Estepe temporário gera economia sem comprometer segurança

O Estado de S. Paulo

 

O pneu do seu carro furou e, ao abrir o porta-malas para pegar a peça reserva, uma surpresa: ela é bem mais fina que as quatro com que o veículo roda normalmente. Não foi erro da fabricante: seu carro veio com um estepe de uso temporário.

 

Esse recurso surgiu como uma solução para resolver vários problemas de uma vez. Um pneu mais fino custa menos, permitindo repassar essa economia ao preço final do veículo. É mais leve, o que facilita a troca pelo consumidor e traz uma redução de peso que favorece o desempenho. Além disso, ocupa menos espaço, o que dá mais liberdade na concepção do projeto, tornando viável um modelo com pouca capacidade para bagagem.

 

Por outro lado, esses estepes podem até ter diâmetro semelhante ao dos demais pneus, mas as características de rodagem não são idênticas. Por isso, eles são paliativos a serem usados até que se possa concluir o trajeto e encontrar uma oficina – daí o uso temporário.

 

As fabricantes indicam os limites seguros de velocidade e de distância a se percorrer com as rodas sobressalentes mais finas. Em geral, elas são indicadas para trechos de até 80 km, a não mais de 80 km/h.

 

No Brasil, o tema foi regulado pela Resolução 540 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) em 2015 e ainda em vigor. Ela permite o uso de estepes com largura diversa dos demais pneus, desde que o diâmetro externo seja o mesmo, os sulcos tenham mais de 1,6 mm de profundidade e as peças possam ser alojadas no veículo sem atrapalhar os ocupantes.

 

Durante o processo de homologação, a montadora deverá assegurar que eles não afetam a segurança do veículo em termos de dirigibilidade, velocidade e capacidades de carga e tração. Cabe à empresa, ainda, especificar a velocidade em que o motorista pode rodar.

 

Além disso, no caso dos pneus do tipo run flat, que podem rodar mesmo após furos, a marca deve fornecer um produto selante e um compressor de ar, que permitam ao motorista fazer o reparo provisório do pneu danificado.

 

Reviravolta 

 

Os estepes de uso temporário, porém, podem deixar de ser permitidos no País. Os deputados Pompeo de Mattos (PDTRS) e Fábio Mitidieri (PSD-SE) apresentaram projetos que impõem que todos os veículos novos sejam vendidos com cinco pneus idênticos.

 

A pena para o fabricante que descumprir a norma é de 10% do valor do veículo.

 

Um desses projetos já foi aprovado pela Comissão de Defesa do Consumidor, mas ainda precisa passar por outras comissões da Câmara, pelo Senado e pelo crivo do Presidente.

 

A justificativa dos dois projetos é no sentido de que os pneus reservas de uso temporário beneficiariam apenas as montadoras, e os interesses do consumidor precisam ser protegidos.

 

Especialistas dizem, porém, que o emprego desses estepes não oferece risco ao usuário.

 

“As montadoras fazem os testes na velocidade limite prevista para esses pneus e não há diferença no desempenho dos sistemas eletrônicos, nem na capacidade de tração do carro”, afirma o professor Roberto Bortolussi, do departamento de engenharia mecânica da FEI. “Esses pneus já são usados no Japão, na Europa e nos Estados Unidos há muito tempo”.

 

O coordenador técnico do Cesvi Brasil, Gerson Burin, também diz que os pneus temporários são seguros, desde que as recomendações do fabricante sejam seguidas à risca. “Os sistemas eletrônicos do automóvel são capazes de compensar eventuais diferenças de aderência do pneu com o solo, garantindo a segurança, dentro do limite de velocidade estabelecido no manual do veículo”. (O Estado de S. Paulo/Thiago Lasco)