O Globo
Dois dias após um comunicado global da Ford anunciar a saída da montadora do mercado de caminhões na América do Sul e, consequentemente, o fechamento de sua planta em São Bernardo do Campo , na região do ABC, em São Paulo, representantes da empresa se reuniram com o governador de São Paulo, João Doria, o secretário da Fazenda, Henrique Meirelles, e o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, para discutir uma forma de encontrar um comprador para fábrica que será fechada.
Ao todo, a Ford emprega mais de 3 mil funcionários no local, 2 mil deles na fábrica. Outros 1,2 mil trabalham no centro administrativo da montadora e, segundo o governador, não serão afetados.
“Em São Bernardo do Campo, em seu centro administrativo, 1200 funcionários continuarão trabalhando. Em relação à fábrica em que a empresa tem 2 mil funcionárias, nós, conjuntamente, vamos buscar um comprador que pode ser de um grupo nacional ou grupo internacional para a preservação do parque fabril e dos empregos que ali existem” disse o governador João Doria.
Os trabalhos serão conduzidos pelo vice-presidente da Ford, Rogélio Golfarb, e pelo secretário Henrique Meirelles. O governador e o prefeito Orlando Morando negaram que a região esteja passando por um esvaziamento e citaram investimentos recentes feitos por outras empresas do setor automotivo na cidade, como a Scania e a Mercedes.
Segundo o governador, em 2019, o funcionamento da fábrica continuará normalmente. Inicialmente, a montadora afirmou que a fábrica seria fechada ao longo deste ano.
Apesar do governador ter citado a possibilidade de um comprador, a expectativa é de que seja encontrado um parceiro para a fábrica, que permaneceria de propriedade da Ford. O modelo é o mesmo adotado na Turquia, onde uma empresa local produz vans em uma fábrica da montadora.
Segundo Henrique Meirelles, é preciso entender a decisão da Ford em meio a um contexto global que atinge o setor automotivo e inclui modernizações como a adoção de carros autônomos.
“O setor está passando por mudanças estruturais, carros elétricos, carros autônomos, então existem mudanças globais constantes. No caso da Ford, estão saindo da produção de caminhões aqui. Nos Estados Unidos, anunciaram que só vão fabricar utilitários” disse.
Para o prefeito Orlando Morando (PSDB), a reunião foi positiva. Segundo ele, a expectativa inicial era de uma perda de arrecadação e de empregos na cidade após o anúncio que classificou como surpreendente. A partir de agora, disse Morando, há confiança de que uma saída será encontrada.
“Nós teríamos uma perda de R$ 18,5 milhões de ISS. A partir de hoje, eu entendo que a gente busca uma saída melhor” afirmou.
Segundo o governador, outras unidades da Ford no estado – em Taubaté, Tatuí e Barueri – permanecerão ativas.
Durante a reunião, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, em protesto na frente da fábrica da Ford, reclamou que não foi convidado para a reunião.
“Ficamos sabendo através da imprensa que ocorrerá uma reunião com o governador, o presidente da empresa e também o prefeito da cidade. Solicitamos que a gente pudesse, como trabalhadores, os mais afetados por essa decisão, participar dessa reunião. Recebemos o retorno do gabinete do governador dizendo que eles não nos queriam nessa reunião” afirmou. (O Globo/Dimitrius Dantas)