Empréstimo para compra de veículos alcança maior patamar desde 2014

DCI 

 

Os financiamentos para aquisição de veículos alcançaram, em novembro, o maior patamar desde dezembro de 2014. Apesar do esforço dos bancos em incentivar o crédito, o cenário ainda fica bastante fragilizado pelo ambiente macroeconômico e político.

 

Os últimos dados do Banco Central (BC) apontam que, no penúltimo mês de 2017, os empréstimos para aquisição de veículos ficaram em um total de R$ 8,218 bilhões, número 23,8% maior do que o observado em igual mês de 2016 (R$ 6,634 bilhões) e o maior patamar de concessões em quase três anos (R$ 10,125 bilhões).

 

Segundo o professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais do Distrito Federal (Ibmec-DF) Marcos Melo, o movimento vem, não apenas pelo aumento do consumo, mas pela maior confiança no futuro, que tem alimentado tanto a oferta quando a demanda.

 

“Apesar de tímido, o crescimento da economia tem se mostrado e, com ele, a maior confiança do consumidor e dos credores. Todos estão acreditando mais no futuro e a tendência de queda dos juros ainda deve ser bastante positiva para o mercado”, avalia o especialista.

 

Nessa linha, as taxas do sistema financeiro cobradas em empréstimos para aquisição de veículos também mostraram um recuo considerável, de 3,8 pontos percentuais em novembro de 2017, contra igual período de 2016 (de 25,9% ao ano para 22,1% ao ano) O juro registrado é, ainda, inferior ao observado em dezembro de 2014, quando estava em 22,3% ao ano.

 

Segundo o professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Pedro Raffy Vartanian, embora os problemas econômicos ainda existam, o mercado começa a se “ajustar à realidade”.

 

“O crescimento, por exemplo, ainda será conservador por conta do cenário macroeconômico e político, mas muitas das concessões já estão acontecendo em função da inadimplência”, acrescenta.

 

À exemplo das taxas de juros, os calotes da modalidade também registraram, em novembro, um índice 0,9 ponto percentual menor do que o visto no mesmo intervalo de 2016 (de 4,7% para 3,8%). O indicador também é menor do que o observado em dezembro de 2014, quando era 3,9%.

 

“Ainda vai depender de como o ambiente do País vai se comportar no longo prazo, mas muitas coisas também devem colaborar para que os empréstimos para aquisição de veículos cresçam”, pontua Melo, e acrescenta que, além da própria confiança maior do consumidor, há reflexos da indústria automobilística.

 

“Esse setor sofreu muito durante a crise e, com um cenário de melhora, a indústria terá maior espaço de atuação para tentar se multiplicar, com taxas mais competitivas, por exemplo, ou ações que impulsionem seus estoques.”

 

O Banco Mercedes-Benz, por exemplo, já foi uma dessas instituições, a qual divulgou, ontem, uma campanha de condições especiais para quem contratasse um financiamento de veículo em janeiro, com taxas de juros a 0,59% ao mês para prazos de 12 a 24 meses para modelos específicos.

 

Os juros médios mensais do mercado ficaram em 1,7% em novembro de 2017, com prazos em torno de 42,5 meses.

 

“Fechamos 2017 com o melhor resultado no segmento de automóveis da nossa história, financiando um de cada quatro carros vendidos pela Mercedes-Benz. Já fizemos a campanha no ano passado e foi muito bem aceita e, agora, a espera é que a taxa competitiva traga um crescimento ainda maior neste ano”, comenta o diretor comercial da companhia, Diego Marin.

 

Ele reforça, porém, que a indefinição política e econômica ainda pode trazer impactos.

 

“A depender das reformas e da corrida eleitoral, as taxas podem ficar menos flexíveis e mais firmes”, acrescenta.

 

À mercê da agenda

 

Ao mesmo tempo, os especialistas consultados pelo DCI reforçam a necessidade do andamento da agenda do governo.

 

“Se as reformas não passarem, há a possibilidade de o governo olhar para o mercado de crédito como uma saída para a cobrança de tributos maiores. De outro lado, as eleições também podem influenciar na percepção de risco por parte dos bancos. A expectativa é positiva, mas ainda estamos à mercê do que vêm por aí”, conclui Melo, do Ibmec. (DCI/Isabela Bolzani)