Locadoras “turbinam” vendas de veículos, viram rivais de concessionárias e mudam jeito de se ter carro

Portal G1 

 

Começar todo ano com carro novo é um desejo que “cabe” em poucos bolsos. Mas novos jeitos de se ter carro, que não a tradicional compra na concessionária, estão tornando isso mais possível.

 

São aluguéis por prazos mais longos de veículos zero quilômetro comprados direto – e com desconto – das montadoras pelas locadoras. É o chamado carro por assinatura.

 

Com mais esse serviço, além de terem se tornado rivais das revendedoras de usados, abrindo lojas para negociar carros que saem da frota, as locadoras agora disputam clientes com as concessionárias.

 

A força é tão grande que as vendas feitas pelas montadoras direto para empresas, entre elas as locadoras, representam quase metade do total de emplacamentos de carros o ano no Brasil, o maior percentual histórico.

 

O que diz quem aderiu

 

Esqueça a imagem de carro branco e popular: nos aluguéis a longo prazo, as locadoras contam até com modelos luxuosos, variedade de versões e de cores, assim como as concessionárias.

 

Quem abriu mão de ter um carro em seu nome diz que a vantagem está em deixar de arcar com gastos extras, como IPVA e seguro, além da possibilidade de trocar por um novo em um prazo determinado. Ou seja, ter sempre um carro zero nas mãos.

 

A principal desvantagem, citada por alguns dos entrevistados pelo G1, está no fato de que, desse modo, o automóvel deixa de ser um patrimônio que pode ser vendido em caso de necessidade.

 

O empresário Thales Cruz, de 26 anos, optou alugar um Volkswagen Jetta por R$ 2,2 mil mensais depois de ficar descontente com o valor de revenda de seu último carro próprio, um Kia Cerato.

 

Para saber o que valia mais a pena, ele comparou o valor mensal do aluguel contra o das parcelas, caso comprasse um modelo idêntico financiado, sem dar entrada.

 

Ele também considerou a desvalorização sofrida pelo veículo no período de 1 ano e o seguro, que, se fosse feito em um carro particular, ficaria caro para sua faixa de idade.

 

Para a economista Tijana Janković o que fez diferença foi a flexibilidade. Ela só usava o transporte por aplicativos, mas quis ter um carro depois de se tornar mãe, em julho. Entre financiar e alugar, ficou com a segunda opção e paga R$ 2,3 mil mensais por um Jeep Renegade.

 

“Praticamente temos um carro próprio, mas sem a dor de cabeça dos gastos relacionados. Também é conveniente, já que dois meses por ano passamos fora do Brasil. Aí devolvemos o carro, e, quando voltamos, alugamos outra vez”, diz Tijana.

 

Como funciona

 

As principais locadoras do Brasil oferecem carros por assinatura; uma seguradora também tem o serviço.

 

Funciona assim: ao fechar um contrato de pelo menos 30 dias, o cliente paga uma mensalidade e tem direito a um veículo zero quilômetro com seguro, manutenção e documentação inclusos. Há contratos de até 3 anos e meio.

 

Além de se livrar dos gastos com seguro, manutenção, documentação, emplacamento e tributos, não é preciso se preocupar com depreciação e ter trabalho para vender o veículo depois: basta devolver para a empresa.

 

O gerente financeiro Thiago Ferreira começou a usar o serviço quando se tornou motorista de aplicativo, outro nicho importante de clientes das locadoras. Mesmo quando parou, continuou alugando.

 

Ele também escolheu um Jetta e está com o veículo há cerca de 10 meses, também pagando uma mensalidade de R$ 2,2 mil. Pretende trocar por um outro em breve. “O contrato permite que eu troque por um outro, novo”.

 

Por outro lado, é preciso levar em consideração que alguns serviços são pagos à parte. É o caso de incluir condutores adicionais.

 

Como saber se vale a pena

 

O primeiro passo é calcular o custo de propriedade, isto é, tudo o que envolve ter um carro em seu nome, para depois comparar com os planos oferecidos pelas locadoras.

 

Tenha em mãos:

 

  • valor do veículo (à vista ou financiado), considerando a versão desejada – para saber, consulte as seções “monte seu carro” nos sites das marcas;
  • custos com documentação (primeiro licenciamento) e emplacamento, que podem ser obtidos nos sites dos Detrans;
  • valor do IPVA, que pode ser consultado no site das secretarias estaduais da Fazenda;
  • valor do seguro (peça uma cotação de acordo com seu perfil);
  • valor das manutenções do veículo, que pode ser conferido no site das fabricantes;
  • depreciação média do veículo usado.

 

O G1 calculou o custo de compra, propriedade e depreciação de 3 veículos de categorias diferentes disponíveis nas principais locadoras do país.

 

Foram considerados valores de tributos do Estado de São Paulo, seguros para um morador da capital paulista, cotados pela Minuto Seguros, manutenções de acordo com os valores divulgados pela fabricantes, depreciação segundo os dados da Agência Autoinforme e financiamento pelo banco Bradesco, com simulações com 30% de entrada, ou sem entrada, e pagamento em 24 meses.

 

Nos casos em que o valor da entrada pode ser aplicado, foi considerado o rendimento igual à taxa Selic, 4,25% ao ano.

 

Como a Localiza não possui planos de 2 anos, ela ficou de fora da simulação. (Portal G1/André Paixão e Guilherme Fontana)