Autônomos questionados

O Brasil Sobre Rodas

 

O avanço constante das pesquisas sobre carros autônomos tem encantado os países do hemisfério norte, onde o alto poder aquisitivo dá margem a novas experiências que prometem um trânsito mais seguro e menos danoso ao meio ambiente. Esse cenário dá margem a pensar no melhor dos mundos, ou seja, soluções ousadas como compartilhamento de veículos e alta conectividade entre veículos e infraestrutura viária.

 

Tudo altamente desejável, porém exige esforço financeiro imenso, longo planejamento, mudanças nas vias, reformulação dos códigos de trânsito e, acima de tudo, tempo, muito tempo. Prefeituras de capitais europeias já anunciaram planos de restrições severas, em alguns casos banimento, à circulação de automóveis sem mostrar como a mobilidade rápida estará garantida. Anunciaram datas de implantação sem o menor compromisso com a viabilidade técnica e/ou econômica.

 

Mas há vozes ponderadas também. O professor de Política Pública do King’s College London, Mark Kleinman, em artigo no site The Conversation deu o instigante título: “E se os veículos autônomos nos fizessem mais dependentes dos carros?”

 

Para ele, “é provável que autônomos aumentem – em vez de diminuírem – o uso do carro, pois as pessoas sucumbem ao fascínio da conveniência, saem do transporte público ou fazem mais deslocamentos. Veículos autônomos podem estacionar fora dos centros urbanos, mas ainda precisam estacionar, além de fazerem viagens de retorno para coletar passageiros, acrescentando carros vazios às estradas e aumentando congestionamentos”.

 

E continua: “Há muitas perguntas sem respostas. Não está claro como veículos autônomos coexistirão com pedestres e ciclistas. Se estiverem programados para parar sempre que um destes entrar em seu caminho, haverá pressão para que automóveis sejam separados de pedestres e ciclistas. A visão das cidades em 2050 pode começar a parecer cada vez mais com a dos anos 1950. Carros futuristas dominariam o cenário, enquanto atividades de andar e pedalar ficariam relegadas a passarelas e metrôs sombrios.”

 

Kleinman termina seu artigo advertindo que prefeitos deveriam ser mais cuidadosos no planejamento e convivência com veículos autônomos. Afinal, precisariam saber antes se pedestres estariam dispostos a obedecer a uma política severa de jaywalk (termo em inglês para atravessar a rua sem observar regras de cruzamento).

 

Evitar ao máximo a interferência entre meios de deslocamento com diferentes velocidades é o sonho de qualquer planejador urbano. Isso, por enquanto, está distante de solução prática e barata. (O Brasil Sobre Rodas/Fernando Calmon)