“Vamos quebrar se continuarmos vendendo apenas carros”

AutoPapo

 

Herr Lutz Meschke, diretor da Porsche, não hesitou em afirmar, numa entrevista para a revista inglesa “Autocar”, que sua empresa tem que investir em firmas destinadas a resolver os problemas do trânsito, única saída para sobreviver num futuro não muito distante.

 

“As cidades querem reduzir o volume de tráfego, então nós temos que procurar soluções compatíveis com nossa marca. Mobilidade compartilhada não é suficiente pois não gera uma rentabilidade razoável”, disse o executivo.

 

É surpreendente uma marca baseada no prazer em dirigir que afirma, por um lado, que jamais abandonará a produção de carros com volante, pedais e câmbio manual, esteja também se preparando para novos tempos em que não será mais viável vender apenas carros tradicionais.

 

“Só pensarmos em nossos carros se adequando à futura mobilidade não é suficiente. Temos que imaginar novos investimentos e startups para faturarmos em outros ramos de negócios. Nossos clientes, que compram atualmente dois, três ou quatro Porsches, terão no futuro apenas um ou dois, no máximo. Mas para se movimentar nas cidades vão se utilizar de outros serviços”, afirmou Meschke

 

“Temos, portanto, que compensar vendas que serão perdidas com outros modelos de negócios”, completou. Sua idéia é abrir novas empresas com outros nomes.

 

Carros “por assinatura”

 

Aliás, a Porsche já implantou nos EUA o negócio de “assinatura da marca” em que o cliente paga uma taxa mensal e tem o direito de usar modelos da marca durante determinado tempo por mês.

 

Se a Porsche, marca superpremium, está preocupada em perder faturamento devido aos novos conceitos de mobilidade, o que dizer das grandes marcas generalistas que talvez não venham a vender carro nenhum para seus clientes finais, mas apenas para frotistas, locadoras e car sharings.

 

No Brasil, já se oferece a locação de carros por hora ou por dia: a Toyota disponibiliza seus carros em algumas concessionárias e a Volkswagen três de seus modelos experimentalmente numa revenda da marca em São Paulo. O T-Cross custa R$ 19 a hora, o Virtus sai por R$ 17 e o Voyage R$ 12, além de R$ 0,50 o km rodado.

 

GM e Renault já oferecem a locação por aplicativo para seus funcionários, que retiram e devolvem o carro na própria fábrica. Uma experiência que pode se estender para suas concessionárias. Pelo menos duas outras já estudam oferecer a locação: Nissan e BMW.

 

Este é apenas o início de uma completa reviravolta no negócio do automóvel. Todas os grandes fabricantes estão conscientes de que, além de produzir carros, deverão também oferecer soluções mais abrangentes de mobilidade.

 

Nos EUA, a GM tem a Maven, que já aluga carros para o público e a Maven Gig, especialista na locação para motoristas de aplicativos.

 

A Renault oferece outro serviço na Europa, com total mobilidade ao cliente que viaja de avião ou trem: condução até o local de embarque e um carro no desembarque.

 

Grandes grupos de concessionárias estão lançando suas próprias locadoras, com uma vantagem: o cliente deixa o carro para reparo ou revisão e sai com o automóvel alugado. E o deixa de volta quando o seu ficar pronto.

 

Outros serviços de mobilidade estão surgindo em todo o mundo. A Turo, por exemplo, é um sistema semelhante ao Airbnb que aluga veículos de terceiros. Se o dono de um carro pretende alugá-lo, o aplicativo da Turo encontra o interessado e administra a locação. Ela diz que um carro que custa U$ 4.500 por ano rende ao dono U$ 6.500, alugado apenas seis dias por mês.

 

O app da Turo funciona em mais de 5.000 cidades nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Grã Bretanha. Assim como a Uber, ela apenas administra o aluguel sem investir em frota própria.

 

Fora a locação de bicicletas ou patinetes elétricas no mundo inteiro. Ainda melhor do que um automóvel para enfrentar o trânsito pesado das grandes cidades. (AutoPapo/Boris Feldman)