Época Negócios
Junte ferramentas de big data, inteligência artificial, computação em nuvem, dados macroeconômicos e indicadores de concessionárias brasileiras. Cruze todos eles em uma única plataforma, refine os dados e crie previsões de vendas. Essa é a descrição da nova solução usada pela montadora alemã Mercedes-Benz para vender mais caminhões e vans no Brasil.
Desenvolvida pela Microsoft, a ferramenta reúne dados das concessionárias da Mercedes-Benz desde os anos 80 em todos os estados brasileiros. A empresa de software inseriu essas informações em uma plataforma de modo que elas pudessem ser cruzadas com dados macroeconômicos. O objetivo é passar a identificar de forma rápida e mais precisa a possível alta na demanda por veículos de um setor – seja da mineração, agricultura ou construção civil – em uma determinada região e saber onde, portanto, é mais eficaz concentrar os esforços de vendas. “Queremos melhorar nosso processo de decisões, acessando informações mais precisas, identificando o potencial de cada região do país e atuando de maneira mais integrada com as mudanças de mercado”, diz Ebru Semizer, gerente-sênior da Mercedes-Benz do Brasil. A plataforma, segundo a executiva, ajuda a montadora a controlar melhor os estoques e sua produção.
Um dos problemas internos da Mercedes-Benz até então era coletar e organizar todas as informações de seus revendedores em uma única base de dados, na qual fosse possível cruzar informações e realizar projeções. “A Mercedes queria ter uma fonte única para tomar decisões de forma mais precisa”, afirma Rodrigo Fatoreto, chefe do segmento automotivo na Microsoft Brasil. Segundo ele, a ferramenta demorou oito meses para ser desenvolvida, seis deles apenas dedicados à reunião e padronização de dados já existentes no banco da montadora. Após a chamada “raspagem”, entraram em cena as ferramentas de inteligência artificial e computação em nuvem para criar uma plataforma onde esses dados fossem “lidos” e cruzados com os indicadores macroeconômicos.
A solução foi desenvolvida exclusivamente para a operação brasileira e servirá de modelo para a implementação da tecnologia em outros países, segundo Semizer. Ela também servirá de case dentro da Microsoft, que tem olhado para além das telas dos computadores e tentado levar tecnologia para os processos internos de grandes corporações. É comum ouvir seus executivos falando em ajudar as empresas em uma “jornada digital”. Eles estão alinhados com aquilo que tem dito o CEO global da gigante de tecnologia, Satya Nadella. O executivo assumiu a Microsoft em 2014, sucedendo dois lendários presidentes: Bill Gates e Steve Ballmer.
Discreto e de poucas aparições, o engenheiro indiano mudou as prioridades a fim de reconquistar a relevância da empresa entre as gigantes de tecnologia. Nadella decidiu apostar fortemente em inteligência artificial e computação em nuvem. Na prática, deixar de ser uma empresa quadradona, vendendo não mais apenas Power Points, mas também novas ferramentas que possam levar as companhias a melhorar sua produtividade. Como a própria presidente da empresa no Brasil, Paula Bellizia, disse em entrevista à Época NEGÓCIOS: “Eu vendo nuvem, é o que faço na Microsoft”. Na presidência da empresa desde 2015, a executiva diz que sua missão é conectar o maior número possível de companhias e pessoas com os serviços e os data centers da Microsoft.
A parceria com a Mercedes-Benz é um exemplo prático desta nova estratégia. A plataforma desenvolvida para as concessionárias deve se desdobrar nos próximos meses em soluções específicas para a cadeia produtiva e processos internos de gestão da companhia, segundo Fatoreto. (Época Negócios/Barbara Bigarelli)