O Estado de S. Paulo
Com previsão de crescimento de quase 25% nas vendas neste ano, após a pequena recuperação em 2017, de 3,2%, as fabricantes de caminhões e ônibus começam um movimento de contratações, ainda que os números estejam muito longe de compensar os cortes realizados no período da crise econômica.
A Volvo anunciou ontem a contratação de 250 funcionários para retomar o segundo turno de produção na unidade de caminhões da fábrica de Curitiba (PR), que estava suspenso desde meados de 2015. Além do mercado interno, o reforço é para atender as exportações da marca, que aumentaram 27% no ano passado em relação a 2016.
No período mais drástico da crise, entre 2015 e 2016, a marca sueca reduziu seu quadro de funcionários em 20%, e emprega atualmente 3,4 mil trabalhadores. “As contratações, em princípio, são temporárias, por cerca de um ano, mas esperamos que se transformem em vagas efetivas”, diz o presidente da Volvo América Latina, Wilson Lirmann, que ontem apresentou, em São Paulo, o balanço das operações do grupo no País.
No início do ano, a Mercedes-Benz também contratou 272 trabalhadores para a fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde produz caminhões, ônibus e componentes. Além disso, tem convocado os funcionários para horas extras em sábados alternativos.
Segundo o presidente da empresa no Brasil, Philipp Schiemer, se a demanda continuar aquecida a companhia poderá voltar a operar em dois turnos a partir de maio. Nos últimos quatro anos, a fabricante eliminou mais de 5 mil vagas e emprega atualmente cerca de 7 mil pessoas no ABC e 700 em Juiz de Fora (MG). Parte dos cortes é resultado da crise, mas também houve uma reestruturação das operações do grupo.
A Anfavea, associação do setor, prevê para este ano alta de 24,7% nas vendas de caminhões e ônibus, para 79,5 mil unidades, e de 16,2% na produção, para 120,3 mil unidades. O melhor ano do setor foi em 2011, quando foram vendidos 207,4 mil veículos dos dois segmentos.
Sem reformas
A recuperação será lenta, afirma Lirmann, “mas finalmente interrompemos e sequência negativa da crise”. As previsões de melhora, diz o executivo, têm como base a inflação sob controle, juros em queda, agricultura forte, retomada da confiança de consumidores e da indústria e aumento do emprego e do consumo.
O presidente da Volvo, contudo, se mostra preocupado com o adiamento de medidas como as reformas da previdência, tributária e política. “Temos um encontro marcado com as consequências de tomar ou não essas decisões”, diz. Ele também espera que as lideranças políticas, principalmente em ano de eleições, coloquem as agendas econômica e política de forma transparente. “Apesar de dizerem que a economia se descolou da política, há um limite para isso por causa dos desafios a serem apresentados, e isso depende da política.”
Em 2017, a Volvo vendeu 5.699 caminhões pesados e semipesados no mercado interno e exportou 4.637, num total de 10.336 unidades, alta de 20% ante 2016. Para este ano, a empresa espera alta próxima a 30%, a mesma projetada para o mercado total de modelos com capacidade acima de 16 toneladas de carga, segmento em que atua. As vendas de ônibus somaram 1,8 mil unidades e este ano devem chegar a 2,2 mil. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)