O Estado de S. Paulo/The New York Times
Há três anos, gigante dos chips Intel parecia ser uma mera espectadora na corrida do Vale do Silício para desenvolver carros autônomos. Afinal, o Google zunia à frente, produzindo carros autônomos de design próprio e acumulando milhões de quilômetros em test drives. A Uber, serviço de aplicativo para caronas, o seguia de perto. A Tesla introduziu o modelo de piloto automático para os seus carros elétricos, usando tecnologia da empresa israelense Mobileye.
Mesmo nos microchips, sua força, a Intel enfrentava dificuldades para alcançar a rival Nvidia, cujos processadores super-rápidos atraiam as montadoras devido à sua capacidade de fundir imagens de câmeras e sensores de radar para detectar obstáculos. Agora, porém, a Intel aposta que pode remodelar o cenário competitivo com a aquisição da Mobileye, fabricante de câmeras, sensores e software que permitem aos carros detectar o que há à frente.
Com o negócio de US$ 15,3 bilhões, fechado na última terça-feira, 8, a Intel ganha credibilidade porque a Mobileye já fornece tecnologia para a maior parte das grandes montadoras e é líder em áreas como mapeamento digital e sensores. “A Intel tem agora um grande impacto em todas as partes de um carro autônomo, os cérebros, os sensores, o setor de informação, o mapeamento”, disse Mike Ramsay, analista da Gartner que acompanha o desenvolvimento de carros autônomos. “Claramente, a aquisição coloca a Intel na cena. Garante que ela está neste mercado”.
A Mobileye continuará com a sede em Israel e seu cofundador Amnon Shashua vai liderar toda a atividade de carros autônomos da Intel. O outro fundador, Ziv Aviran, está saindo da Mobileye para concentrar-se em outra empresa que criou, a OrCam, que cria equipamentos de visão artificial que permitem às pessoas com deficiência visual compreenderem textos e identificarem objetos.
Caso sério
A Intel anunciou sua intenção de comprar a Mobileye em março. As duas empresas têm trabalhado com a BMW em carros autônomos e são sócias da Delphi Automotive, fornecedora de software e avançados eletrônicos automotivos.
Grandes investimentos e aquisições completas são cada vez mais notáveis na corrida pelo desenvolvimento do carro sem motorista. A Ford anunciou em fevereiro que iria investir US$ 1 bilhão na Argo, uma startup de inteligência artificial, concentrada em carros sem motorista. E no ano passado a General Motors adquiriu outra empresa de software do setor, a Cruise Automation.
Na terça-feira, a Cruise anunciou que havia desenvolvido um aplicativo de carona compartilhada para carros sem motorista que estavam sendo testados por seus funcionários nas ruas de São Francisco.
As associações nem sempre tiveram um rumo tranquilo. O aplicativo Cruise pode levar a GM a um conflito com o serviço de carona Lyft, um parceiro estratégico. E no ano passado, uma ruptura pública manifestou-se entre a Mobileye e a Tesla depois de um homem de Ohio morrer na Flórida ao dirigir um Modelo S da Tesla com piloto automático acoplado. Shashua disse publicamente que a Mobileye não estava satisfeita com a forma como a Tesla estava usando sua tecnologia. A Tesla desde então, começou a equipar seus carros com câmeras e hardware de projeto próprio.
Primeiros passos. A Intel e a Mobileye pretendem demonstrar a força de suas aptidões combinadas nos próximos meses construindo uma frota de teste de 100 veículos sem motorista.
“Essa é a nossa forma de apresentar a tecnologia para que ela possa ser demonstrada não só para as montadoras como para a sociedade e os responsáveis pelas regulamentações,” disse em entrevista Shashua, que se tornará vice-presidente sênior da Intel.
Carros para testes serão mandados primeiro para Arizona e depois para Jerusalém, um ambiente desafiador com ruas estreitas e motoristas agressivos. “Se você conseguir dirigir de forma autônoma em Jerusalém, você pode dirigir praticamente em qualquer parte do mundo”, disse Shashua.
Tal frota dará à Intel algo para rivalizar com a divisão de carros autônomos do Google, agora chamada Waymo. Durante o ano passado, a Waymo montou uma enorme frota de teste, usando minivans feitas pela Fiat Chrysler Automobiles, e os está operando em várias cidades. A Uber realiza testes em Pittsburgh e a General Motors, a Ford e outras montadoras tradicionais criam suas próprias frotas para testes.
Ao mesmo tempo, a combinação de Intel e Mobileye começará a funcionar com um novo sistema de direção autônoma que combina chips da Intel e tecnologia da Mobileye. Shashua disse que o novo sistema será duplamente mais poderoso que o atual produto da Mobileye baseado em seu processador EyeQ5.
O sistema incluirá vários componentes fundamentais para um carro autônomo – câmeras, capacitação para processamento de imagens, microprocessadores e tecnologia de mapeamento, assim como o software que determina como reagir a situações na direção, frente a pedestres e a outros veículos, conhecido como “política de direção”.
A tecnologia será projetada para permitir que as montadoras acrescentem seus próprios softwares de direção autônoma. “Os fabricantes de carros vão querer estampar suas próprias características no sistema, como querem que ele se pareça e como querem que dirija”, disse Brian M. Krzanich, principal executivo da Intel. (O Estado de S. Paulo/The New York Times/Tradução de Claudia Bozzo)