Diário do Grande ABC
O ano de 2017 para o setor automotivo no Grande ABC foi marcado por uma palavra: recuperação. O baque da dobradinha de intensa crise econômica entre 2015 e 2016 foi forte, e muita gente perdeu trabalho em indústrias da região, que voltou a contratar em janeiro deste ano, após 23 meses só demitindo.
Este ano começou um pouco inseguro, ainda amargando os impactos decorrentes do alto desemprego – 244 mil pessoas nas sete cidades – e da consequente queda nas vendas de veículos. Mas, no segundo semestre, as exportações dispararam em todo o País, atingindo volumes históricos, e as montadoras começaram a anunciar investimentos em suas plantas da região – que, juntos com o da Pirelli, somam R$ 8,3 bilhões até 2022 –, além de trazer novos modelos para cá, o que deu novo fôlego.
Com isso, as seis fabricantes (General Motors, Volkswagen, Ford, Mercedes-Benz, Toyota e Scania) que, inclusive, têm suas sedes brasileiras no Grande ABC, detiveram, por mais um ano, o título de carro-chefe da economia regional.
A primeira a anunciar investimento foi a General Motors, de R$ 1,2 bilhão, até 2020, para a modernização e continuidade de sua planta em São Caetano. No entanto, a companhia condicionou o aporte à retirada de direitos dos operários. Para que a unidade tivesse funcionamento garantido até 2028 – a expectativa era de vida útil, até então, de mais quatro anos –, foi necessário abrir mão de benefícios, como a redução do adicional noturno de 30% para 20% e ausência de reajuste neste ano, em troca de abono. Já em 2020, os contracheques terão 100% da inflação registrada no ano anterior, com prêmio de assiduidade para evitar faltas.
A empresa também abriu PDV (Programa de Demissão Voluntária) e demitiu em torno de 50 pessoas. Diante da baixa adesão, demitiu 385 trabalhadores após o fim do lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho), que vigorou por mais de dois anos.
Impulsionada pelas exportações, a Scania, que direciona a outros países cerca de 70% do que é produzido em São Bernardo, anunciou ainda no primeiro semestre o aporte de R$ 2,6 bilhões até 2020 para o desenvolvimento de produtos, além da modernização industrial e da rede de concessionárias. Adicionalmente, criou 500 postos de trabalho.
Em agosto, a Toyota concluiu ciclo de investimentos de R$ 70 milhões para revitalizar a planta são-bernardense e transferir a sede administrativa de São Paulo. Parte dele foi para construir o centro de visitas, que é uma espécie de museu da fabricante, que expõe modelos como o icônico Bandeirante, fabricado na região por 39 anos, até 2001. A partir de janeiro, é possível agendar visita ao local.
No mesmo mês, a Volkswagen divulgou aporte de R$ 2,6 bilhões até 2020 para produzir em São Bernardo o novo Polo e o sedã Virtus. Com a boa notícia, o terceiro turno, suspenso desde junho de 2015, foi retomado em outubro, o que favoreceu a reintegração de operários que estavam em lay-off e o total de afastados baixou de 687 para 167.
Ainda em agosto, a fabricante de pneus Pirelli, que passou a atender por TP Industrial do Brasil, anunciou aporte de R$ 80 milhões em sua planta de Santo André, e avisou que concluiu ciclo de investimento de R$ 30 milhões na linha agrícola da unidade. Ao todo, serão injetados R$ 110 milhões no local até 2019.
Perto de terminar investimento de R$ 530 milhões na planta são-bernardense iniciado em 2015, a Mercedes-Benz anunciou em outubro outro aporte, de R$ 2,4 bilhões, a ser partilhado com a unidade de Juiz de Fora (Minas Gerais) para melhorar a produtividade até 2022.
Em novembro, a montadora disse que realizaria horas extras dois sábados por mês até abril, a fim atender a demandas de clientes da Colômbia e de países localizados no Oriente Médio. E, neste mês, anunciou a contratação de 266 trabalhadores. O processo seletivo, inclusive, é para a área de logística e está aberto até 8 de janeiro.
Exceção
A Ford foi a única que não realizou investimento em São Bernardo neste ano, porém, em visita à planta de Camaçari (Bahia), o gerente do complexo industrial da Ford Nordeste, Silvio Illi, afirmou que novo ciclo de investimentos está sendo preparado pela montadora, sem detalhar quando e em quais unidades.
Em agosto, a companhia enviou telegrama a 364 trabalhadores, mas, após paralisação e acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, readmitiu 80 e abriu PDV para 294.
Reflexo
De acordo com dados do Boletim IndústriABC, divulgado pelo Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo e realizado em parceria com a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), os investimentos das montadoras contribuíram para reduzir a ociosidade das indústrias da região de 46% para 33%.
Isso significa que houve aumento no volume de pedidos. No entanto, o ideal é que o nível de atividade industrial, hoje em 67%, opere com 80% da capacidade instalada. Fica como missão para 2018. (Diário do Grande ABC/Soraia Abreu Pedrozo)