Diário do Transporte
A licitação dos transportes da cidade de São Paulo que teria de ser realizada ainda na gestão de Fernando Haddad, em 2013, deverá incorporar uma metodologia que cobre custos maiores do sistema e aumenta a remuneração dos empresários de ônibus.
Nesta segunda-feira, 21, a ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos apresentou um novo modelo de planilha para definir os valores das passagens de ônibus que considera mais custos para operação dos serviços e pode aumentar as tarifas.
Estão no item Remuneração de Serviços Prestados gastos como investimentos em bilhetagem eletrônica, centrais de controle operacional nas garagens, Arla 32 (um fluido usado para os motores com a atual tecnologia poluírem menos) e até riscos como congelamento de tarifas, inadimplência da prefeitura quanto a repasses de subsídios e até ataques e incêndios a ônibus.
A nova planilha que servirá como base para todos os municípios brasileiros que quiserem adotar a nova metodologia foi elaborada pela ANTP com a participação de técnicos, das empresas de ônibus reunidas na NTU – Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos e de secretários de transportes de diversas cidades, entre eles, Sérgio Avelleda, que comanda a pasta na gestão do prefeito João Doria.
Avelleda disse ao Diário do Transporte, durante o lançamento da planilha, que a cidade de São Paulo estará alinhada com a metodologia que pode ser incluída integralmente ou parcialmente na licitação dos serviços da capital paulista que, com quase 15 mil ônibus e 9 milhões de passageiros por dia (considerando as integrações) é o maior sistema de transportes coletivos sobre pneus do mundo.
“Nós estamos muito alinhados com a ANTP porque boa parte da equipe que produziu esta planilha veio da SPTrans (São Paulo Transporte , gerenciadora do sistema da capital) e evidentemente que nós pretendemos a partir de agora incorporá-la. Não é automático, mas ela a planilha deverá ser o rumo que vamos dar na análise dos custos dos transportes, porque não é simplesmente a definição do reajuste, é uma nova fórmula de calcular o custo do serviço do transporte público. É bastante provável que esta planilha esteja integralmente ou com alguns elementos na licitação dos transportes das cidade de São Paulo” – disse Avelleda.
Ao considerar custos maiores, muitos dos quais estavam embutidos já na remuneração de capital das empresas e não eram revelados, a forma de cálculo pode levar também a tarifas maiores.
Durante a apresentação da nova planilha, a ANTP mostrou simulações para diferentes perfis de sistemas de ônibus. Para grandes sistemas, com frota acima de 1671 ônibus (São Paulo tem 14,7 mil) a nova metodologia calcula custos 10,65% maiores que a atual planilha que serve de base para a maior parte das cidades brasileiras.
Entretanto, o secretário Sérgio Avelleda diz que não precisa haver necessariamente uma relação entre a metodologia que incorpora novos custos e tarifas de ônibus mais caras para os passageiros.
“Depende de como se estava calculando seu custo anteriormente. Ela (a nova planilha) não é um fator que aumenta ou diminui a tarifa por si própria, mas vai retratar uma nova fórmula de calcular que pode ser que incorpore elementos que não estavam sendo contados antes e isso pode determinar ou uma tarifa maior ou menor. A gente não consegue saber a priori”.
Rede da madrugada
O Diário do Transporte mostrou em primeira mão nesta segunda-feira que a prefeitura de São Paulo estuda uma maneira de reduzir os custos da rede de transportes da madrugada. Segundo a SPTrans, enquanto o custo por passageiro nos horários convencionais é de R$ 2,57, na rede da madrugada para transportar esse passageiro o sistema gasta R$ 7,57. Uma das alternativas estudadas pela prefeitura é aumentar os intervalos dos ônibus no período da meia noite às 4 horas da manhã, que hoje é de 15 minutos nas linhas estruturais que circulam entre os terminais e 30 minutos nas linhas locais dos bairros. Relembre:
Sérgio Avelleda disse que a nova planilha pode ajudar a calcular de forma mais precisa os custos da rede de transportes, inclusive da rede noturna.
“A planilha pode ajudar a mensurar melhor os custos de todo o sistema de transportes. A rede da madrugada em São Paulo é contratada de uma forma diferente da rede diurna. A contratação é por partida, por ônibus, como se fosse um regime de fretamento. A planilha pode ajudar a revelar melhor os custos. O desafio da rede da madrugada hoje é o seu financiamento. Passageiro transportado na madrugada é muito mais caro que o passageiro transportado durante o dia. É preciso melhorar esta relação garantindo a oferta, mas melhorando a taxa de cobertura desse serviço.”
A planilha apresentada pela ANTP tem o objetivo, segundo a entidade, de oferecer mais transparência sobre os custos dos transportes públicos e também durante as definições de novas tarifas.
A metodologia também visa atualizar a planilha do Geipot – Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes, hoje Empresa Brasileira de Planejamento de Transporte, que foi publicada em 1983 e revisada em 1991, 1994 e 1996.
Grande parte das cidades brasileiras usa esta planilha do Geipot.
Os técnicos que participaram da elaboração da nova planilha disseram ao Diário do Transporte que pode haver reajustes de tarifas, mas que a metodologia também aponta custos que podem ser reduzidos. Quanto aos riscos, também afirmaram que se não ocorrerem, o dinheiro vai para as empresas de ônibus integralmente se tornando lucro, mas que a fórmula procura buscar um equilíbrio entre os diversos riscos de negócio e operação. Relembre:
https://diariodotransporte.com.br/2017/08/21/cidades-brasileiras-devem-adotar-nova-planilha-de-tarifas-de-onibus-que-preve-custos-maiores/ (Diário do Transporte/Adamo Bazani)