Fiat não vai “empurrar” carros para alavancar vendas, diz presidente

Auto Esporte

Depois de renovar boa parte de sua linha nos últimos anos, a Fiat espera os resultados agora em 2018. “Será o ano da colheita”, disse o presidente do grupo Fiat Chrysler (FCA) para a América Latina, o brasileiro Stefan Ketter, na terceira entrevista da série do G1 com presidentes das montadoras que mais vendem.

As novas “armas” são o sedã Cronos, que será lançado em breve, e seu “irmão” Argo, vendido desde agosto último. Na disputa pelo mercado, Ketter afirmou que esses lançamentos “terão seu crescimento natural” e que a Fiat não usará de métodos “artificiais”, como descontos, para alavancar vendas.

Para o executivo, Argo e Cronos são referências para o grupo: “Talvez sejam os melhores carros que já fizemos.”

O Argo, no entanto, teve quase todas as unidades convocadas para recall no fim do ano, por risco de o airbag do motorista não funcionar corretamente.

Ketter também comentou a nota baixa (1 estrela) do Mobi no teste independente do Latin NCap, no ano passado. O subcompacto se saiu mal no teste de colisão lateral, que passou a fazer parte do protocolo do Latin NCap em 2016.

Além do Mobi, o Latin NCap, que avalia carros vendidos na América Latina, reprovou, pelo mesmo motivo, o Ford Ka e o Chevrolet Onix, que, em novo teste, obteve 3 estrelas após ganhar reforços estruturais.

O teste de colisão lateral não é exigido atualmente pelo governo brasileiro para autorizar a venda de carros, mas passará a ser obrigatório a partir de 2020, conforme anunciado na última terça (22).

Veja abaixo mais trechos da entrevista.

Ao falar sobre as previsões para o ano, o presidente da Fiat pediu cautela ao setor.

Para a FCA, a venda de veículos no Brasil em 2018 deverá ter o mesmo crescimento de 2017, “de cerca de 10%”.

Sobre o próximo regime automotivo, o Rota 2030, que deve entrar em vigor ainda neste ano, Ketter elogiou a duração do plano, de 13 anos: “Seríamos um dos primeiros no mundo a ter essa perspectiva tão longa”.

Questionado sobre a disputa pela liderança entre as marcas, que há 2 anos pertence à Chevrolet, o executivo destacou o protagonismo da FCA em segmentos como o dos SUVs, com a Jeep, que também pertence ao grupo.

Ketter disse não descartar que a Fiat volte a ter um SUV – seu único representante foi o Freemont, baseado no Dodge Journey, que foi vendido entre 2011 e 2016. Mas ele não vê sentido em modelos que concorram com os da marca-irmã.

Ketter não informou quando a fábrica de Pernambuco, onde são feitos Jeep Compass e Renegade, e a picape Fiat Toro, alcançará a capacidade máxima de produção. Mas sabe que será “em um mercado (com) menor (volume de vendas) do que imaginávamos”.

Ao responder à pergunta de um internauta sobre o impacto da recente reforma trabalhista no preço dos veículos, Ketter disse que a gestão das empresas vai melhorar, o que pode enxugar custos. “Assim, nós evitamos perdas adicionais e imprevistos que tanto tínhamos no passado”.

E também apontou o peso dos impostos no custo.

O executivo diz esperar que o Rota 2030 preveja a retomada do que chama de carga normalizada dos impostos. “Nada que seja importante no momento, ainda mais com a arrecadação orçamentária do governo, mas no médio, longo prazo, tem que se retornar a uma normalidade.”

O Rota 2030 voltou a ser tema quando Ketter respondeu sobre segurança dos carros. Segundo ele, o plano, ainda não divulgado, terá novas exigências que vão promover um nivelamento dos veículos nesse aspecto.

“E todo mundo tem que arcar com os mesmos procedimentos, independente do Latin NCap, que é uma instituição privada, com muita positividade, mas não tudo é conforme aquilo que realmente faz faz sentido”, completou.

Sobre o futuro do carro, Ketter não vê um Brasil cheio de carros elétricos, apesar de dizer que o país ter potencial para a tecnologia.

“A matriz de energia do Brasil já é bastante interessante (para os elétricos) porque a maioria já é água”, destaca. “Mas temos que achar os consumidores que pagariam por essa eletrificação (dos carros), porque a eletrificação não é a custo zero”, afirmou.

Para o presidente da FCA, o país a principal arma do país para reduzir a emissão de poluentes é, na verdade, o etanol. (Auto Esporte/Luciana de Oliveira e André Paixão)