Setor automotivo defende conteúdo local em acordo entre Mercosul e UE

DCI

 

Agentes do setor automotivo brasileiro concordam que a exigência de conteúdo local no Mercosul é o melhor caminho para zerar, no longo prazo, as tarifas de importação em um possível acordo de livre comércio com a União Europeia. Executivos e dirigentes esperam novidades para breve.

 

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, defendeu a proposta de conteúdo local no Mercosul, desde que fique limitada a 60% das peças que compõem os veículos. “Todo acordo de livre comércio tem uma regra de conteúdo local, isso é absolutamente natural. O pleito da Anfavea é que essa taxa não passe de 60%”, disse.

 

Nas negociações com a União Europeia, o Mercosul, em troca de zerar as tarifas de importação de carros (hoje em 35%) em doze anos, exige que 60% das peças dos veículos sejam fabricadas dentro dos países do bloco.

 

O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Dan Ioschpe, avalia que a ideia de “ser competitivo primeiro e depois partir para integração” não funcionou. “A indústria tem que melhorar sua competitividade em um ambiente de integração, sem proteção do governo”, opina.

 

Para o presidente da Volkswagen América do Sul, Pablo Di Si, a questão do conteúdo local está bem encaminhada e novidades devem sair neste ano em relação a uma proposta formal do Mercosul, com possível aceitação pela União Europeia.

 

Megale acredita que o tratado de livre comércio entre os dois blocos deve correr paralelamente às discussões sobre o Rota 2030 e o futuro do Flex, acordo automotivo entre Brasil e Argentina, que prevê que os brasileiros poderão vender, com isenção de impostos, no máximo US$ 1,50 para cada US$ 1 importado dos argentinos. “Há um grande interesse de convergência, mas temos que lembrar que o acordo não é entre Brasil e UE, e sim entre Mercosul e o bloco”, ressaltou.

 

O presidente da General Motors (GM) Mercosul, Carlos Zarlenga, diz que a indústria automotiva é global e que sempre defendeu o livre comércio. Ele ressaltou, por outro lado, que o mercado sul-americano não pode se abrir sem estar atrelado a reformas importantes. “É fundamental trabalharmos hoje para termos previsibilidade sobre o que vai acontecer a partir de 2020”, comentou em seminário da editora AutoData.

 

Na última terça-feira (24), executivos do setor seguem juntamente com representantes da Anfavea para reunião com o presidente Michel Temer para tratar do Rota 2030. O programa, que substitui o Inovar-Auto (cujo prazo de vigência venceu no último dia 31 de dezembro), espera ser um incentivo aos investimentos em pesquisa e desenvolvimento pelas montadoras.

 

“O plano exige que sejam investidos R$ 5 bilhões em P&D, para que a empresa receba cerca de R$ 1,5 bilhão de renúncia fiscal do governo. O programa faz parte de um conjunto de medidas para estimular a nossa manufatura”, explicou o secretário de desenvolvimento e competitividade industrial do Ministério do Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Igor Calvet.

 

O secretário também reafirmou a importância da indústria automotiva para a economia. “Além da massa enorme de trabalhadores, a arrecadação do setor é enorme. Em 2016, chegou a mais de R$ 40 bilhões”, frisou.

 

Flex

 

Os executivos do setor também estão preocupados com a falta de horizonte para além do fim do acordo Flex, previsto para março de 2020. Pablo Di Si aponta que alguma clareza deve surgir no segundo semestre e que o tratado deve mudar sua proporção de US$ 1,50 até US$ 2 no longo prazo.

 

De acordo com o presidente da Toyota Argentina e membro do comitê executivo da Asociación de Fábricas de Automotores (Adefa), Daniel Herrera, Brasil e Argentina deveriam harmonizar suas normas regulatórias para o setor em nome de uma maior eficiência comercial. “Se tivéssemos um regime automotivo comum, poderíamos decidir as maneiras de crescer de forma mais equilibrada para ser sustentável no longo prazo”, apontou. (DCI/Ricardo Bomfim)