O Estado de S. Paulo/Agência Brasil
O governador de São Paulo, João Doria, informou nesta terça-feira, 26, que já há três interessados para a compra da fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo.
“Posso antecipar a vocês que já recebemos três consultas de fabricantes de caminhões e automóveis, e oportunamente, após a evolução desses entendimentos, tornaremos público essas intenções”, disse Doria, após cerimônia de abertura do evento Doing Bussiness Brasil 2020, no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
Segundo Doria, dois dos interessados são multinacionais. O outro, uma empresa brasileira. “O que demonstra que estamos em bom caminho de encontrar um comprador”, acrescentou.
Na semana passada, após se reunir com o CEO da Ford na América Latina, que confirmou o fechamento da fábrica em São Bernardo, Doria havia anunciado que o governo de São Paulo iria se empenhar em ajudar a empresa a encontrar um comprador para a fábrica.
“Estabelecemos com ele que, até novembro, a operação será normal (na fábrica)”, disse Doria.
A fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, que será encerrada pela montadora em 2019 e está à venda, só poderia interessar a apenas duas empresas, as fabricantes de caminhões DAF e Foton, afirmam consultorias especializadas no setor.
A fábrica de São Bernardo é responsável pela produção de caminhões da Ford e por um único modelo de automóvel, o Fiesta. Em razão do foco da operação em caminhões, só faria sentido vende-la para marcas desse segmento. E para apenas essas duas o negócio teria vantagens.
Para a norte-americana DAF, a aquisição seria interessante porque trata-se de uma empresa nova no mercado brasileiro, que poderia se beneficiar da parte saudável da rede de concessionárias da Ford, argumenta Orlando Merluzzi, CEO da consultoria MA8. Além disso, lembra Merluzzi, a Ford atua em segmentos de caminhões dos quais a DAF não participa: médios e semipesados. “A empresa levaria uma linha pronta”, diz.
A principal barreira seria o fato de a empresa ter inaugurado recentemente uma fábrica em Ponta Grossa, no Paraná, que ainda conta com alta ociosidade. “É uma planta supermoderna para caminhões pesados que ainda não produz toda a sua capacidade, então, economicamente, comprar uma nova fábrica não faria sentido”, sustenta Thiago Costa, analista sênior para veículos pesados da consultoria IHS Markit.
Para a chinesa Foton, outra que está no mercado brasileiro há poucos anos e atua somente no mercado de caminhões leves, a vantagem seria estar perto do maior mercado consumidor do Brasil, o do Estado de São Paulo, ressalta Costa. Além disso, ingressaria em novos segmentos. Atualmente, a marca mantém uma planta compartilhada com a Agrale, fabricante de máquinas agrícolas, no Rio Grande do Sul.
No entanto, para ter uma fábrica com os volumes da Ford, a Foton precisaria ter uma demanda maior no mercado, que justificasse um aumento da produção, explica o analista da IHS. “Além disso, não sei se os chineses teriam interesse em entrar num Estado com as barreiras que tem São Paulo, como sindicatos fortes e impostos altos”, diz.
Os analistas, de qualquer forma, consideram que será muito difícil vender a fábrica, dado que a própria Ford disse, em seu comunicado, que já esgotou todas as alternativas. “É um negócio que parece sem volta”, acredita Merluzzi.
E o governo de São Paulo, que afirmou que vai ajudar a empresa a arrumar um comprador, não parece disposto a conceder incentivos fiscais. O secretário da Fazenda, Henrique Meirelles, confia que a recuperação da atividade econômica, por si só, será um atrativo para que uma nova empresa assuma a fábrica de São Bernardo.
A Ford afirma que terá custos de US$ 460 milhões para se desfazer do negócio, entre indenizações para funcionários, concessionários e fornecedores, além da depreciação de ativos.
Tanto a DAF quanto a Foton foram procuradas pela reportagem, mas se recusaram a comentar um possível interesse na fábrica. A Ford também preferiu não se manifestar. (O Estado de S. Paulo/Agência Brasil/André Ítalo Rocha)