O Estado de S. Paulo
Após dois anos sem trégua nos cortes mensais de vagas, a indústria brasileira voltou a gerar empregos. O setor liderou a criação de vagas entre junho e agosto – o que é visto pelos economistas como um sinal concreto de que a recuperação econômica está se refletindo no mercado de trabalho.
A indústria é a terceira maior empregadora no País, atrás do comércio e do setor público. Dos 924 mil postos de trabalho criados entre junho e agosto, 40% vieram da área industrial. A retomada de contratações está sendo liderada principalmente pelos setores automotivo, têxtil, de calçados, de confecção, eletroeletrônico e químico/farmacêutico.
“Concretamente, há uma retomada da economia, que começou com a inflação caindo e, com isso, o salário real aumentou, gerando demanda por serviços e depois no comércio e, por último, na indústria”, diz José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos e professor da PUC-Rio. “O emprego acompanhou essa movimentação.”
Do início do ano para cá, a taxa de desemprego total do País caiu de 13,7% para 12,6%, mas o Brasil ainda tem 13,3 milhões de desocupados.
Pelas projeções de Camargo, até o fim do ano o porcentual de desempregados entre a população ocupada deve ficar em 11,5%. “A economia está se recuperando, o desemprego cai há seis meses, e a tendência é de melhorar ainda mais em 2018.”
Na indústria, o número de contratações vinha sendo negativo desde maio de 2015 e só passou a ser positivo a partir de abril deste ano, quando foram abertas 94 mil vagas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
O ano começou com o corte de 342 mil postos no setor industrial, mas, nos três meses encerrados em agosto houve uma inversão e foram criadas 365 mil vagas. O número se refere à diferença entre o total de empregados no setor neste ano em relação ao igual período de 2016, quando o saldo estava negativo em 1,4 milhão.
Água e vinho
Para o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin, a reação da indústria em relação ao emprego “mudou da água para o vinho”. Em sua opinião, é mais um indício da recuperação econômica, “que não está consolidada, mas caminha para isso”.
O emprego na indústria é comemorado por analistas pois, tradicionalmente, gera vagas formais, com mão de obra mais qualificada e envolve diversas cadeias produtivas.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considera, por enquanto, que há uma estabilidade no emprego no setor. “Dado o longo período de números negativos, o fato de ter parado de cair já é uma boa notícia”, afirma Marcelo Azevedo, economista da entidade.
O grupo Lorenzetti, com cinco fábricas em São Paulo e Minas Gerais que produzem itens como chuveiros, torneiras e aquecedores elétricos contratou recentemente 150 funcionários e outros 140 serão contratados até dezembro. Segundo o presidente da empresa,
Eduardo Coli, eles vão trabalhar em uma nova linha de produtos que será lançada em 2018.
O grupo emprega hoje 4,2 mil pessoas. “Colocamos o pé no freio nos investimentos no ano retrasado, mas começamos a desengavetar projetos e voltamos aos níveis pré-crise”, diz Coli.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, confirma que há um início de recuperação no setor, após uma queda expressiva de 3,5 mil postos em maio. Em junho, julho e agosto o saldo voltou a ser positivo e o quadro total está perto de 300 mil trabalhadores. “A expectativa é encerrar o ano com 305 mil a 310 mil funcionários”, diz ele.
A indústria têxtil, que emprega 1,5 milhão de trabalhadores diretos e indiretos, reverteu um saldo de 4.981 postos negativos de janeiro a agosto de 2016 para saldo positivo de 24.255 vagas no mesmo período deste ano. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)