O Estado de S. Paulo
A produção industrial subiu 0,2% em dezembro ante novembro e teve alta de 1,1% em 2018, na série com ajuste sazonal, divulgou nesta sexta-feira, 1º, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar do resultado positivo, houve perda de ritmo ao longo do ano.
Para o IBGE, a perda de força na indústria foi decorrente da greve de caminhoneiros, em maio, das eleições, da crise na Argentina e do elevado nível de desemprego. Em relação a dezembro de 2017, a produção caiu 3,6%.
“Desde junho de 2018 o crescimento da indústria no indicador acumulado em 12 meses é menos intenso. Em junho, (a taxa acumulada em 12 meses) era de 3,3%”, disse André Macedo, gerente da Coordenação da Indústria do IBGE. “O ano de 2018, apesar de ter fechado no campo positivo, tem característica de redução de intensidade de crescimento, especialmente no segundo semestre.”
A indústria teve apenas duas taxas positivas no segundo semestre: de 0,2% em dezembro ante novembro e de 0,3% em outubro ante setembro. O gerente da pesquisa acredita que o freio na indústria foi decorrente da greve de caminhoneiros, das incertezas que rondaram as eleições presidenciais, da crise na Argentina e do elevado nível de desemprego.
“Para além de greve de caminhoneiros, que desarrumou o processo de produção, teve eleições, com incertezas que afetam decisões de investimento por parte do empresário e afetam decisões de consumo por parte das famílias. Teve a crise na Argentina afetando diretamente as exportações. E, combinado a isso, o mercado de trabalho com contingente importante ainda fora dele. Foi um conjunto de fatores que nos ajudam a entender porque essa produção caminha no segundo semestre num ritmo menos intenso”, explicou Macedo.
A comparação por trimestre mostra como a produção industrial encolheu ao longo do ano: no primeiro trimestre houve crescimento de 2,8%; no segundo, alta de 1,8%; no terceiro, aumento de 1,2%; e, no último trimestre do ano, o recuo foi de 1,3%.
A redução na intensidade da produção industrial também foi observada nas quatro grandes categorias de uso, com destaque para a fabricação de bens de consumo duráveis, que passou de alta de 7,1% no terceiro trimestre de 2018 para queda de 3,1% no quarto trimestre de 2018. O resultado foi puxado pela menor produção de automóveis, que saiu de alta de 14,7% no terceiro trimestre para queda de 1,2% no quarto trimestre.
Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, os bens de capital passaram de alta de 7,3% no terceiro trimestre para avanço de 3,4% no quarto trimestre; bens intermediários, de 0,7% para -1,4%; e bens de consumo semiduráveis e não-duráveis, de -0,4% para -1,0%.
Perda de ritmo
A expansão de 1,1% da produção industrial brasileira em 2018 na comparação com 2017 revela a perda de ritmo do setor no ano passado, destaca o economista Lucas Silva, da Tendências Consultoria. “Essa taxa é menor que a metade do movimento verificado em 2017”, disse. De fato, no ano retrasado, houve alta de 2,5% da produção ante o ano anterior.
Sobre a queda de 3,6% em dezembro de 2018 ante o mesmo mês do ano anterior, o economista diz que o resultado era esperado e foi pressionado por dois vetores principais: o encerramento das encomendas de fim de ano e a queima de estoque em alguns segmentos produtivos, especialmente na indústria automotiva. “Esse é um setor que, junto à indústria de alimentos, perdeu muita força ao longo do segundo semestre”, disse.
A produção de bens de capital, categoria importante para analisar as perspectivas da atividade econômica, ainda está enfraquecida. “Foi o setor que mais perdeu volume durante os anos de crise. É um grupo que ainda está cerca de 30% inferior ao patamar pré-crise, do ano de 2013”, explicou Silva. A categoria, que engloba equipamentos, instalações, bens ou serviços necessários para a produção de outros bens ou serviços, teve queda de 5,6% em dezembro ante novembro.
A expectativa da Tendências para a atividade industrial em 2019 é de aceleração, disse Silva. “A retomada vai ser mais forte. No cenário interno, esperamos que as reformas se estabeleçam, especialmente a da Previdência, ainda em 2019. Se for uma reforma ambiciosa e houver avanços na parte tributária, pode haver uma retomada mais forte do mercado de trabalho e a indústria pode se beneficiar”, comentou.
No cenário externo, afirmou o economista, a avaliação da consultoria é de que haja um alívio das tensões comerciais, assim como uma interrupção no processo de aperto monetário nos Estados Unidos, que pode beneficiar economias emergentes.
Para o ex-diretor do Banco Central e consultor da Schwartsman e Associados, Alexandre Schwartsman, para acelerar a recuperação da indústria em2019 é preciso que o governo consiga deslanchar as concessões e fazer as reformas estruturais, para derrubar mais os juros de longo prazo e ajudar na concessão de crédito. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim)