“O Brasil está atrasado para entrar na quarta onda industrial”

O Estado de S. Paulo

 

Há uma demanda mundial crescente por equipamentos industriais para renovação de máquinas e adequação à chamada indústria 4.0, diz o diretor-presidente da Trumpf do Brasil, João Carlos Visetti. O Brasil, contudo, está atrasado em sua participação na quarta revolução industrial. O grupo alemão é líder global em soluções de produção nas áreas de máquinas-ferramenta, tecnologia a laser e eletrônica. Sua subsidiária, instalada no País há 37 anos, é a maior importadora desses produtos e não abriu fábrica local porque a demanda ainda é baixa.

 

João Carlos Visetti: A demanda por equipamentos está crescendo globalmente porque há uma preocupação geral das empresas com o aumento da produtividade. A tecnologia evoluiu muito e há máquinas de quatro anos atrás que produzem metade do que as atuais. Por isso, existe a corrida pela renovação.

 

Como está o Brasil nessa corrida?

 

O Brasil perdeu a terceira onda industrial, marcada pela robotização, e está atrasado para entrar na quarta. Seu parque industrial tem idade média de 15 a 18 anos. Só agora vemos algumas empresas começarem a se preocupar com automação, digitalização e inteligência artificial. Temos clientes que estão adquirindo equipamentos, principalmente nessa fase de recuperação econômica. Chegamos a vender mais de 150 máquinas em 2013/2014, mas com a crise esse número foi ao fundo do poço – apenas 16 máquinas em 2015/2016. No período seguinte subiu para 26 e, neste ano, deve chegar a 35.

 

O que é preciso para as empresas brasileiras se modernizarem?

 

Muitos países estão colocando a migração para a indústria 4.0 como prioridade e oferecendo subsídios. A Itália, por exemplo, lançou no ano passado um programa de depreciação acelerada para quem investir em soluções 4.0.

 

Além da Alemanha, a Trumpf tem fábricas em mais sete países. Há planos de produção no Brasil?

 

Chegamos a estudar isso, mas o tamanho do mercado brasileiro ainda não comporta uma fábrica. Mesmo respondendo por 40% do mercado local, com clientes na indústria de autopeças e montadoras, por exemplo, ainda é mais barato importar. São máquinas que custam a partir de ¤ 340 mil (cerca de R$ 1,5 milhão, para uma de pequeno porte, para produzir bijuterias, por exemplo) e precisaríamos vender pelo menos 50 unidades de um único modelo para justificar uma fábrica. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)