DCI
Após amargar a 47ª colocação num ranking com 48 países no ano passado, a produção industrial brasileira subiu 11 posições em 2017, para o 36º lugar, segundo levantamento elaborado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) exclusivamente para o DCI.
A expansão da atividade no País foi de 1,7% até o mês de agosto, revertendo uma perda de 6,7% observada no consolidado do ano passado – quando o desempenho brasileiro só não foi pior que o da Islândia, que registrou um tombo de 9%.
Mesmo com a subida, o Brasil ainda está muito aquém de sua capacidade, até porque o parque do País é o nono maior do mundo, em termos de valor adicionado da indústria de transformação, de acordo com a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO).
“É uma evolução importante, mas insuficiente. Não estamos mais praticamente na lanterna, porém o nosso desempenho está abaixo da média mundial e dos países emergentes”, diz o economista do IEDI, Rafael Cagnin.
O avanço da produção industrial mundial, entre janeiro e julho, foi de 3,4%, enquanto as economias emergentes subiu 4,1% e as avançadas, 2,5%, conforme dados compilados pelo IEDI.
Segundo ele, os países que estão no topo da lista, como Letônia, Estônia, Romênia e Eslovênia, estão conseguindo aproveitar melhor o crescimento das transações de produtos industriais no mercado internacional este ano. “O volume de comércio deve ficar acima da expansão do PIB mundial pela primeira vez este ano desde a crise de 2008”, explica Cagnin.
Fora do fluxo
Uma das razões para o péssimo desempenho brasileiro está na pouca inserção internacional do País. Enquanto muitas economias se apoiam no comércio exterior para compensar momento de recessão, a indústria nacional conviveu com o pior dos mundos entre 2015 e 2016: recessão interna e falta de espaço no mercado global para seus produtos. Assim, o industrial não teve para onde correr e reduziu drasticamente seus investimentos nos últimos dois anos, para se adaptar ao desaquecimento da demanda, o que vai comprometer, por outro lado, a competitividade futura.
“Precisamos compensar as quedas da produção dos últimos anos e ainda criarmos condições de nos inserirmos nas novas fronteiras tecnológicas que estão em andamento no mundo, o que é essencial para ganharmos competitividade”, destaca. “Ninguém vai ficar parado esperando pelo Brasil”, acrescenta.
Fora o setor de automóveis, e sua cadeia, junto com as indústrias de celulose e extrativa, o restante das empresas fabris está praticamente fora do fluxo comercial global. Outro impacto perverso da crise é a falta de capacidade financeira para investir. “Após um longo período de dificuldades, as empresas estão sem reservas de lucros para investir. Então, a saída é recorrer aos empréstimos, que seguem com alto custo”, afirma o economista.
Ele diz ter preocupação ainda em relação à inserção de taxas de mercado (Taxa de Longo Prazo) em substituição aos juros subsidiados (Taxa de Juros de Longo Prazo) a partir de 2018. “Isso ainda é um tiro no escuro, já que não sabemos ainda como vão se comportar os empréstimos com essa alteração nas taxas”, justifica.
Gigantes
Apesar de registrar uma leve desaceleração em seu ritmo de crescimento nos últimos anos, a China segue como líder mundial da produção industrial, com uma fatia de 24,3%, seguido dos EUA (15,9%), Japão (8,7%), Alemanha (6,2%) e Índia (2,3%). A fatia do Brasil, no ano passado, era de 1,8%, ante 2,8% de 2005.
“Perdemos espaço na manufatura mundial, processo que foi acelerado com a recessão. Temos muitos custos, tributários, de infraestrutura e de capital muito mais altos que nossos competidores no exterior”. (DCI/Rodrigo Petry)