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Os efeitos globais da extensão do acordo de cortes de produção pela Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) provocam reações divergentes no mercado. Porém, o cenário atual força o Brasil a melhorar a competitividade.
O acordo, originalmente assinado em 2016, visa reduzir os estoques globais e reequilibrar a oferta e a demanda, provocando aumento no preço do barril. O tratado ainda conta com a participação de outros países produtores, entre eles a Rússia.
Enquanto alguns analistas acreditam que o aumento do consumo mundial tenha fortalecido o cartel, outros enxergam diminuição de seu poder de barganha diante do iminente papel dos Estados Unidos como maior produtor mundial de petróleo.
O especialista em negócios internacionais da Mercator Business Intelligentsia, Matheus Borella, avalia que o mercado financeiro não acreditava que a estratégia teria sucesso e vê a Opep fortalecida após um período de perda de influência.
“O cartel está ganhando força. Recentemente, os países não membros da Opep e fontes de energias renováveis ganharam espaço. Mas a Rússia aderiu aos cortes, o que foi uma grande surpresa. Com o aumento do consumo mundial, a tendência é de aumento nos preços”, analisa.
Já o sócio da área de óleo e gás da KPMG, Anderson Dutra, não vê mais a Opep ditando as regras do jogo. “O custo de produção hoje é um fator mais relevante. O EUA tem um alto poder de barganha e viabiliza diversos projetos de petróleo de xisto. O impacto do acordo não veio como esperado”.
O também especialista em negócios internacionais da Mercator Business Intelligentsia, Jorge Mortean, explica que após viver um período de bonança na década passada, a Opep passou por dificuldades. “O preço do petróleo era alto e havia demanda. O Ocidente começou a buscar fontes alternativas de energia e menor dependência de petróleo. Com a crise mundial, o cartel perdeu algum poder de barganha”.
Entre 2014 e 2016, a Opep havia elevado a produção num esforço para barrar o enorme crescimento de petróleo de xisto produzido no EUA. A estratégia funcionou, mas também causou danos às economias dos países produtores.
O último relatório mensal da Opep mostra que a oferta mundial de petróleo cresceu a uma média de 97,4 milhões de barris por dia (bpd) em dezembro, 0,83 milhões de bpd a mais que um ano antes. Em países não membros, o crescimento anual estimado é de 0,77 milhões de bpd, incluindo a oferta de gás natural líquido, chegando a uma média de 57,79 milhões bpd.
O valor médio anual do Brent em 2017 foi de cerca de US$ 54,4 por barril. Para 2018, a projeção é de US$ 61,19. Porém, a cotação pode ser maior caso os cortes de produção persistam além de 2018. “É possível que a média dos preços para este ano cresça ainda mais”, diz o analista de petróleo e gás da Tendências Consultoria, Walter Vitto.
Declarações recentes de dirigentes dos membros da Opep apontam para a extensão do acordo para o fim do 1º semestre de 2019. “O cenário aponta a um Brent máximo de US$ 70”, projeta Dutra.
Impacto no Brasil
Analistas concordam que o cenário força o Brasil a buscar mais competitividade e redução do custo da produção.
“Isso ocorre através de uma agenda regulatória eficiente, estabilidade política e planejamento”, afirma Dutra. “Éramos um País de alto custo de produção, mas isso já foi alterado”. Segundo ele, em 2017 a Petrobras anunciou a redução do custo de extração no pré-sal para menos de US$ 7 por barril. “O Brasil está ganhando market share global”, diz Vitto.
O boletim mensal da Agência Nacional do Petróleo (ANP) aponta que, em dezembro, a produção de petróleo e gás no pré-sal atingiu, pela primeira vez na história, mais da metade da produção nacional.
O volume anual de petróleo foi de 957 milhões de barris, 4% superior em relação a 2017.
Também em 2017, a estatal passou a adotar uma nova política de preços que segue a lógica do mercado internacional. “Antes os preços eram pautada pela inflação e políticas internas”, explica Borella.
Como consequência, a variação de preço provocada pelo acordo da Opep reflete diretamente no Brasil. (DCI/Ricardo Casarin)