“Carro de rico” virou “carne de vaca”

Jornal do Carro

 

O ‘carro de rico’ não é mais como antigamente. Mudanças pelas quais passou o mercado brasileiro nos últimos dez anos causaram uma mudança de patamar. Para ter um verdadeiro ‘carro de rico’, o consumidor precisa investir bem mais que antes. Isso porque alguns veículos com preços até R$ 150 mil (ou um pouco mais) viraram figurinhas fáceis nas ruas da cidade.

 

Em outras palavras, esses carros viraram ‘carne de vaca’, especialmente em metrópoles como São Paulo. Eles não são mais sinônimos de exclusividade.

 

Recentemente, estava conversando com uma conhecida, que trabalha com joias. Frequentemente, ela usa o carro para transportar suas mercadorias.

 

Por isso, quando foi comprar seu veículo, queria um modelo discreto. Perguntei se havia comprado um popular, no estilo do Onix ou HB20, por exemplo. Ela respondeu que não: havia comprado um HR-V. Não qualquer HR-V, e sim a versão EXL, de R$ 103 mil.

 

Para a minha interlocutora, o HR-V era tão comum, mas tão comum de se ver nas ruas, que certamente ela passaria despercebida nas ruas.

 

Durante o último mês, circulei bastante com um Compass Trailhawk a diesel, carro cujo preço ultrapassa os R$ 150 mil. Recebi poucas olhadas, e estou certa de que os poucos que tiveram suas atenções despertadas pelo carro foram atraídos pela cor, um azul bem berrante.

 

Fato é que carros como Compass, HR-V, Corolla e até a Toro estão vendendo tanto, mas tanto, que deixaram de ser objeto de admiração. Por mais que tenham preços altos, já não são mais aqueles carros que quem não tem chama de ‘carro de rico’.

 

Há outros exemplos

 

E exemplos de marca de luxo. Quem quer ter um Audi, BMW ou Mercedes, entre outros, para gerar a admiração, precisará fugir de modelos como Q3, GLA, X1, Classe C e Série 3, por exemplo.

 

Esses carros, que estão entre os mais acessíveis das montadoras (embora custem mais de R$ 140 mil nas versões básicas) não dão mais status de sucesso aos seus donos. Eles são comuns demais nas ruas para despertarem olhares de admiração.

 

Hoje, para ter um carro que é sinônimo de sucesso pessoal, o consumidor tem de investir bem mais. Mais de R$ 200 mil, pelo menos. E olha que tem carro nessa faixa que não garante o status, heim. Exemplos: Evoque, da Land Rover. É lindo, as pessoas adoram, mas virou “carne de vaca”.

 

Mudanças de panorama: as razões 

 

São pelo menos três os fatores que levaram às mudanças no conceito de ‘carro de rico’. Em primeiro lugar – por mais que isso pareça esquisito – está a queda no poder aquisitivo do brasileiro.

 

Os carros mais caros, na comparação com cinco anos atrás, não estão vendendo mais, em volume (na maioria dos casos). Eles ganharam, na verdade, participação de mercado.

 

E se o carro ganha participação de mercado, ele ganha participação nas ruas também.

 

Quem adquiria carros mais populares perdeu poder de compra. Isso ocorreu tanto pela queda no poder aquisitivo quanto pela redução na oferta de financiamento, essencial para esses clientes.

 

Em segundo lugar, está a proliferação dos SUVs compactos. Antes, utilitário-esportivo era carro de rico. Agora, não mais. Chegaram ao mercado modelos mais acessíveis, e mais variados.

 

Mais pessoas podem comprar um utilitário-esportivo. Isso não significa que qualquer pessoa pode adquirir um modelo do segmento. Descartando alguns chineses, esses veículos custam pelo menos R$ 70 mil. Os mais desejados giram em torno de R$ 100 mil, em suas versões mais vendidas.

 

Mas SUV, que era de rico, virou de classe média. A classe média compra esses carros sem parar. Então, eles se proliferam nas ruas do Brasil.

 

Por fim, houve uma ofensiva das marcas de luxo entre os anos de 2013 e 2015. Enquanto o mercado afundava, Audi, BMW e Mercedes-Benz vendiam entre 15 mil e 20 mil carros ao ano, o melhor resultado de suas histórias no País.

 

Isso ocorreu porque as marcas, em fase de instalação de suas fábricas no Brasil, precisavam adquirir volume de vendas. Por isso, adotaram estratégias de preços agressivas, o que acabou causando uma proliferação de seus modelos mais acessíveis nas ruas do Brasil.

 

Agora, a folia acabou, e enquanto o mercado começa a esboçar sinais de recuperação, as marcas de luxo continuam caindo. Os carros vendidos naquela época, porém, continuam circulando. (Jornal do Carro/Rafaela Borges)