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Mesmo com a retomada no mercado interno, as montadoras ainda devem amargar os desdobramentos da crise na Argentina, principal destino das exportações brasileiras de veículos. Neste cenário, a ociosidade pode se manter próxima de 60% neste ano.
“A queda substancial nos últimos anos em virtude da crise teve impacto na rentabilidade das empresas. E mesmo com a perspectiva de retomada no País, o esforço das montadoras deve ser de utilização das instalações já existentes”, disse ontem o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale.
Para este ano, a entidade prevê produção de 3,1 milhões de veículos (incluindo pesados), um avanço de 9% sobre 2018. Segundo o diretor-executivo da Anfavea, Aurélio Santana, o setor tem capacidade instalada em torno de 5,5 milhões de unidades. Neste contexto, a ociosidade pode ficar em 56% neste ano.
Para Megale, a indústria poderia ter apresentado desempenho melhor em termos de produção no ano passado, caso a Argentina estivesse em boas condições econômicas. “O mercado argentino é responsável por 72% das vendas externas de automóveis e com o país vizinho em grandes dificuldades, esse percentual caiu para 55% em 2018. Dessa forma, as montadoras têm buscado outros mercados para compensar”, relata Megale.
Em janeiro deste ano, as vendas externas de veículos caíram em torno de 46% em relação ao mesmo período de 2018. Segundo o dirigente, uma das nações que aumentaram a participação nas exportações foi o México, que passou de 8% para 20% nos embarques da indústria brasileira no período analisado.
Para o presidente da Anfavea, a partir de agora, um dos desafios que as montadoras deverão enfrentar diz respeito à capacidade de equacionar a real demanda de mercado e a necessidade de ampliar os turnos de trabalho nas fábricas.
“Quando a montadora tem certeza sobre demandas de mercado, a tendência é que esses turnos sejam estendidos”, explicou Megale. A contratação de funcionários se manteve estável em janeiro na comparação com igual período do ano passado, informou a entidade nesta quarta-feira.
O professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Leonardo Trevisan, avalia que o cenário argentino não deve apresentar melhora tão cedo em virtude das incertezas políticas que o país vive. “É importante lembrar que na Argentina haverá eleições esse ano”, comenta o professor.
Na avaliação do vice-presidente da Anfavea, Marco Saltini, o segmento de pesados deve apresentar um crescimento entre 15% e 16% neste ano, impulsionado sobretudo por uma alta demanda por caminhões de médio porte.
“Começamos a perceber esse movimento a partir do segundo semestre de 2018, o que pode representar uma tendência de renovação da frota por parte dos empresários, que estão mais confiantes com a economia”, afirmou Saltini.
Segundo dados divulgados pela entidade, o licenciamento de veículos pesados aumentou 15% em janeiro de 2019 comparado com o mesmo período do ano passado, enquanto que a exportação desse mesmo segmento apresentou alta de 3,7% na mesma base de comparação. “Em janeiro do ano passado, a média de licenciamentos de caminhões novos foi de 4,6 mil. Já em janeiro de 2019, esse número subiu para 7 mil. O patamar de vendas costuma se estabilizar só a partir do mês de março”, pontua Megale.
Balanço
Segundo balanço da Anfavea, o licenciamento de caminhões novos saltou 53% em janeiro de 2019 em relação ao mesmo período do ano passado. Já as vendas totais apresentaram alta de 10,2% na mesma base.
Em relação aos estoques, o balanço indica que foram contabilizados no mês passado cerca de 160,2 mil veículos nas concessionárias, enquanto que nos pátios das montadoras esse contingente gira em torno de 85,4 mil unidades. (DCI/João Vicente Ribeiro)