AutoIndústria
A tecnologia japonesa parece não ser o suficiente para vender mais carros no Brasil. Ao menos é o que sugere a participação da Nissan, que segue apenas como a décima posição no ranking das marcas mais vendidas de automóveis e comerciais leves, apesar de explorar à exaustão a consagrada competência nipônica em suas campanhas publicitárias.
Apesar de crescer meio ponto porcentual com relação ao ano anterior, a Nissan detém ainda apenas 3,6% do mercado brasileiro em 2017. Não é nada muito diferente do que vem colhendo nos últimos anos, mesmo ponderando-se a declaração de seu presidente, Marco Silva, de que a empresa “veio para ser grande” e que pretende “crescer de forma consistente, sem atropelos”.
Afinal não faltaram investimentos em estrutura produtiva, inclusive com sua primeira fábrica exclusiva inaugurada em 2014 em Resende (RJ) – de onde saem três modelos nacionais -, em reforços comerciais e principalmente em marketing.
É bom lembrar que há exatos dois anos jornais, revistas, mídias digitais e canais de tevês receberam uma enxurrada de campanhas da Nissan por conta dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, palco inclusive da apresentação do Kicks, principal modelo da empresa hoje aqui.
As imagens do SUV diariamente escoltando a tocha olímpica por todo o País durante todo o primeiro semestre de 2016 até a abertura dos jogos, além de um enorme aparato físico na cidade-sede das Olimpíadas, não se trata de mera ação de lançamento, e sim decisão estratégica global.
Exatamente por isso chama a atenção o ainda o tímido desempenho nas vendas internas e, em especial, de alguns produtos. É o caso do March, carro de entrada da marca, já dotado de moderno motor 1.0 tricilíndrico.
Em 2017 foram emplacadas apenas 14 mil unidades do hatch pequeno, o 38º lugar no ranking de vendas de automóveis. Levantamento da Fenabrave aponta que, dentro do segmento de hatches pequenos, o March é apenas o sétimo colocado, com ínfimos 2,8% de participação. Para se ter uma ideia, o líder Chevrolet Onix vendeu quase 189 mil unidades, treze vezes mais do que o hatch da Nissan.
A situação do sedã Versa é um tanto menos desvantajosa, mas ainda assim bem aquém do líder novamente. Com 23,4 mil unidades negociadas, foi somente o oitavo sedã pequeno mais vendido, ou cerca de um terço dos 69 mil Chevrolet Prisma emplacados.
Até mesmo as duas mais recentes e importantes apostas da marca, Kicks e picape Frontier, ainda não brilharam o suficiente para garantir à Nissan fôlego semelhante a, por exemplo, Hyundai e Jeep, tão novatas aqui como a montadora japonesa e que fecharam 2017, respectivamente, com 9,3% e 4,1% de participação, quinta e nona marcas mais vendidas. Importante: as duas têm a desvantagem de não contar com picapes.
A renovada Frontier até merece um desconto pelo noviciado no ano passado. Afinal a picape produzida na Argentina chegou ao mercado brasileiro já no fim do primeiro trimestre e somou 4 mil unidades em nove meses de vendas, fechando na oitava colocação entre as picapes grandes, com 2,4% de participação.
Mas em janeiro último o desempenho não foi nada diferente e aí a desculpa já não pode servir: com 446 emplacamentos, manteve exatamente as mesmas fatia e posição.
Ainda que a Fenabrave agrupe no mesmo segmento picapes distintas como Fiat Toro e Renault Oroch, ambas de menor porte, a da Nissan ainda está muito atrás de outras com o mesmo perfil. Só no primeiro mês de 2018, por exemplo, a Toyota Hilux teve 4 mil unidades vendidas, nove vezes mais do que a Frontier.
Já o SUV Kicks, carro mais vendido da marca no Brasil, começa somente agora a fazer sombras para os líderes do segmento, apesar de todos os holofotes voltados para ele e de sua maciça produção, que chega a responder por metade das unidades montadas diariamente em Resende desde meados do ano passado – nos primeiros meses o modelo era importado do México.
Em janeiro, foram emplacados 3,3 mil unidades, o terceiro melhor resultado do segmento, atrás somente do líder Jeep Compass, com 4,5 mil unidades, e do Honda HR-V, 3,8 mil.
No ano passado, porém, suas quase 33,5 mil unidades emplacadas representaram somente a oitava posição no segmento de utilitários esportivos, com 8% de participação, e a décima-oitava no geral, desempenho para lá de discreto. O líder Jeep Compass, bem mais caro e que tem exatamente o mesmo tempo de mercado do Kicks, superou os 49 mil emplacamentos. (AutoIndústria/George Guimarães)