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A crise na Argentina já afeta as exportações das montadoras de veículos comerciais no Brasil. Os embarques ao país vizinho caíram até 40% neste ano e empresas revisam suas projeções de avanço do comércio exterior para 2018.
“Os problemas na Argentina para nós foram uma surpresa. Mas esperamos que as medidas que o governo de lá está tomando para negociar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) surtam efeito”, afirmou o presidente da MAN Latin America (fabricante Volkswagen), Roberto Cortes, durante o International Trade Fair for Mobility (IAA), que acontece em anos pares em Hannover, na Alemanha. Segundo o executivo, de 30% a 35% das exportações da MAN tem como destino o país vizinho.
Para o presidente de operação industrial da Scania no Brasil, Christopher Podgorski, a crise na Argentina teve dois lados. “Temos uma fábrica de componentes em Tucumán e, com a megavalorização do dólar, ficamos muito competitivos por lá”, explica. “Porém, do ponto de vista comercial, a Argentina é muito importante para nós. Certamente teremos uma queda dos embarques”, complementa o executivo.
No ano passado, Podgorski relata que a Scania exportou, de sua fábrica de São Bernardo do Campo (SP), cerca de 2 mil unidades para a Argentina e, em 2018, esse volume deve se repetir. “Para o ano que vem, esperamos uma queda”, assinala. De acordo com o executivo, cerca de 35% da produção vai para o continente americano como um todo – incluindo Argentina, 30% ao mercado global (cerca de 30 países) e o restante fica no Brasil.
Ele destaca, entretanto, que historicamente quando o mercado argentino recua, paradoxalmente a participação da Scania cresce por lá. “O transportador sabe que comprando a nossa marca, ele terá retorno sobre o ativo e é uma forma de investimento. É fato que nosso market share cresce quando acontece uma crise no país vizinho”, pontua Podgorski.
A Mercedes-Benz também viu as exportações para a Argentina recuarem sensivelmente. Tanto que, no começo do ano, a expectativa da montadora era que 40% da produção fosse destinada ao mercado externo. No entanto, com a queda dos embarques ao país vizinho, essa fatia deve sofrer uma revisão para cerca de 25%. “Infelizmente não vamos conseguir elevar nossas exportações em 2018, talvez nossos números fiquem iguais aos do ano passado. Mas esperamos que em 2019 voltemos a crescer no comércio exterior”, declarou o presidente da empresa no Brasil, Philipp Schiemer.
Diversificação mercado brasileiro
No entanto, as montadoras têm direcionado esforços para outros países. “Estamos aumentando os embarques para diversos países do mundo, como Angola, México, Colômbia, entre outros”, conta Cortes.
Podgorski, da Scania, relata que 70% da produção da montadora continua sendo direcionada para o mundo todo. “Na crise que o Brasil passou nos últimos anos, a exportação sustentou a nossa fábrica e neste ano não deverá ser diferente. O mercado europeu se mantém forte, então a matriz precisa da nossa produção”, completa o empresário.
Schiemer, da Mercedes, salienta que a montadora já está obtendo resultados nos embarques para diversos países, apesar da dependência da Argentina. “Vendemos, por exemplo, 500 ônibus para a Nigéria e também fizemos negócios com o Oriente Médio.”
Enquanto a economia argentina atrapalha os planos das montadoras no País, o mercado brasileiro segue em crescimento. Nos primeiros oito meses deste ano, a MAN avançou 50% no Brasil. “Nosso desempenho está um pouco mais alto do que o mercado total, que cresce cerca de 45% no ano”, afirma Cortes. Segundo o executivo, o aumento se deve principalmente ao agronegócio. “Temos vendido muitos extrapesados para agricultura, mas os veículos ligados a bens de consumo e e-commerce também estão indo bem”. A MAN está operando em um turno na fábrica de Resende, no Rio de Janeiro.
Já a Volvo trabalha, atualmente, em dois turnos em sua planta na região metropolitana de Curitiba (PR). “Estamos no limite da nossa produção, mas é cedo para falar em abrir mais um turno, tudo depende do cenário econômico e político”, afirma o diretor de produto e estratégia da Volvo, Alan Holzmann. Ele também pondera os problemas na cadeia de fornecedores, que têm atrapalhado o mercado.
Já o vice-presidente das operações comerciais da Scania no Brasil, Roberto Barral, aponta o crescimento do mercado nacional de veículos pesados. Ele conta que, no segmento que a montadora atua – pesados e semipesados – a empresa já conta com um crescimento de 70% no acumulado do ano. “A situação já está mais estável no Brasil, e os juros mais baixos. Estamos recuperando nossa liderança do mercado”, afirma o executivo.
O modelo da fábrica da Scania no ABC Paulista contempla uma linha tão flexível que só entra em produção o que já foi pedido. Com isso, a planta consegue atender tanto o mercado interno quanto o externo. “Nós fomos a única montadora que não demitiu na crise”, diz Podgorski. Pela primeira vez nos últimos anos, a Scania está trabalhando com três turnos em usinagem, na montagem de cabinas e em dois na montagem final.
Diante do aumento da demanda, a Mercedes anunciou nesta semana a contratação de 150 funcionários para a planta de Juiz de Fora (MG), onde são montados os extrapesados da marca. “O agronegócio, principalmente, está puxando os negócios”, pondera Schiemer. O objetivo é aumentar a produção de 22 para 28 unidades por dia. (DCI/Juliana Estigarríbia)