Macri encontra “jeitinho inteligente” para frear carros brasileiros

O Estado de S. Paulo

 

A indústria automobilística brasileira está preocupada com a decisão do presidente da Argentina, Mauricio Macri, de exigir cartas de crédito das montadoras locais como garantia de que vão honrar eventuais multas a serem aplicadas em 2020 para quem ultrapassar o “flex”.

 

O termo é usado para definir a regra do acordo automotivo entre os dois países estabelecendo que, para cada US$ 1 importado da Argentina, o Brasil pode exportar US$ 1,5 livre de impostos.

 

As notificações de cobrança começaram a chegar às fabricantes argentinas na semana passada, mas nenhuma delas – assim como as coirmãs do Brasil – informou até agora quem são as “punidas”, nem valores a serem depositados e prazos.

 

São alvo as empresas que importaram carros brasileiros além do estabelecido no flex. No ano passado essa diferença ficou em mais de US$ 2.

 

A multa sobre o valor extrapolado só será efetivamente daqui a dois anos, quando vence esse acordo. Mas Macri, alegando receio de calote, encontrou uma forma “inteligente” de antecipar o recebimento da multa que até julho de 2020 poderá desaparecer se o “flex” for cumprido no acumulado desde julho de 2016.

 

Está claro para as montadoras brasileiras, e até para o governo, que a cobrança antecipada é uma forma de reduzir as importações do Brasil. Mandatários que antecederam Macri também adotaram medidas com esta finalidade, mas de forma mais drástica, por exemplo barrando carros na fronteira.

 

Ociosidade

 

A preocupação das companhias instaladas no Brasil é que uma queda nas importações argentinas pode atrapalhar a recuperação da produção, que tem ajudado o setor a reduzir a ociosidade das fábricas e até mesmo a retomar turnos de produção suspensos durante a crise.

 

Do crescimento de 25,2% na produção brasileira no ano passado – com saldo de 2,699 milhões de veículos –, metade veio das importações da Argentina, segundo fontes do setor automotivo.

 

Macri, por sua vez, está preocupado com o déficit da balança comercial total do país, que foi de US$ 8,4 bilhões, metade disso da relação comercial com o Brasil que, por sua vez, teve superávit total de US$ 8,1 bilhões, quase 90% a mais que no ano anterior.

 

Um freio nas encomendas argentinas vai atrapalhar os planos das montadoras nacionais de aumentar a produção em 13,2% neste ano, para 3 milhões de veículos. As linhas de montagem perderiam a chance de dar mais um passinho para chegar à tão sonhada produção de cerca de 5 milhões de veículos para a qual as fábricas estão preparadas. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)