O Estado de S. Paulo
Depois de um bom arranque em 2017, quando saiu da recessão, a indústria perdeu vigor e cresceu em 2018 apenas 1,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No trimestre final, a produção foi 1,3% menor que a do terceiro e 1,1% inferior à de um ano antes. As comparações com igual trimestre do ano anterior pioraram seguidamente ao longo do ano, até aparecer, nos três meses finais, o sinal negativo. Mas os dirigentes do setor têm apostado em melhoras com a mudança de governo. Entre dezembro e janeiro, cresceram as expectativas de aumento da demanda interna, das exportações, da contratação de empregados e do investimento produtivo, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Também os consumidores têm exibido maior otimismo. Em janeiro, pela primeira vez desde abril de 2015, o Índice de Intenção de Consumo das Famílias Paulistanas ficou acima de 100 pontos, de acordo com a Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Aos 101 pontos, o indicador voltou à área de satisfação depois de quase quatro anos. A redução do endividamento, a melhora da renda atual e a maior confiança quanto ao emprego são alguns dos fatores explicativos dessa evolução.
Manifestações de confiança de empresários e de consumidores têm sido registradas por entidades empresariais desde a eleição do novo governo. A partir daí ficou mais sensível o efeito de fatores objetivos, como a melhora do crédito, a inflação contida e a redução do endividamento. A consolidação desses fatores ocorreu antes da eleição, mas durante a maior parte do ano as incertezas políticas e a insegurança quanto ao emprego afetaram fortemente as expectativas.
O desemprego ainda muito alto – cerca de 12,2 milhões de pessoas no trimestre final de 2018 – permanece como um fator de alerta para as famílias, mesmo numa fase de expectativas melhores, e a equipe de governo deveria manter-se atenta a esse fato. A desocupação e a subocupação de uma enorme parcela da força de trabalho tendem a afetar duplamente o consumo – pelo entrave financeiro imposto a um grande contingente e pela insegurança, mesmo atenuada, em relação às condições de emprego.
Esse duplo efeito já foi observado em 2018 e é, com certeza, um dos principais fatores explicativos da lenta expansão do consumo e da perda de impulso da produção industrial. A crise dos transportes prejudicou a atividade, mas seu efeito direto foi limitado. Sobrou um péssimo efeito indireto, a tabela de fretes criada a partir de um erro do governo. Mas também esse dado tem um valor explicativo muito restrito.
Resta como fator principal o duplo efeito do desemprego, agravado pela incerteza política e, em menor grau, pela crise na Argentina, um dos maiores mercados importadores de manufaturados brasileiros, com destaque para os veículos. Segundo a associação das montadoras, as exportações de veículos leves diminuíram 18,3% no ano, as de caminhões baixaram 12,7% e as de máquinas agrícolas e rodoviárias, 9,1%.
Indicadores de fontes privadas também apontam, com números e critérios diferentes, uma evolução medíocre da produção industrial e perda de impulso. Segundo a CNI, só o faturamento manteve trajetória de aumento ao longo do ano, com avanço de 4,1% na comparação entre as médias de 2018 e 2017. Horas de trabalho na produção e emprego aumentaram, cada um, apenas 0,2% e a massa salarial real caiu 1,5%. Em São Paulo, o nível de atividade subiu 1,2%, cerca de um terço do registrado no ano anterior (3,5%), segundo a Federação das Indústrias (Fiesp).
O novo governo tem a seu favor alguns fatores muito importantes, como inflação contida, juros básicos de 6,50%, as contas externas saudáveis, boa produção agrícola, ampla ociosidade na indústria e confiança de empresários e consumidores. Tem também o desafio dos ajustes e reformas inadiáveis. Se perder o foco e desperdiçar oportunidades, comprometerá a confiança, um de seus ativos mais valiosos. Na equipe econômica há gente capaz de entender esses dados. (O Estado de S. Paulo)