Estudos de universidade do Reino Unido e da USP comprovam malefícios das emissões veiculares

Diário do Transporte

 

Nesta segunda-feira estudos preliminares realizados pela USP já chamavam a atenção (novamente) para a gravidade dos efeitos provocados pela poluição veicular na cidade de São Paulo. Liderado pelo médico patologista Paulo Saldiva, o trabalho mede a quantidade de carbono no pulmão de corpos que foram levados ao Serviço de Verificação de Óbitos (SVO). O estudo de Saldiva investiga também a vida do paciente.

 

A conclusão é alarmante: quem respira o ar de São Paulo por duas horas no trânsito sofre o mesmo efeito provocado no pulmão de quem fuma um cigarro. Estendendo essa perspectiva ao longo de 30 anos, o cidadão que vive em meio ao trânsito da capital se equipara a um fumante que consome um pouco menos de dez cigarros por dia.

 

Nesta terça-feira um estudo divulgado no periódico científico médico “The Lancet” comprova a gravidade dos efeitos das emissões veiculares para a saúde das pessoas. Cientistas liderados por Fan Chung, do Imperial College London, estudaram e compararam o impacto na saúde de uma caminhada no centro de Londres realizada em dois ambientes distintos: na movimentada e poluída Oxford Street e no famoso Hyde Park, uma das principais áreas verdes da capital britânica.

 

A conclusão também é preocupante, principalmente para idosos que buscam na atividade física uma melhora para seu estado de saúde. O trabalho do Imperial College London comprovou: mesmo uma breve exposição a altos níveis de poluição atmosférica pode ser associada a endurecimento das artérias e pioras na função pulmonar. Em resumo, esse efeito negativo praticamente anularia os efeitos positivos trazidos pela atividade física. E esse problema se mostrou mais evidente ainda em pessoas que já tinham com problemas pulmonares.

 

Idosos e pessoas com doenças crônicas têm na caminhada seu único exercício possível em grandes cidades. Logo, os benefícios à saúde de uma caminhada nem sempre poderiam compensar o risco da poluição para o organismo, conclui o trabalho dos cientistas ingleses.

 

O médico Paulo Saldiva, no entanto, faz um reparo ao trabalho publicado no periódico The Lancet. Segundo ele, o estudo não levou em conta se as pessoas avaliadas voluntariamente tinham já o hábito de fazer caminhadas, nem onde ou com que frequência. Saldiva alega que outros estudos demonstraram que a prática regular faz o organismo se adaptar a condições ruins, extraindo daí alguns benefícios.

 

Saldiva ressalva que o estudo do Imperial College está certo quando aponta que para aqueles que não têm o costume habitual de se exercitarem, o prejuízo será grande ao se exporem à agressão de um ambiente poluído.

 

Ele resumo: continua sendo melhor praticar exercícios do que não fazer nada, mesmo em uma cidade poluída. O conselho, no entanto, é único: se afaste das avenidas e grandes vias de tráfego quando for se exercitar, para assim maximizar os benefícios e reduzir os malefícios.

 

Ou seja, o mesmo que descobriu o trabalho liderado por seu colega Fan Chung: caminhar sempre, mas em parques e outras áreas verdes, e bem longe de ruas movimentadas e com tráfego pesado de veículos.

 

Dados da ONU Meio Ambiente e da Organização Mundial de Saúde nos obrigam a pensar sobre as cerca de 7 milhões de pessoas que morrem por ano em decorrência de poluição do ar. Até porque mais de 80% das cidades têm níveis de poluição acima dos recomendáveis.

 

Respirar o ar de São Paulo é equivalente a fumar e tem impacto cumulativo, nos lembra a bióloga Mariana Veras, do Laboratório de Poluição do Ar da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) que participa do estudo liderado pelo médico patologista Paulo Saldiva. Portanto, enquanto investimentos no transporte coletivo, associados a políticas públicas ambientais, não forem levados a sério ´nas cidades brasileiras, o melhor a fazer é buscar proteção, bem distante do tráfego pesado e dos congestionamentos. (Diário do Transporte/Alexandre Pelegi)