Fraqueza na indústria

O Estado de S. Paulo 

 

O resultado da indústria em março é mais decepcionante do que mostram as frias estatísticas. Primeiramente, os números. Em relação a fevereiro, o desempenho da produção industrial recuou 0,1%, já levado em conta o desconto sazonal. A expectativa começou a ser frustrada aí, uma vez que as projeções apontavam para um avanço de algo entre 0,5% e 0,8%.

 

O indicador mais expressivo é o de que o encolhimento foi espalhado. Atingiu 14 dentre os 24 subsetores, o que demonstra que a fraqueza não está concentrada em meia dúzia de atividades, como acontece às vezes, mas está relativamente generalizada.

 

O único contraponto relevante desse desempenho fraco está na área de bens de consumo duráveis (veículos e aparelhos domésticos), que avançou 1,0%, e na de bens de capital (máquinas e equipamentos), que foi além, foi a mais 2,1%. A maior procura de bens duráveis parece mostrar que os efeitos da antecipação de compras promovida em 2014 e 2015, pelo governo Dilma, se esgotaram. E o melhor desempenho da área de bens de capital indica que já há maior disposição para o investimento.

 

Não há explicações novas para o baixo desempenho. Tem a ver com o poder aquisitivo ainda raquítico do consumidor, embora o tombo da inflação e dos juros tenha atuado em direção contrária; e com as incertezas que pairam sobre o resultado das eleições deste ano e sobre a qualidade da condução da política econômica a partir de 2019.

 

O alto nível do desemprego é, ao mesmo tempo, causa e consequência. Se o desemprego é alto, o poder aquisitivo do consumidor também fraqueja e, ao mesmo tempo, induz ao adiamento do consumo. E se o desemprego é alto é porque o raquitismo da atividade econômica leva o empresário a pensar duas vezes antes de contratar pessoal.

 

São duas as principais consequências dessa anemia, uma econômica e outra política. A primeira empurra empresários, consultorias e analistas para revisão das projeções inicialmente otimistas para este ano. Fica difícil apostar em crescimento do PIB de 2,7% em 2018 e da indústria em torno de 3%, como constavam dos relatórios no início do ano. Mesmo que, no momento, os analistas e consultores, rastreados pela pesquisa Focus do Banco Central, contem com bons números para o PIB e a produção industrial, depois dos resultados desta quinta-feira o quadro deve se alterar. Os últimos levantamentos do Índice da Atividade Econômica do Banco Central, o IBC-Br, confirmam as projeções mais realistas, digamos assim. Números deverão agora ser revisados para baixo.

 

Também está para ser mais bem avaliado o impacto dessas estimativas mais conservadoras sobre o emprego e sobre o investimento. Marcha mais lenta do que a esperada tende, também, a conter a alta de preços.

 

A principal consequência política deve ater-se ao campo eleitoral. O governo e, com ele, o centrão do leque político contavam com excelente desempenho da economia para atrair o eleitor. Isso fica mais difícil de acontecer.

 

Em todo o caso, esses números são apenas do primeiro trimestre e, ainda assim, estão incompletos. Convém esperar mais alguns meses para formar uma opinião mais abrangente. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)