Mercado de veículos médios deve acirrar disputa entre as montadoras

DCI 

 

Após a mais profunda e prolongada crise que o setor automotivo já viveu no País, agora é o momento das montadoras afiarem as garras para não perder mercado. Com a melhora da economia e o importado mais barato, as categorias de veículos médios vão ter a concorrência mais acirrada.

 

As vendas do setor automotivo só começaram a ganhar corpo, de fato, em meados do primeiro trimestre do ano passado, após quatro anos extremamente difíceis para a indústria brasileira. O mercado doméstico passou de 3,8 milhões de unidades em 2012 – o quarto maior do mundo – para 2 milhões de unidades em 2017.

 

Neste cenário, emergem modelos de maior valor agregado em detrimento dos compactos de entrada, que sempre representaram a maioria esmagadora dos emplacamentos no Brasil. Entre os destaques estão o sedã Corolla, da Toyota, e o utilitário esportivo (SUV) HR-V, da Honda, que estão muito longe da alçada da grande maioria da população.

 

Para se ter uma ideia do quanto mudou o cenário brasileiro no setor, no auge da crise o Corolla chegou a figurar como o quinto carro mais vendido do País, custando em torno de R$ 90 mil.

 

Mas agora com a retomada econômica e com a extinção dos 30 pontos extras do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) para importados, a expectativa é que os compactos de entrada voltem a ganhar volumes, mas a disputa mais acirrada deve ficar entre os veículos médios, onde haverá novos competidores.

 

“Os carros médios devem ter um nível muito forte de concorrência no País, principalmente os SUVs e picapes, que no mundo já representam o maior mercado das montadoras”, avalia o consultor da Sell-Out 3, Arnaldo Brazil.

 

No mercado brasileiro, estes dois segmentos já demonstram um vigor que antes não era visto, principalmente com a oferta mais diversificada das marcas. Em picapes, por exemplo, o consumidor que queria um veículo pequeno tinha que se contentar com apenas três modelos e pagar acima de R$ 60 mil. Hoje, a oferta foi ampliada e novas categorias foram criadas com a chegada de produtos como a Toro (Fiat) e a Duster Oroch (Renault).

 

Contudo, a verdadeira estrela em ascensão continuará sendo o SUV. “O segmento é um sucesso no mundo todo, principalmente em países com grandes extensões territoriais, como é o caso dos EUA, Austrália e do Brasil”, analisa o consultor da Sell-Out 3.

 

O SUV escalou surpreendentemente o ranking de mais vendidos do País, mesmo aqueles mais caros, como o Compass, da Jeep. Com preço que parte de aproximadamente R$ 107 mil, o modelo figura entre os mais emplacados do mercado nacional. Mas dentre as categorias do segmento, surgem opções diversas ao consumidor, que vão de modelos mais espartanos até produtos extremamente sofisticados.

 

Somente em 2017, dos aproximadamente 50 modelos lançados no Brasil entre nacionais e importados, novas versões e inéditos, quase metade foi de SUVs. Algumas marcas passaram inclusive a chamar seus compactos de utilitários esportivos para chamar a atenção dos consumidores.

 

Importados

 

O fim do Inovar-Auto, que estabelecia cotas para importados sem majoração de 30 pontos do IPI, deve adicionar uma pitada importante de competição ao mercado local, especialmente nas categorias de veículos médios.

 

“O mercado automotivo está passando por uma transformação no mundo todo, especialmente com as alternativas de compartilhamento de veículos”, pontua Brazil. “O brasileiro começa a perceber o valor do carro e o mercado vai ficar muito mais competitivo.”

 

Segundo o consultor, os sul-coreanos devem intensificar a sua atuação no Brasil, caso da Kia, que anunciou investimentos de R$ 100 milhões no País com o fim do regime automotivo. A compatriota SsangYong também anunciou seu retorno, pela terceira vez, ao mercado brasileiro, com a proposta de “produtos premium com preços competitivos” e principais concorrentes diretos os SUVs da Honda, Jeep, Hyundai e Kia.

 

Mas os chineses também devem tentar um contra-ataque. “A Chery está se reestruturando e a JAC Motors vai ter que reconquistar a confiança do brasileiro”, antecipa.

 

Para o consultor, a chegada de importados com mais força ao País favorece todas as categorias. “Até o mercado acima de R$ 100 mil é muito interessante e este consumidor não quer desperdiçar dinheiro. Ele vai escolher muito bem suas opções. Estou animado com o cenário que se desenha”, diz. (DCI/Juliana Estigarríbia)