Renault dá um “tapa na cara” da Fiat

Jornal do Carro

 

Carro popular não tem mais vez no Brasil, certo? Errado! Se for um carro popular com preço de popular, tem sim. E é esta a lição que a Renault deu na Fiat com o Kwid.

 

Em setembro, primeiro mês cheio de vendas do Kwid, o carrinho ocupa a segunda posição no ranking de vendas. Trata-se de uma das estreias mais avassaladoras dos últimos tempos.

 

O carro de R$ 30 mil pode estar tendo um resultado exagerado, fruto do processo de pré-venda forte. Ainda assim, mostra, logo de cara, todo o seu potencial, e a força que o segmento de modelos extremamente populares ainda tem no Brasil.

 

A verdade é que os últimos modelos verdadeiramente de entrada lançados no País não vieram com preços de carro de entrada. Eles são Up! e Mobi.

 

É verdade também que o Up! é bem superior ao Mobi e ao Kwid. Já o Mobi, meus caros, foi o maior erro da Fiat nos últimos tempos (veja aqui o maior acerto).

 

E não pelo produto em si. É verdade que, no comparativo com o Kwid, ele levou uma verdadeira surra. Porém, com um preço mais atraente, a disputa teria sido bem mais equilibrada.

 

O problema do Mobi, portanto, não é a qualidade do produto. Boa não é. É de carro popular. O preço é que é o maior problema. Ele não é de carro popular.

 

Entenda o erro de trajetória do Mobi

 

Quando começaram a circular os primeiros rumores sobre a chegada do Mobi, o que se dizia era: é o Fiat de R$ 25 mil. Fontes com forte ligação com a Fiat confirmaram recentemente: ele foi mesmo planejado para ser o carro de R$ 25 mil. O preço planejado era de R$ 26 mil, na verdade.

 

O Mobi vinha para inaugurar o novo segmento de populares no Brasil: o de carros verdadeiramente baratos, algo que hoje é raro por aqui.

 

E por que a Fiat mudou de ideia? Foram os custos? Foram mudanças no cenário macroeconômico brasileiro? Nada disso.

 

Segundo as mesmas fontes, o que ocorreu foi uma tentativa de mudança de posicionamento da marca no Brasil. A Fiat, que teve seus anos de glória no País com foco no segmento de carros populares, hoje não quer ser mais popular.

 

E isso faz sentido. Inclusive, já debatemos muito essa ideia aqui. O mercado brasileiro hoje é menor, mas o consumidor está comprando modelos com maior valor agregado. Não é à toa que carros caros avançaram no ranking.

 

O Argo, muito bom e bem equipado, veio para marcar essa virada da Fiat, e com a meta de ser o carro mais vendido da marca. Talvez, a montadora consiga essa inversão.

 

No entanto, o que não faz sentido é mudar a estratégia feita para um produto no processo de lançamento. Em vez de R$ 26 mil, o Mobi foi lançado por mais de R$ 30 mil. Hoje, parte de quase R$ 35 mil.

 

As concessionárias Fiat ficaram bastante perdidos com o Mobi. Às vésperas do lançamento, eles foram treinados para vendê-lo como um carrinho urbano focado em um consumidor descolado, carrinho com certa sofisticação. Algo como o 500.

 

Mas o Mobi não é um 500, não é um carrinho urbano descolado. Ele é popular. Tão popular quanto o Kwid.

 

A estratégia não convenceu o consumidor. O carro teve um primeiro ano sofrível em vendas, muito abaixo da meta da Fiat, que era de 6 mil unidades por mês.

 

O ano de 2016 foi bem difícil para a fabricante. Era um período de total mudança na linha, e o Mobi deveria segurar as vendas no período. Não conseguiu. No ano passado, a marca ficou sem produto importante, além da Toro.

 

Os próximos passos 

 

O 2016 ruim da Fiat teve consequências. O Argo não foi um sucesso imediato. Porém, aos poucos, parece que vai caindo no gosto do povo. Em setembro, pela primeira vez, ele deverá aparecer na lista dos dez mais vendidos.

 

Ainda é pouco, para um modelo que foi lançado para concorrer com os líderes, mas é um avanço. Acredito que aos poucos o Argo conseguirá dar bom volume à Fiat, e contribuir com a estratégia de mudar de posicionamento e se vender como montadora de veículos mais sofisticados.

 

No entanto, o Kwid mostrou que a estratégia do Mobi foi um imenso equívoco. O carro, agora, até vai bem em vendas, mas suportado pelo atacado, que responde por cerca de 60% de seus emplacamentos. Não dá para falar, portanto, que caiu no gosto do consumidor.

 

Se tivesse sido lançado pelos planejados R$ 26 mil, provavelmente teria cativado o brasileiro. Estaria sendo lançado pela marca especialistas em populares para ser o carro mais barato do Brasil.

 

Com o Kwid, a Renault prova que, ao contrário do que previu a Fiat, ainda há espaço sim para o carro popular no Brasil. E que o Mobi poderia ter sido um pioneiro, não a decepção em que acabou se transformando. (Jornal do Carro)