Fiat propõe fusão com Renault para criar a terceira maior do mundo

O Estado de S. Paulo

 

A FCA Fiat Chrysler propôs ontem à Renault uma fusão de participações igualitárias (50% cada) que, se aprovada pela marca francesa criará o terceiro maior grupo automotivo do mundo, com vendas de 8,7 milhões de veículos, conforme resultados de 2018. No Brasil, a parceria coloca a nova empresa no topo do mercado, com vendas de 646 mil unidades, muito superior ao volume da atual líder General Motors (ver quadro).

 

Segundo a FCA, a junção resultaria em mais de ¤ 5 bilhões de ganhos por ano em sinergias e não haverá fechamento de nenhuma fábrica. O grupo ítaloamericano tem 102 fábricas no mundo e o francês, 34. Juntos, empregam quase 380 mil funcionários.

 

Se Nissan e Mitsubishi, que já formam uma aliança global com a Renault – hoje abalada após a prisão do líder Carlos Ghosn, por suspeitas de fraudes –, também participarem da fusão com a FCA, a nova companhia seria praticamente imbatível no mercado, com vendas superiores a 15 milhões de veículos. A Volkswagen, maior grupo automotivo no ano passado, vendeu 10,6 milhões de veículos.

 

A Renault informou que vai “estudar com interesse a oportunidade de uma aproximação”, mas não deu prazo para a decisão. A parceria, tendência global que vem sendo avaliada por todas as marcas, “faz todo sentido pois não há dinheiro que chegue para atender o novo mercado”, afirma Paulo Cardamone, presidente da Bright Consulting, referindo-se ao novo papel das montadoras com a chegada de veículos com elevado índice tecnológico, conectados, elétricos e autônomos.

 

Beneficiado

 

Cardamone acredita que o Brasil será um dos grandes beneficiados. “O novo grupo passaria a ter importante escala de produção e seria líder, com quase 30% do mercado”. Segundo ele, “só a consolidação de áreas como financeira, contábil e de recursos humanos resultaria em corte absurdo de custos”.

 

Para a Fiat Chrysler, a parceria daria acesso a novas tecnologias, como a de carros elétricos, segmento que a marca francesa lidera na Europa. Já a Renault poderia entrar no gigante mercado norte-americano.

 

Dona de marcas de automóveis que incluem as luxuosas Maserati e Alfa Romeo, a FCA cita grandes economias em compras, eficiências em pesquisa e desenvolvimento, em manufatura e ferramental, redução de número de plataformas de veículos e de motores. Os resultados já seriam positivos a partir do segundo ano de sinergia, prevê a FCA. Pelos cálculos da empresa, os rendimentos combinados chegariam a ¤ 170 bilhões, com lucro líquido de mais de ¤ 8 bilhões.

 

O ex-presidente da FCA, Sergio Marchionne, morto em 2018 e responsável pela compra da americana Chrysler pela italiana Fiat, vinha negociando parcerias há vários anos. Houve discussões com Volkswagen, GM e PSA Peugeot Citroën, sem sucesso. Foi ele quem começou as conversas com a Renault.

 

Em visita ao Brasil na semana passada para anunciar a nova fábrica de motores em Betim (MG), o presidente mundial da FCA, Mike Manley, confirmou que o grupo “sempre busca fortalecer sua posição e continuará fazendo isso.” Outra recente parceria global é a da Ford e Volkswagen, inicialmente para a área de picapes e vans.

 

“O novo grupo passaria a ter importante escala de produção e seria líder (no Brasil). (…) A consolidação de áreas como financeira, contábil e de RH resultaria em redução absurda de custos”, Paulo Cardamone, presidente da Bright Consulting. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)