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O avanço da indústria automobilística e a alta de 21,1% no crédito para veículos já impulsiona crescimento de 6,5% no seguro automóvel. Com renda ainda comprometida, porém, demanda deve migrar para produtos mais baratos e tende a ser obstáculo para o setor.
As coberturas de automóveis do setor já alcançaram mais de R$ 22,304 bilhões em arrecadação de janeiro a agosto, contra os cerca de R$ 20,936 bilhões no mesmo intervalo de 2016. Só em agosto, por exemplo, o total arrecadado foi de R$ 3,135 bilhões, aumento de 7,3% em relação ao mesmo mês de 2016, de R$ 2,921 bilhões.
“Duas coisas impulsionam o fôlego. Primeiro porque aqueles que saíram do mercado começam a voltar ao segmento e, segundo, porque o crédito para aquisição também acaba se ressaltando”, avalia o diretor de automóvel da Allianz Seguros, Pedro Pimenta, ressaltando, porém, ainda não houve um “equilíbrio” do volume de novas contratações de apólices em relação àquelas que venceram e saíram do setor.
As últimas informações do Banco Central, por sua vez, apontam aumento superior a 20% nas concessões totais de crédito para aquisição de veículos, de R$ 51,474 bilhões no acumulado de janeiro a agosto de 2016 para R$ 62,364 bilhões no mesmo período deste ano.
Na comparação de agosto de 2017 contra igual mês de 2016, a alta foi de 27,4% nas concessões totais da linha, de R$ 7,274 bilhões para R$ 9,266 bilhões.
Para o diretor-geral de automóvel da Porto Seguro, Luiz Pomarole, a redução da renda familiar ao longo da crise comprometeu a venda de coberturas tanto para carros usados quanto para os novos e, consequentemente, tiveram repercussão no preço para as novas contratações de produtos.
“A concentração da contratação está, principalmente, nos carros novos e seminovos, sendo 80% do total da frota segurada. Sem a venda de automóveis, o mercado sofre completamente e, a depender do aumento da criminalidade que a crise trouxer, isso também acaba tendo impacto nos sinistros e, consequentemente, nos preços”, explica o executivo.
Na mesma linha, os últimos dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) apontam que desde janeiro de 2014 – quando a crise começava a despontar – até agosto deste ano, os sinistros ocorridos subiram 9,3%, de R$ 1,294 bilhão para um total de R$ 1,415 bilhão.
“O aumento de roubos e furtos prejudica o mercado e, para alavancar, é preciso primeiro curar a ferida aberta”, afirma o o vice-presidente de produtos da Liberty Seguros, Paulo Umeki.
“O setor acabou ajustando preços mais adequados ao risco e fazendo análises específicas para trazer cobranças mais justas que garantissem a rentabilidade necessária”, explica o executivo.
Segundo Pimenta, da Allianz, o movimento de precificação alta, porém, tende a ganhar novos rumos, uma vez que os altos preços dos produtos também tem sido um impeditivo para o maior volume de novos entrantes.
“As pessoas não têm renda para manter o seguro e, mesmo com a percepção de melhora, os números ainda são tímidos demais. É natural que as pessoas financiem carros ou até comprem veículos endividados e, diante desse cenário de baixa renda para um médio prazo, fica impossível associar o orçamento a um custo de seguro que não é barato”, complementa o executivo.
Sinalização positiva
Assim, as projeções que alertam para um desemprego ainda alto em 2018 e para a baixa capacidade de pagamento são obstáculos para o mercado alcançar patamares anteriores e sinaliza uma potencial migração da demanda para os seguros mais enxutos e mais baratos.
“Só a venda de carros não vai ajudar o setor. Para reagirmos, os produtos alternativos precisarão ser de linhas mais baratas, com coberturas menores e sem assistência extra. É o caso também do auto popular”, diz Pomarole, da Porto Seguro – que também tem a Azul Seguros como uma de suas partes.
As normas da apólice do auto popular – voltada para veículos com mais de cinco anos e que permitiria o uso de peças usadas para reparos de colisões – está em avaliação pela Susep há mais de um ano e, segundo a própria superintendência, terá a solução final divulgada até o começo do mês que vem.
“Com a demanda voltada para produtos mais acessíveis, a indústria já se adaptou à estratégia de priorizar coberturas necessárias na oferta”, avalia Umeki, da Liberty e acrescenta que, mesmo com a “inércia da crise” ainda sentida, a expectativa do mercado é “bastante positiva” para o ano que vem.
Segundo Pimenta, mesmo com a eleição, a visão é de “um copo meio cheio” para 2018.
“Já esperamos uma boa recuperação mais visível e significativa para o segundo semestre de 2018, mas só voltaremos a alcançar um pouco dos níveis anteriores a partir de 2020. Tudo está associado à indústria e à renda familiar, mas a perspectiva já é bem mais otimista”, afirma o executivo da Allianz. (DCI/Isabela Bolzani)