Folha de Londrina
Quinze anos atrás, o Gol 1.6 Total Flex chegava ao mercado dando liberdade para o consumidor escolher o combustível que queria usar. De lá para cá, os carros flex se popularizaram e as montadoras investiram em tecnologia. A partida a frio foi eliminada, mas a grande inovação é a eletrônica embarcada nos novos automóveis que permite que o tanque receba etanol e gasolina ao mesmo tempo.
O gerenciamento eletrônico do carro consegue fazer uma leitura rápida do tipo de combustível que está sendo usado e adaptar o sistema. Os modelos anteriores a 2013 precisam andar preferencialmente com etanol ou gasolina. E, para a troca do tipo de combustível, deve-se andar pelo menos 15 minutos antes de desligar o carro para que o sistema se adapte. “Durante a viagem o novo combustível vai passando pelo motor e o sistema faz o que chamamos de autoaprendizado”, explica Fernando Shuartz, professor do curso técnico de Manutenção Automotiva do Senai de Curitiba.
Quem não observa esse procedimento pode acabar a pé. Depois de desligar o carro, a central de injeção eletrônica pode desconfigurar e o carro não pega no dia seguinte. A reconfiguração é feita por um profissional de autoelétrica. Foi o que aconteceu com a consultora de vendas Josiane Tavares, 37. Desde que comprou seu Celta 2013 sempre usou etanol. Mas no ano passado decidiu trocar por gasolina. Ela esperou entrar na reserva para encher o tanque. No dia seguinte o carro não pegou. Em princípio, ela pensou que pudesse ser bateria.
A consultora de vendas levou o veículo em várias oficinas até descobrir que o problema era o sistema do computador de bordo. “Fiquei quase um mês sem carro. Tive que fazer a parte elétrica”, conta. No final do ano passado, ela teve o mesmo problema, depois que emprestou o carro e a pessoa colocou gasolina.
O proprietário da Fórmula Car, Bruno Alves Silva, afirma que casos assim são comuns. Em dezembro, ele consertou três veículos. “Os donos dos carros não têm noção de que esse problema pode ocorrer. O movimento aumenta mais no inverno, quando o pessoal deixa o álcool de lado”, explica.
Defeitos
Mas andar sempre com o mesmo tipo de combustível pode mascarar defeitos nos sensores da central de injeção eletrônica. “Um carro que só anda com gasolina e nunca viu etanol, por exemplo, pode autoadaptar-se a algum defeito e quando ele trocar para o etanol esse problema pode aparecer. Por isso, o manual do proprietário recomenda trocar de combustível de tempos em tempos para que esses defeitos possam aparecer antes de ser algo mais sério”, orienta o professor.
Os carros movidos a etanol apresentam um rendimento melhor do motor e são 96% menos poluentes. Por outro lado, consomem mais. Se um carro faz 10km/litro na gasolina, ele fará 7km/lt no etanol. Por isso, os especialistas dizem que só fará diferença no bolso abastecer com ele se a diferença para o litro da gasolina for mais de R$ 0,70/litro.
Emissões
motor dos carros flex mudou pouco. No entanto, as montadoras estão focadas na redução das emissões atmosféricas, em função dos controles mais rígidos da legislação. “É a parte que o usuário não vê, mas que atinge o carro como um todo. Hoje, a tecnologia embarcada permite que eu misture etanol e gasolina em qualquer proporção, sem precisar ter que andar os 15 minutos. Os sensores entendem na hora o tipo de combustível que está em uso”, afirma.
A cada dois anos a indústria automotiva vem dando uma virada de chave na tecnologia dos flex. No começo da década, por exemplo, o flex queimava 70% de combustível. Hoje, esse número mudou para 50%. (Folha de Londrina/Aline Machado Parodi)