DCI
Ainda que o mercado brasileiro esteja no radar das montadoras chinesas, as duas maiores fabricantes do país, Saic e a Dongfeng, têm negócios na América Latina, mas não vendem no Brasil.
A estratégia é diferente da adotada por marcas de menor porte na China, que estabeleceram negócios no Brasil nos últimos anos. Só em julho de 2017, último dado disponível, as chinesas filiadas à Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa) – JAC, Lifan, Geely, Chery e BYD – venderam 3.607 unidades no País. Pelas regras do programa Inovar-Auto, empresas com produção local ou comprometidas com projetos desse tipo podem importar veículos sem uma sobretaxa de 30 pontos percentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Na China, diante de um mercado doméstico que absorve mais de 20 milhões de automóveis por ano, as maiores fabricantes de veículos parecem dedicar menos esforços às exportações para as economias em desenvolvimento. A Saic, número um em produção e vendas naquele país, ingressou no mercado externo somente em 2014 e estabeleceu escritórios no Oriente Médio, América do Sul e Austrália, além de centros de distribuição de peças nessas regiões e na Ásia. O plano é acumular conhecimento sobre mercados externos e gradualmente formar uma rede que atue desde a fabricação até o pós-venda, com a meta de atingir uma receita de 40 bilhões de iuanes (cerca de R$ 20 bilhões) com a operação no fim de 2020, dizem os executivos da companhia.
Em automóveis, a montadora trabalha com as marcas Roewe para o mercado doméstico e MG para o externo. Na América Latina, optou por entrar primeiro no Chile, em 2014. Hoje, já vende também no Peru, Colômbia, Panamá, Costa Rica, República Dominicana e Bolívia. O volume, porém, ainda é pequeno: no primeiro semestre de 2017, foram 2.030 unidades. A meta é chegar a 10 mil por ano até 2020.
“O Chile é um mercado maduro, com muitas marcas, inclusive chinesas. Lá, o consumidor pode receber bem uma nova marca chinesa”, diz o diretor de Vendas e Marketing da Saic International, He Jiajia, demonstrando prudência. “Esperamos primeiro desenvolver mais conhecimento sobre o cliente para então pensar em estabelecer uma fábrica na América Latina”, completa.
A companhia faz 880 automóveis por dia só na fábrica de Linkan, em Shanghai, uma das 14 bases domésticas. Com um market share de 22,5% na China, vendeu mais de 6,49 milhões de veículos em 2016.
A lista das cinco maiores chinesas tem ainda a Dongfeng, com market share de 15,7%, Faw (11,6%), Changan (11,3%) e Baic (10%).
A Dongfeng vendeu no total 4,28 milhões de unidades em 2016, a maior parte na China. É a número dois em automóveis e caminhões naquele país. O segmento comercial foi o escolhido para ingressar no mercado brasileiro, diz o diretor Ya Mingjin, em Wuhan, capital da província de Hubei, onde fica a sede da Dongfeng.
Ya conta que, há dois anos, a companhia firmou contrato com uma importadora brasileira para preparar a entrada de um caminhão. Agora está em negociação o primeiro veículo de passageiros, um SUV.
“São modelos produzidos na China. O governo brasileiro tem especificações muito rígidas”, diz o executivo, que ainda aguarda sinal verde das autoridades locais para começar a oferecer os veículos no País.
Embora tenha se estruturado para exportar antes que a Saic, a Dongfeng também tem presença tímida no mercado externo, com 70,8 mil unidades embarcadas em 2016. A meta para este ano é 75 mil.
Na América Latina, o principal mercado da Dongfeng é o Chile, com vendas anuais de 5,5 mil veículos. A companhia também vende caminhões no Peru e Argentina.
Sobre os projetos para a região, há planos para instalar uma linha de montagem em regime CKD (montagem de componentes produzidos em outro local) no México e outra no Mercosul (Brasil ou Argentina), até 2020, diz Ya, sem adiantar mais detalhes. (DCI/Adriane Castilho)