajudou a segurar o dólar, mas não impediu a renovação de recorde nominal de fechamento – a R$ 4,4413, alta de 1,11%.

 

Foi o maior recuo porcentual da Bolsa em um só dia desde 18 maio de 2017, o chamado “Joesley Day” quando o mercado cedeu 8,8% após a delação de Joesley Batista. Em pontos, o índice de referência da Bolsa perdeu quase 8 mil pontos, o maior recuo desde a adoção da atual metodologia, em março de 1997.

 

Parte dos recuos dos ativos brasileiros foi creditada a um ajuste pelo fato de a Bolsa ficar fechada por dois dias. Enquanto os mercados domésticos estavam fechados, os internacionais cediam com o avanço do coronavírus na Europa e no Oriente Médio.

 

Na manhã de ontem, contudo, as Bolsas internacionais reduziram as perdas e algumas chegaram até a subir momentaneamente, o que afastou o risco do chamado circuit breaker (quando as negociações são interrompidas por causa de uma queda generalizada) logo na abertura dos negócios brasileiros, às 13h.

 

“Esperava-se algo ainda pior e mais volatilidade, mas o fôlego parcial observado em Nova York e parte da Europa na sessão contribuiu para limitar os danos, especialmente visíveis em ações de exportadoras, como Vale, siderurgia, papel e celulose”, afirmou Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

 

Entre as empresas, o mergulho maior foi das aéreas Gol (14,31%) e Azul (-13,30%), por causa da perspectiva de redução de viagens com a difusão do vírus.

 

A tensão política ajudou a azedar ainda mais o humor dos investidores brasileiros. Operadores relataram desconforto com o compartilhamento, pelo presidente Jair Bolsonaro, de uma mensagem via WhatsApp que convoca para manifestações em 15 de março.

 

“Esse endosso à manifestação contra o Congresso dificulta a interlocução entre os Poderes e alonga um pouco o caminho das reformas”, disse Arbetman, da Ativa Investimentos.

 

Câmbio

 

O nervosismo não ficou restrito ao mercado de ações. Mesmo com a injeção extraordinária do Banco Central de US$ 500 milhões ontem e a promessa de mais US$ 1 bilhão para hoje, o dólar chegou a encostar em R$ 4,45.

 

O real teve o pior desempenho em uma cesta de 34 moedas internacionais ontem, embora operadores tenham ressaltado que, se não fosse a estratégia do BC, a valorização da moeda americana poderia ter sido ainda mais forte. (O Estado de S. Paulo/Luis Edurdo Leal, Altamiro Silva Júnior e Matheus Piovesana)