Empréstimos do BNDES têm queda de 20% até julho

O Estado de S. Paulo

 

Os valores liberados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para empréstimos já aprovados continuaram ladeira abaixo. Em julho, o banco de fomento liberou R$ 6,712 bilhões, uma queda real de 23% ante igual período de 2016, já descontada a inflação. No acumulado do ano, os desembolsos somaram R$ 40,372 bilhões, queda real de 20% na comparação com os sete primeiros meses de 2016.

 

O BNDES reconheceu que os dados refletem “o quadro econômico de baixa demanda por crédito para investimentos dos últimos dois anos”, mas, olhando para “sinais positivos”, ressaltou que os desembolsos retratam a demanda do passado. Em comunicado ontem, o banco informou que “a expectativa é de recuperação gradual da demanda por recursos do BNDES até o fim do ano”.

 

Entre os sinais positivos, o BNDES destacou os valores liberados para a Finame, linha de crédito automática para financiar a compra de bens de capital, que ficaram em R$ 11,039 bilhões até julho, alta nominal (sem descontar a inflação) de 10% ante igual período de 2016. Significa que houve alta real, dada a desaceleração da inflação.

 

“Somente em julho, a Finame desembolsou R$ 2,3 bilhões, o que representou crescimento de quase 90% em relação ao mesmo mês do ano passado. O desembolso mensal da Finame vem acelerando desde maio, quando registrou a primeira alta (11%) na comparação com o mesmo mês do ano anterior desde setembro de 2014”.

 

O economista Mário Bernardini, consultor da Abimaq, entidade que representa a indústria de máquinas e equipamentos, disse que os dados do setor mostram estagnação, apesar de uma demanda reprimida por investimentos em renovação de maquinário. A exceção são os fabricantes de máquinas agrícolas, cuja demanda cresceu na esteira da supersafra de grãos.

 

Investimento

 

Os financiamentos para projetos de investimento na indústria somaram R$ 9,047 bilhões no acumulado do ano até julho queda de 43% na comparação com o mesmo período 2016.

 

As aprovações de novos financiamentos caíram ainda mais: o acumulado de janeiro a julho, de R$ 7,119 bilhões, é 62% abaixo, em termos nominais, do registrado nos sete meses do ano passado. A baixa nas aprovações significa que menos projetos estão chegando. Da mesma forma, o desembolso para projetos do setor de comércio e serviços somou R$ 8,577 bilhões até julho, queda nominal de 17% ante 2016.

 

“Há uma queda global da demanda por investimentos. Ninguém está investindo”, afirmou Bernardini. Em sua visão, o cenário econômico ofereceria apenas duas saídas para o crescimento. O primeiro são as exportações, mas elas não decolam porque o câmbio não favorece. O segundo são os investimentos em infraestrutura, mas as concessões ao setor privado também não decolam.

 

Nem mesmo os investimentos estrangeiros diretos, que estão em alta, ajudam muito, segundo Bernardini, porque grande parte está direcionada para aquisições de empresas. “Muda o dono, mas o investimento é o mesmo”, disse o consultor. (O Estado de S. Paulo/Vinicius Neder)