O Estado de S. Paulo
A zona do euro, o conjunto de 19 países da União Europeia que adotam a moeda única, registrou em 2017 seu melhor desempenho econômico em 10 anos. Os números foram divulgados ontem pelo Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat), em Bruxelas, e indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) da união monetária avançou 0,6% no último trimestre, fechando o ano com crescimento de 2,5%. O resultado é o melhor desde 2007, quando a alta foi de 3%.
Os números são ainda mais animadores na comparação com outras economias desenvolvidas. A zona do euro foi igualada apenas pelo Japão, e superou os Estados Unidos, que cresceu 2,3% no ano passado, e o Reino Unido, que registrou alta de 1,8%. Esse é o segundo ano consecutivo que a economia americana, grande referência da europeia, fica para trás. Em 2016, a zona do euro havia evoluído 1,7%, contra 1,5% do outro lado do Atlântico. Esses resultados levam analistas a acreditar que os últimos resultados não são conjunturais, e que as economias retomaram uma trajetória positiva após a longa crise das dívidas, iniciada na Grécia.
Os dados nacionais serão divulgados hoje, mas os números já conhecidos na Europa do sul mostram que a retomada foi generalizada. Em toda a Europa mediterrânea, o desempenho foi positivo, com destaques para a Espanha, cujo PIB subiu 3,1%, e para a França, que teve alta de 1,9% – o maior índice desde 2011. Itália e Portugal, que enfrentaram recessão crônica, também voltaram a crescer.
Outra boa notícia foi a disseminação da performance positiva em diferentes áreas da economia europeia. Embora os dados setoriais ainda não sejam conhecidos, os primeiros elementos indicam que o comércio e a indústria foram motores do crescimento. O investimento das empresas também foi decisivo. “Desde 2014, o investimento representou quase a metade do crescimento”, explica Michel Martinez, economista-chefe para Europa do banco Société Générale.
Graças à maior demanda dos Estados Unidos e da China, as trocas comerciais aumentaram 1,3% em relação a 2016. Com isso, as exportações ganharam oxigênio, avançando 4,1% no ano passado, de acordo com levantamento do banco Rothschild. A demanda interna também foi forte, em especial na Espanha e em Portugal, que saem da dinâmica da austeridade fiscal.
Trabalho
Mas o consumo só pôde avançar graças à melhora do nível de emprego e do poder de compra das famílias. Em toda a zona do euro, o desemprego teve forte baixa, recuando de 9,6% para 8,7%, o menor nível desde 2009. Desde 2013, mais de 7 milhões de empregos foram criados nos 19 países.
Os resultados nacionais, porém, mostram alto contraste entre países. Enquanto Alemanha e Holanda vivem o pleno emprego, com 3,6% e 4,4% de desempregados, respectivamente, Grécia, com 20,5% da população ativa sem vaga, e Espanha, com 16,7%, continuam a sofrer com a crônica falta de postos.
O segundo ano consecutivo de bom desempenho animou os economistas, que acreditam que a espiral positiva tende a se manter em 2018. Segundo a Comissão Europeia, que sempre opta por previsões conservadoras, a zona do euro deverá voltar a crescer, embora em nível mais discreto: 2,1%. O Banco Central Europeu (BCE) indica perspectiva de alta de 2,3%. (O Estado de S. Paulo/Andrei Neto)