Participação de servidores em falsificação de carros de luxo é investigada

O Estado de S. Paulo

 

Após a apreensão de oito réplicas semimontadas de carros de luxo das marcas Ferrari e Lamborghini, a Polícia Civil de Santa Catarina vai investigar a participação de servidores públicos ou outros agentes que poderiam ter facilitado a legalização dos automóveis como protótipos nos Departamento Estaduais de Trânsito (Detrans). Os veículos eram comercializados para o todo o Brasil a preços entre R$ 180 mil e R$ 250 mil – abaixo dos praticados pelas montadoras. Os modelos originais são vendidos no mercado por valores entre R$ 1,5 milhão e R$ 3 milhões.

 

“Agora nós vamos ouvir clientes, fornecedores de peças e funcionários públicos de Santa Catarina e de outros Estados. Não há a possibilidade de esses veículos serem licenciados como protótipos porque eles usavam desenhos e marcas patenteadas”, explicou o delegado Angelo Fragelli, da 1ª Delegacia de Polícia de Itajaí, no litoral norte de Santa Catarina. “Está caracterizada a falsificação e não poderiam ser liberados.”

 

Segundo o delegado, o inquérito ainda trata os delitos como crimes contra a propriedade industrial. “Mas se ficar comprovada a participação de terceiros, poderá também ficar caracterizada falsificação de documentos, associação criminosa, entre outros”, afirmou.

 

Os donos da fábrica, que são pai e filho, foram levados para prestar depoimento e liberados em seguida. Eles negaram a falsificação e disseram que são especializados em customização de veículos. A empresa atua há mais de 15 anos no mercado, e a fabricação de protótipos seria um negócio mais recente, informou o delegado.

 

Apesar de os automóveis serem fabricados em Santa Catarina, a maior parte da produção era enviada para outros Estados, como São Paulo, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul.

 

“Além da venda de veículos de estoque, pai e filho também produziam sob encomenda, de acordo com o gosto do cliente. As investigações foram iniciadas após denúncias feitas por representantes das próprias marcas.

 

Apesar de os automóveis serem fabricados em Santa Catarina, a maior parte da produção era enviada para outros Estados, como São Paulo, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul Foto: Polícia Civil

 

Pelo menos dois clientes já procuraram a polícia catarinense para reclamar sobre a compra de veículos que não foram entregues. O Estado também teve acesso a um terceiro caso, de um morador de Porto Alegre, que chegou a pagar por uma réplica de Lamborghini, mas nunca recebeu o automóvel.

 

Na ação movida para reaver os valores, o cliente informou que chegou a dar carro de R$ 55 mil de entrada e pagou o restante, R$ 58 mil, em duas parcelas.

 

“Curiosamente essas pessoas procuraram a polícia para reclamar que pagaram e não receberam os veículos, e eles sabiam que não se tratava de modelos originais”, informou Fragelli, que vai pedir ampliação do prazo para conclusão do processo.

 

A reportagem tentou contato com os empresários donos da fábrica em Itajaí, mas até o fim da manhã desta quarta-feira, 17, não obteve retorno. (O Estado de S. Paulo/Fábio Bispo)