2010-2019: A década de transformações no mercado de veículos leves no Brasil

Novo Varejo

 

Megatendências têm sido apontadas como fatores fundamentais de mudança para o mercado automobilístico. Veículos conectados, auxílio à condução, propulsão elétrica e compartilhamento são exemplos de novidades que chegariam “amanhã” e revolucionariam o mercado. Na virada da década, algumas dessas novidades chegaram com força e outras têm um caminho longo a percorrer.

 

Começando pelo tamanho da indústria, esta década viu o Brasil se tornar o 4º maior mercado consumidor a partir de 2010, com 3,33 milhões. Chegamos a 3,66 milhões e retrocedemos até os 1,99 milhão de 2016. Desde então buscamos a recuperação e fechamos 2019 com 2,66 milhões – 1 milhão a menos do que o recorde da década. A Bright Consulting estima que estaremos de volta aos 3,6 milhões em 2024, uma vez que as previsões sobre as variáveis que impactam o mercado se concretizem. Isso exigiria um crescimento médio de 6,5% ao ano, possível se considerarmos que o crescimento foi bem maior de 2017 a 2019.

 

Vendas diretas das montadoras para os clientes finais cresceram bastante na década. Em 2010, as vendas diretas representavam 23% do total com a venda mais concentrada em frotistas. Em 2019, as vendas diretas representaram 44,5 % do total sendo que 73% direcionadas a PJ, das quais locadoras representaram 49% e 27% a PF com PCD representando 51% do total.

 

A importância dos SUVs para o cliente brasileiro ficou comprovada nestes dez anos, com o crescimento das vendas e a passagem de três produtos de volume em 2010 para mais de uma dúzia em 2019. Mesmo durante os anos de recessão de 2013 a 2016, o volume de SUVs jamais retrocedeu, passando de 6,7% das vendas em 2010 para 22,5% em 2019, superando os sedans médios e acompanhando tendência global. Hatchbacks compactos continuam a liderar com 40,5% das vendas, lembrando que representavam 53,4% em 2010.

 

Outra mudança importante foi o desenvolvimento de motores, com a aplicação de tecnologias modernas. Apenas 15% dos veículos tinham comando de válvulas variável em 2010 e chegaram a 72% em 2019. Nem 3% dos motores eram 3 cilindros e são 24% hoje. A aplicação de turbocompressor passou de 4% a 20% no mesmo período. Todas essas tecnologias se tornaram necessárias em função da nova legislação de eficiência energética e emissões, com Inovar-Auto e Rota 2030. Definido pelo programa Inovar-Auto em 2,07 MJ/km em 2012 (não existia antes), a eficiência energética atingiu em 2019 1,74 MJ/km, uma evolução comparável a de padrões globais. Isso significa que a energia despendida para mover um veículo dentro do mesmo ciclo padrão diminuiu 16% nesse período – um progresso notável considerando que os veículos ficaram mais pesados e com maior conteúdo tecnológico.

 

Na mesma velocidade, multiplicaram-se as opções de câmbio automático e CVT e fazendo retroceder os câmbios automatizados. Em 2010, 88% dos veículos vendidos eram equipados com câmbios manuais, enquanto em 2019 trouxe os mesmos equipamentos em 51% dos veículos vendidos. Quem sabe 2020 não será o primeiro ano em que câmbio manual representará a minoria do mercado.

 

Falando das megatendências, automóveis conectados (mesmo que por meio do celular) chegavam a 9,4% das vendas de 2010 e atingiram 55,7% em 2019. Híbridos e elétricos foram 0,4% dos emplacamentos em 2019, enquanto não chegaram a 20 unidades em 2010. Foram 11.123 veículos, 95% deles híbridos. Mudou a legislação, evoluiu a tecnologia e hoje os híbridos estão com preços mais acessíveis, principalmente em segmentos Premium. Dependendo de preço acessível, os automóveis e SUVs compactos demorarão mais tempo para ter essa modernidade aplicada e o mercado brasileiro de híbridos e elétricos só chegará a 5% por volta de 2025.

 

No campo de assistência à condução dos veículos (ADAS – Advanced Driver Assistance Systems), pouco se fazia em 2010. Existia o ABS, o piloto automático, sensor traseiro e só nos veículos topo de linha. Hoje existem inúmeros equipamentos e artifícios para tornar mais fácil a tarefa do motorista: detecção de fadiga do motorista, visão de pontos cegos, manutenção de faixa de rolamento, estacionamento autônomo, entre outros. Mais de 5% dos veículos têm instalado algum alerta anticolisão, algo inexistente em 2010. Porém, o veículo totalmente autônomo está longe de chegar. É mais fácil pensar em percursos demarcados e ambientes controlados para estes veículos, o que ajudará bastante a redução de acidentes.

 

Serviços de mobilidade sob demanda são uma realidade hoje, mas nada se ouvia deles em 2010. São Paulo é a oitava cidade do mundo que mais usa aplicativos de transporte. O fenômeno Uber passou de alternativa de ganha-pão para quem perdeu o emprego para uma profissão regular com carros alugados pelas locadoras especificamente para este uso. Em 2010, já existiam bicicletas compartilhadas, mas a racionalização de transportes propiciou o aparecimento de patinetes e aumentou o número de bicicletas, usadas para curtas distâncias e ligar o transporte coletivo à origem ou destino do viajante.

 

A propriedade desse veículo compartilhado deixa de ser ativo pessoal e passa a ser de propriedade de empresa específica criada com esse propósito. O uso desses serviços inclui e pedágios, estacionamento, manutenção – um veículo sempre disponível, adequado às necessidades pontuais do cliente. O critério de seleção e de compra passa a ser muito mais racional, na linha do que acontece com locadoras, com atenção especial no custo operacional e valor de revenda. É algo que já começou e deve se ampliar muito na década que se inicia.

 

Revolução nos processos de distribuição. Com showrooms virtuais e maior proporção de vendas diretas – e-commerce incluído – diminui a necessidade de concessionários-palácios. As montadoras já exigem menos para as instalações e essa tendência deve acelerar na próxima década com o atendimento aos clientes agora distribuído em menos concessionárias completas e mais showroons e oficinas multimarca.

 

Esta segunda década do terceiro milênio foi sensacional para quem gosta do automóvel e seu mercado, pelas grandes mudanças ocorridas. Em sua projeção de cenários, a Bright Consulting apresenta pistas de inovações ainda mais surpreendentes a acontecer até 2030. Felizes aqueles que puderam testemunhar os avanços recentes e compartilhar estas novas disrupções que mudarão consideravelmente o mercado que conhecemos hoje. (Novo Varejo/Paulo Cardamone, Chief Stategy Officer da Bright Consulting)