O Estado de S. Paulo
As montadoras instaladas no Brasil receberam, no ano passado, US$ 12,4 bilhões das matrizes. Desse total, US$ 8,5 bilhões entraram no País em empréstimos a serem pagos futuramente e US$ 3,9 bilhões em forma de participação de capital, a fundo perdido.
Já as filiais brasileiras enviaram às matrizes US$ 232 milhões em forma de remessa de lucros, bem acima dos US$ 86 milhões entregues em 2016, mas totalmente distante dos US$ 5,5 bilhões remetidos em 2011, antes do início da crise econômica.
Essa ajuda das empresas mães, que se repetiu também em 2015 e 2016, pode estar se esgotando. Executivos do setor afirmam que as acionistas começam a ficar com déficit de capital porque precisam priorizar investimentos em novas tecnologias de eletrificação e autonomia dos veículos.
Na visão de um executivo do setor, o mundo está numa guerra na área de manufatura, porque há um desafio gigante para desenvolver o carro do futuro. E o Brasil está fora dessa guerra.
Rota 2030
Enquanto vários países avançam nas tecnologias da indústria 4.0 e da robotização dos automóveis, no Brasil as montadoras esperam a definição do novo regime automotivo, chamado de Rota 2030, e brigam por um incentivo anual de US$ 1,5 bilhão para ser aplicado em pesquisa e desenvolvimento.
O valor é o mesmo recebido nos últimos cinco anos e aplicados, por exemplo, em projetos que permitiram reduzir o consumo de combustível dos automóveis entre 12% e 18%. Segundo o Ministério da Indústria (MDIC), com essa redução haverá economia de R$ 7 bilhões ao ano em combustíveis, além de ganhos ambientais.
O Rota está parado nas mãos do Ministério da Fazenda, que espera a decisão sobre a reforma da Previdência para liberar (ou não) o programa. A seu favor, a indústria usa os argumentos de sempre: o setor é responsável por 22% do PIB industrial, arrecada R$ 40 bilhões em impostos por ano e gera empregos qualificados.
Mesmo exaltando sua grandeza, dirigentes do setor tiveram de “engolir” citação de um assessor especial da Fazenda de que o Brasil não precisa de indústria automobilística, pois países que não abrigam fábricas de carros, como a Austrália, estão muito bem…
A favor ou não de subsídios às montadoras, é fato que o setor tem enorme importância para um país. Tanto que as maiores economias globais têm forte parque automotivo. É um setor inovador, tem uma vasta cadeia produtiva atrás e à frente, introduz novas tecnologias e oferece empregos qualificados – e mesmo o peão ganha mais do que em empresas de vários outros segmentos. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)