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Um tratado comercial entre Mercosul e Aliança do Pacífico pode fazer a indústria do Brasil reconquistar espaço perdido nos países integrantes daquele bloco. O impasse entre México e EUA, porém, pode acabar atrapalhando acordo.
“Dependendo da ambição da agenda, é possível recuperar mercado nos países da Aliança do Pacífico. Nos últimos dez anos, o Brasil perdeu espaço em todos, menos no Chile, onde ficou estagnado”, diz o gerente de negociações internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Fabrizio Panzini.
No dia 24 de julho, durante a 13ª Cúpula da Aliança do Pacífico, bloco econômico formado por Chile, Colômbia, México e Peru, foi assinado um plano de ação para abrir caminho para integração regional com o Mercosul. “Ainda não há uma negociação de um acordo, o que foi assinado pelos presidentes dos dois blocos é um direcionamento para se chegar a esse tratado”, explica o diretor titular do departamento de relações internacionais e comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Thomaz Zanotto.
De acordo com dados da CNI, entre 2008 e 2017 o Brasil perdeu participação no total de importações realizadas pelo México, que passou de 1,7% para 1,3%, Colômbia, de 5,9% para 5%, e Peru, que caiu de 8% para 6%. No Chile, houve crescimento de 8,4% para 8,6% no período. A entidade calcula que, se o País tivesse mantido sua fatia de mercado no bloco nesses dez anos, teria exportado US$ 3,99 bilhões a mais. “O eixo central da aproximação é recuperar nossos mercados nesses países. O impacto inicial deve ser melhorar as regras de comércio entre os dois blocos, reduzindo barreiras e permitindo mais agilidade”, aponta Panzini, destacando os setores automotivo, siderúrgico e de máquinas e equipamentos como os principais beneficiados por um possível acordo.
Na avaliação da CNI, o Brasil perdeu mercado nos países da Aliança do Pacífico na última década devido a melhores condições comerciais do bloco com Estados Unidos, União Europeia (UE) e China. O gerente de negociações internacionais da entidade ressalta que, para a negociação avançar, será necessária vontade política dos oito países envolvidos. “Precisa haver por parte dos mandatários o desejo de aprofundar a integração entre os blocos. Existem medidas que só podem ser tomadas através de acordo bilaterais entre países”.
Panzini vê possíveis dificuldades para derrubar barreiras tarifárias. “Um acordo mais profundo do México com Brasil e Argentina é um dos pilares que faltam para firmar o tratado. A orientação comercial do próximo governo do México é fundamental.” Ele não acredita que as eleições presidenciais brasileiras terão influencia negativa no acordo. “Uma agenda de integração com países em desenvolvimento é defendida por praticamente todos os candidatos”.
Para Zanotto, as tratativas deveriam focar na eliminação de barreiras não tarifárias, facilitação de processos aduaneiros e convergência normativa de produtos. “Essas frentes têm que ser atacadas para serem obtidos resultados mais rapidamente”.
Resposta ao protecionismo
O professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais de São Paulo (Ibmec/SP), Roberto Dumas, chama atenção para a aproximação entre os dois blocos ocorrendo em um momento em que o Estados Unidos tenta impor uma série de medidas protecionistas. “Há um aspecto geopolítico maior, de costurar acordos como resposta a essas políticas de Donald Trump”.
Zanotto acredita que um possível entrave para um acordo mais abrangente é o fato do México estar atualmente envolvido em discussões para a renovação do Acordo de Livre Comércio da América (Nafta). “O país representa 60% do bloco e está focado nessa questão com os EUA. Enquanto isso não se resolver, é difícil que o México se envolva em algum outro acordo”.
Dumas entende que o acordo entre Mercosul e Aliança do Pacífico seria benéfico para indústria brasileira, mas pode mexer com a dinâmica de alguns setores. “Seria ótimo para a economia. Mas para a indústria automotiva, por exemplo, pode trazer competição de fora. Caso o Trump ataque o Nafta e imponha tarifas na importação de veículos, o México pode buscar o mercado brasileiro. Isso poderia conduzir a nossa indústria a uma maior produtividade para ser mais competitiva”.
Zanotto vê o movimento dos EUA também atrapalhar outras negociações do Mercosul. “Conversas com UE, Japão e Canadá ficam difíceis, pois o EUA é um parceiro importante para essas economias e atrasa a negociação conosco.” Especificamente sobre o acordo entre Mercosul e União Europeia, Zanotto espera que pontos importantes, sejam destravados na próxima reunião, marcada para setembro. “Continuamos otimistas de que ao menos o acordo político seja anunciado em 2018. No último encontro houve avanço na parte industrial, mas foi desanimador em relação ao setor agrícola”. (DCI/Ricardo Casarin)